Durante os intensos anos de formação, o estudante de Medicina não está apenas absorvendo informações técnicas; ele também incorpora valores que serão a pedra angular de sua prática profissional. Nesse contexto, o Código de Ética do estudante de Medicina surge como um documento orientador.
Ele delineia comportamentos, deveres e responsabilidades, além de servir como bússola moral e profissional para aqueles que estão em formação.
Em nosso texto, vamos desvendar o que esse código representa, discutir seus principais pontos, destacar as diferenças em relação ao Código de Ética Médica (CEM) e responder a dúvidas frequentes sobre o tema. Despertou seu interesse? Então, não pare! Continue a leitura e tire suas dúvidas!
O Código de Ética do estudante de Medicina é um conjunto de diretrizes e recomendações que norteia as atitudes e comportamentos dos futuros médicos ainda em formação.
Embora os estudantes não estejam plenamente inseridos no exercício clínico e na tomada de decisões complexas do ambiente hospitalar, o código enfatiza a importância de construir desde cedo uma postura ética, baseada em princípios como o respeito, a responsabilidade e a empatia. Esse documento tem dupla finalidade:
Em geral, ele é elaborado por instituições de ensino, associações acadêmicas e, por vezes, em consenso com órgãos representativos da comunidade médica.
Mesmo que ele não possua força de lei, seu caráter orientativo e formativo é oficial dentro do ambiente acadêmico, servindo como referência para a conduta esperada dos estudantes de Medicina ao longo do curso.
Durante a graduação, os estudantes são expostos a situações reais — seja através de estágios, internatos ou atividades práticas — onde as decisões podem impactar diretamente a vida dos pacientes. Alguns pontos que justificam a obrigatoriedade de seguir um Código de Ética são:
Ao conhecer e aplicar os princípios éticos, o estudante aprende a agir de forma ponderada e responsável, mesmo em contextos que podem causar insegurança ou dúvida.
A formação ética precoce ajuda a identificar e evitar atitudes que possam prejudicar tanto o paciente quanto a credibilidade da instituição de ensino e do futuro profissional.
O respeito à dignidade humana, a transparência e a empatia são pilares da relação médico-paciente. Ao internalizar tais valores desde a formação, o estudante se prepara para construir relações baseadas na confiança.
O ambiente hospitalar e a convivência com colegas e professores expõem os estudantes a dilemas éticos que exigem respostas rápidas e bem fundamentadas.
Embora ambos os códigos compartilhem a mesma base moral, que é o compromisso com a saúde, a dignidade do paciente e a prática responsável da Medicina, existem diferenças importantes entre o Código de Ética do estudante de Medicina e o Código de Ética Médica (CEM):
O Código de Ética do estudante de Medicina é direcionado a alunos e residentes, cujo foco está em absorver conhecimentos e desenvolver condutas éticas no ambiente acadêmico e nas primeiras experiências clínicas.
Já o CEM é voltado para profissionais já graduados, que exercem a prática médica de forma autônoma e integral, tendo responsabilidades mais amplas e complexas na condução do atendimento e na tomada de decisões.
Enquanto o código estudantil enfatiza comportamentos e atitudes em ambientes controlados, como universidades e hospitais de ensino, o CEM abrange todas as nuances da prática médica, inclusive aquelas que envolvem a publicidade, regulamentações específicas de sigilo e conflitos de interesse que podem aparecer em contextos mais amplos e diversificados.
As infrações cometidas por estudantes geralmente resultam em medidas pedagógicas ou administrativas com vistas à reeducação e correção de comportamentos.
Por outro lado, violações do CEM, no âmbito dos profissionais de Medicina, podem acarretar sanções mais severas, como advertências formais, suspensão ou até a perda definitiva da licença médica.
A formação ética do estudante é vista como um processo formativo, onde os erros podem ser compreendidos como oportunidades de aprendizado.
No ambiente profissional, entretanto, a prática médica exige uma postura completamente madura e consolidada, onde falhas éticas podem comprometer não apenas a carreira do profissional, mas até mesmo a vida dos pacientes atendidos.
O Código de Ética do estudante de Medicina estabelece um conjunto de deveres e responsabilidades que visam garantir não só o aprendizado, mas também o desenvolvimento de uma conduta ética e profissional apropriada:
A participação do estudante de Medicina no atendimento a pacientes deve ocorrer dentro de um ambiente altamente supervisionado e regulamentado. Geralmente, as condições que permitem essa prática incluem:
Toda atividade prática envolvendo pacientes deve ocorrer sob a orientação de médicos e mestres que possam intervir e corrigir possíveis erros, confirmando a segurança e o bem-estar do paciente.
Frequentemente, a atuação do estudante se dá em unidades de atendimento básico ou em hospitais de ensino, onde os casos são acompanhados de perto e os procedimentos são menos complexos do que aqueles realizados por profissionais totalmente formados.
Mesmo em ambientes de formação, é preciso que o paciente esteja ciente da presença do estudante e do nível de autonomia que este possui durante o atendimento.
Há procedimentos que só podem ser realizados por profissionais devidamente habilitados. Assim, o estudante deve sempre observar os limites de sua competência, comunicando suas dúvidas e buscando apoio quando necessário, evitando colocar em risco a saúde do paciente ou comprometer a própria formação.
Mesmo em uma fase de aprendizado e formação, o estudante de Medicina deve estar atento a comportamentos que, se não forem corrigidos, podem resultar em graves consequências para o ambiente acadêmico e para a saúde dos pacientes.
Falhas na atenção ao paciente, atrasos em procedimentos e a omissão de cuidados básicos, como a higienização adequada, configuram negligência.
Decisões que priorizem ganhos pessoais ou que sejam influenciadas por fatores externos, como recompensas financeiras ou pressão de grupos, podem desviar o estudante do seu real compromisso com o cuidado do paciente.
A manutenção do sigilo profissional é um dos pilares da relação médico-paciente e sua quebra pode causar danos irreparáveis à confiança e à reputação da instituição e do próprio estudante.
Ainda que os estudantes não detenham autoridade plena, comportamentos que impliquem pressão excessiva sobre pacientes, colegas ou professores são considerados antiéticos.
O comportamento antiético pode se manifestar na forma de discriminação, bullying ou desvalorização do trabalho em equipe, atitudes que vão contra os princípios de equidade e solidariedade.
A violação do Código de Ética por um estudante de Medicina, mesmo durante a fase de aprendizado, é tratada com seriedade pelas instituições de ensino.
Geralmente, as infrações cometidas por estudantes são avaliadas por comissões internas ou pelos setores de ética das instituições de ensino.
Dependendo da gravidade da conduta, podem ser aplicadas medidas que variam desde orientações e advertências até suspensões temporárias ou outras restrições que visem corrigir o comportamento inadequado.
Violações reiteradas ou graves podem afetar o desempenho acadêmico e até mesmo comprometer a continuidade do estudante no curso.
Mesmo que a violação ocorra em um ambiente de aprendizagem, ela pode deixar marcas indeléveis na trajetória do estudante e ser utilizada como parâmetro para futuras contratações e especializações.
O histórico comportamental é um item de análise nos processos seletivos de residências médicas e demais oportunidades profissionais.
Em casos onde haja denúncias formais, seja por parte de pacientes, familiares ou colegas, inicia-se um processo de sindicância que pode envolver a investigação detalhada dos fatos e a aplicação de sanções conforme as normas internas da instituição.
As instituições, cientes de que o processo formativo envolve erros e acertos, costumam oferecer suporte psicológico e pedagógico para que o estudante possa compreender a gravidade do ocorrido, repensar seu comportamento e adotar medidas de autoaperfeiçoamento.
O Código de Ética do estudante de Medicina é, sem dúvida, uma ferramenta valiosa para a formação de um profissional comprometido com a excelência técnica e, sobretudo, com os princípios humanos da prática da Medicina.
Ao seguir essas diretrizes, o estudante não apenas se protege de possíveis infrações éticas, mas também contribui para a criação de um ambiente acadêmico e clínico onde o cuidado ao paciente, o respeito à dignidade humana e a integridade na conduta profissional sejam privilégios inegociáveis.
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Cofundador e professor da Medway, formado pela Faculdade de Medicina de Catanduva (FAMECA) e com Residência em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP). Siga no Instagram: @mica.medway