Colite pseudomembranosa: conheça o quadro clínico

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A colite pseudomembranosa, também conhecida como colite relacionada aos antibióticos, é uma doença inflamatória colônica causada pela bactéria Clostridioides difficile. O C. difficile é um gram-positivo anaeróbio, produtor das toxinas A e B, ambas com potencial de levar à lesão da mucosa colônica e diarreia, geralmente em pacientes hospitalizados. 

Geralmente, essa bactéria habita nosso trato gastrintestinal como comensal, sem produzir suas toxinas. Porém, quando há alguma perturbação da flora intestinal (leia-se uso de antimicrobianos de amplo espectro), há espaço para o C. difficile proliferar e iniciar a produção de suas toxinas.

Portanto, na sua fisiopatologia costuma ocorrer uso recente de antibióticos de amplo espectro antes do início do quadro clínico.

Virtualmente, qualquer antibiótico pode levar à colite pseudomembranosa, porém o principal é a clindamicina, um antibiótico bacteriostático com ação contra anaeróbios. 

Confiram a seguir uma tabela com os principais antimicrobianos implicados nessa patologia:

Frequentemente associadosOcasionalmente associadosRaramente associados
Clindamicina
Fluoroquinolonas
Penicilinas de amplo espectro (Ex: Piperacilina+Tazobactam)
Cefalosporinas (2ª-4ª gerações)
Carbapenêmicos
Macrolídeos
Penicilinas de espectro estreito (Ex: amoxicilina)
Cefalosporinas (1ª geração)
Bactrim
Aminoglicosídeos
Tetraciclinas
Metronidazol
Vancomicina
Nitrofurantoína
Tigeciclina
Antimicrobianos que podem induzir diarréia por C. difficile e colite. Fonte: adaptado de Clostridioides difficile infection in adults: epidemiology, microbiology, and pathophysiology, UpToDate, 2023

Além do uso de antibióticos, outros fatores de risco para a colite pseudomembranosa são a idade > 65 anos e o uso indiscriminado de IBP (ex: omeprazol, pantoprazol) sem indicação em pacientes internados.

Quadro clínico

As manifestações clínicas são amplas, variando de pacientes assintomáticos até a colite fulminante com megacólon tóxico.

A manifestação principal é a diarreia líquida, associada a dor abdominal. Geralmente,  separamos os casos em doença leve/moderada, doença grave e doença recorrente, conforme demonstrado a seguir:

  • doença leve/moderada: diarreia líquida (≥ 3 episódios/24h) associada a dor abdominal baixa, febre baixa, náuseas e anorexia. Pode vir associada à muco nas fezes e perda de sangue microscópica, porém melena e hematoquezia são raras.
    • Na maioria dos casos, esse quadro ocorre em um paciente que está em vigência de antibioticoterapia ou que usou antibióticos nas últimas 2 semanas. Porém, alguns casos já foram registrados até 10 semanas após o uso do antimicrobiano.
    • Nos exames laboratoriais, encontra-se leucocitose, geralmente < 15.000/dL.
  • doença grave/fulminante: também com diarreia líquida e dor abdominal ,porém com sintomas sistêmicos mais exuberantes, como febre alta, hipovolemia, acidose lática, hipoalbuminemia, disfunção renal e leucocitose importante, geralmente > 16.000/dL. Pode evoluir para megacólon tóxico, quando o paciente apresenta sinais de toxemia associados a dilatação importante do cólon (> 7 cm), com alto risco para perfuração.
  • doença recorrente: definida pela resolução dos sintomas da colite pseudomembranosa com o tratamento, seguida de reaparecimento dos sintomas entre 2-8 semanas após o tratamento ser interrompido. Ocorre em até 25% dos pacientes e, uma vez que tenha ocorrido uma recorrência, o paciente tem maior risco de apresentar novas recorrências. 
    • Os principais fatores de risco para recorrências são: idade > 65 anos, doenças graves concomitantes e necessidade de continuar o tratamento antimicrobiano enquanto a colite está sendo tratada.

Esse é o quadro clínico da colite pseudomembranosa 

Basicamente, esses são os diferentes quadros clínicos apresentados pelos pacientes infectados pelo C. difficile. A principal marca é o uso atual ou recente de antimicrobianos, sendo necessário suspeitar desta doença sempre que um paciente internado inicia um quadro de diarreia.

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No próximo post abordaremos o diagnóstico da colite pseudomembranosa.

Vamos lá?

Referências Bibliográficas

  1. KELLY, Ciarán P. LAMONT, Thomas. BAKKEN, Johan S. Clostridioides difficile infection in adults: Clinical manifestations and diagnosis. © 2023 UpToDate, Inc. and/or its affiliates.
  2. KELLY, Ciarán P. LAMONT, Thomas. BAKKEN, Johan S. Clostridioides difficile infection in adults: Epidemiology, microbiology, and pathophysiology. © 2023 UpToDate, Inc. and/or its affiliates.
  3. Colleen R. Kelly, MD. ACG Clinical Guidelines: Prevention, Diagnosis, and Treatment of Clostridioides difficile Infections, 2021.

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