96% dos brasileiros defendem prova obrigatória para médicos recém-formados, aponta Datafolha

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Uma pesquisa realizada pelo Datafolha, a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM), e publicada nesta quarta-feira (27) pela Folha de S.Paulo, revelou que 96% dos brasileiros acreditam que médicos recém-formados devem ser aprovados em um exame de proficiência antes de começarem a atender. O levantamento ouviu 10.524 pessoas em 254 municípios de todo o país. A margem de erro é de 1 ponto percentual, para mais ou para menos.

Segundo o estudo, 92% dos entrevistados acreditam que a aplicação do exame aumentaria a confiança da população no atendimento médico. Apenas 4% disseram que a medida reduziria a confiança, 3% afirmaram que não haveria impacto e 1% não soube opinar.

População quer avaliação para todos os recém-formados

O levantamento também mostra que 98% dos brasileiros defendem que todos os médicos recém-formados sejam submetidos ao exame, independentemente da instituição de ensino. Apenas 2% acreditam que a avaliação deveria ser aplicada somente a profissionais formados no exterior.

A proposta está alinhada ao projeto de lei em tramitação no Senado desde 2024, de autoria do senador Marcos Pontes (PL-SP), que cria o Exame Nacional de Proficiência em Medicina. O objetivo é verificar se cada médico recém-formado possui competências mínimas necessárias para exercer a profissão e, assim, obter o registro no CRM (Conselho Regional de Medicina).

CFM defende medida diante da explosão de cursos

O CFM tem sido um dos principais defensores do exame. Para a entidade, a medida é uma resposta ao “crescimento descontrolado” do número de cursos de medicina no país nas últimas décadas. O Brasil passou de cerca de 100 cursos no início dos anos 2000 para mais de 400 atualmente.

Segundo Alcindo Cerci, coordenador da comissão de ensino médico do CFM, “muitas escolas foram instaladas sem a mínima infraestrutura adequada, sequer com hospitais capazes de receber estudantes em regime de internato”.

Para o presidente do CFM, José Hiran Gallo, o resultado da pesquisa mostra que “o brasileiro quer mais qualidade e segurança nos serviços de saúde”. Segundo ele, a prova vai avaliar competências profissionais e éticas, além de conhecimentos teóricos e habilidades clínicas, com base em padrões reconhecidos internacionalmente.

“A aprovação da medida no Congresso é fundamental para elevar o padrão educacional, pois obriga as escolas médicas a se adequarem às exigências do exame e garante que os recém-formados tenham nível adequado de competência para exercer a profissão”, afirma Gallo.

Contexto: Enamed e novas regras do MEC

O debate sobre a qualidade da formação médica ocorre em paralelo à implementação do Enamed (Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica), criado pelo Ministério da Educação (MEC) e que será aplicado pela primeira vez em 19 de outubro de 2025.

Diferente do exame de proficiência proposto, o Enamed tem como objetivo principal avaliar os cursos de medicina e servirá também como critério de seleção para programas de residência médica.

De acordo com o MEC, a partir de 2026, faculdades que obtiverem conceito 1 ou 2 no Enamed passarão por supervisão estratégica e poderão ter:

  • Redução no número de vagas para ingresso;
  • Suspensão de novos contratos do Fies e do Prouni;
  • Em casos mais graves, proibição de novas matrículas.

O que esperar daqui para frente

Com o apoio expressivo da população e a pressão crescente por qualidade na formação médica, o projeto do Exame Nacional de Proficiência ganha força no Congresso. Caso seja aprovado, a expectativa é que o exame se torne uma exigência para todos os recém-formados, garantindo que apenas profissionais com a qualificação mínima necessária possam atuar.

Djon Machado

Djon Machado

Professor da Medway. Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com Residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Siga no Instagram: @djondamedway