Como lidar com o medo de não dar conta da residência médica

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Você estudou durante anos, abriu mão de fins de semana, feriados e momentos com a família. Sobreviveu ao internato, enfrentou horas e horas de prova, passou pela ansiedade do resultado… e finalmente chegou lá: foi aprovado! Mas agora, ele entrou em cena: o medo da residência médica.

Assim que a comemoração acaba, veio aquele peso da realidade. “Será que vou dar conta?” “E se eu não for bom o suficiente?” “E se eu cometer um erro?” Essas perguntas, que começam baixinho, podem crescer e se tornar uma angústia diária para muitos residentes. A insegurança de falhar, de não corresponder às expectativas, de descobrir que não era bem aquilo.

Neste artigo, vamos mostrar que esse medo é mais comum do que parece, e, o mais importante, que ele pode ser enfrentado. Você não precisa estar sozinho nessa! Bora lá conferir algumas dicas que vão te ajudar a chegar mais longe com muito mais tranquilidade?

Entenda que o medo na residência médica é normal

O medo da residência médica não é sinal de fraqueza e nem sinal de que você não vai dar conta. É, na verdade, um reflexo do quanto essa etapa é significativa para você. Trata-se de um novo ciclo, com novas responsabilidades e, muitas vezes, com uma carga emocional e física maior do que qualquer outra que você tenha enfrentado até aqui.

Quem entra na residência está, em sua maioria, saindo diretamente da graduação. Ainda não houve tempo para maturar a prática médica, ganhar confiança com pacientes ou assumir, de fato, decisões clínicas relevantes. É como ser jogado em alto-mar após aprender a nadar na piscina: por mais que você saiba a teoria, ainda precisa se adaptar à força das ondas.

Insegurança no começo é comum

Não importa se você foi o melhor aluno da turma, se passou de primeira na prova da residência ou se demorou alguns anos até conquistar essa vaga tão sonhada. A insegurança aparece para todos, e, na verdade, ela costuma ser uma das primeiras “companheiras” que surgem no início da residência.

Isso acontece porque, de repente, você se vê inserido em um ambiente totalmente novo, onde tudo parece diferente: os fluxos do hospital, os protocolos institucionais, os sistemas de prontuário, as rotinas da equipe multiprofissional, as cobranças dos preceptores, a dinâmica entre os residentes mais antigos e os casos clínicos complexos que, até pouco tempo atrás, só existiam nas apostilas ou nos simulados.

Mais do que isso, você está lidando com vidas reais. As decisões que antes eram apenas raciocínios em sala de aula agora têm impacto direto na saúde e no bem-estar de alguém. Essa responsabilidade pode parecer esmagadora no começo e é natural que, diante disso, você sinta que não está preparado o suficiente ou que não tem controle total da situação. E está tudo bem.

A maioria dos residentes passa por isso. Sentir-se assim não quer dizer que você escolheu a profissão errada ou que não tem vocação! Significa apenas que você está crescendo, saindo da zona de conforto e enfrentando uma curva de aprendizado íngreme, como toda formação de excelência exige.

Comparações com colegas nem sempre são justas

Durante a residência, é comum se comparar com os colegas. Alguns parecem dominar os casos com facilidade, responder todas as perguntas da preceptoria e manter a calma diante das urgências. Mas é preciso lembrar que cada pessoa tem uma trajetória diferente.

Muitos residentes já passaram por estágios extracurriculares, trabalharam antes de entrar na residência ou simplesmente têm mais facilidade com determinados temas. Comparar-se constantemente só alimenta a frustração e esconde seus próprios avanços.

Olhe para o seu próprio progresso. Lembre-se de onde você começou, o que já aprendeu e o quanto tem se dedicado. Isso é o que importa!

O sentimento de inadequação pode atingir qualquer um

Você já ouviu falar da “síndrome do impostor”? É quando a pessoa, mesmo tendo competências e conquistas reais, sente que não pertence ao lugar onde está — como se, a qualquer momento, alguém fosse descobrir que ela não é tão boa quanto aparenta.

Esse sentimento é comum na residência médica, especialmente nos primeiros meses. Mas ele não reflete a realidade. Você passou por um processo seletivo difícil, está se esforçando todos os dias e tem plenas condições de crescer.

Reconhecer que esse sentimento existe e que ele atinge até os profissionais mais experientes é um passo importante para enfrentá-lo.

Dicas para lidar com essa nova etapa

Não existe fórmula mágica para lidar com o medo na residência médica. Afinal, este é mesmo um período desafiador, de intensa formação. Mas há atitudes que podem ajudar você a atravessar esse momento com mais equilíbrio e segurança. Confira as dicas!

Cuide de sua saúde mental e física

É tentador colocar todas as suas energias na residência, mas lembre-se: um médico esgotado não consegue cuidar bem dos outros — e nem de si mesmo. Priorizar o descanso, alimentar-se bem, manter alguma atividade física e, se possível, reservar momentos de lazer, são cuidados básicos que fazem muita diferença.

Não negligencie a saúde mental. Se sentir que o medo está te paralisando ou te impedindo de viver bem, procure ajuda profissional. Psicólogos e psiquiatras especializados em saúde de médicos podem ser grandes aliados nessa fase.

Lembre-se: pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem e responsabilidade. Ninguém merece ter um burnout por tentar passar por tudo sozinho, não é mesmo?

Organize sua rotina de forma realista

É fácil se perder em meio a plantões, aulas, estudos e atividades pessoais. Por isso, organizar a rotina é essencial, mas essa organização precisa ser realista.

Evite sobrecarregar seu dia com metas inalcançáveis. Prefira planejar blocos de estudo menores, com foco em qualidade, e mantenha algum espaço livre para imprevistos e descanso. Use ferramentas como agendas, aplicativos ou métodos de produtividade que funcionem para você.

Ter clareza sobre seus compromissos e objetivos ajuda a reduzir a ansiedade e a sensação de descontrole.

Você não precisa saber tudo

Um erro comum entre residentes é acreditar que já deveriam saber tudo, até porque, “agora sou médico”. Mas a verdade é que a residência é justamente o momento para aprender, errar (com supervisão), perguntar e se desenvolver.

Não tenha vergonha de admitir que não sabe algo. Aproveite a experiência dos preceptores, dos colegas mais antigos, da equipe multidisciplinar. Demonstrar humildade e interesse pelo aprendizado é uma das maiores virtudes que você pode ter nessa fase.

Relembre seus motivos

Nos dias difíceis, e eles virão, é fundamental se reconectar com o propósito que te trouxe até aqui. Por que você escolheu essa especialidade? O que te motiva a seguir na Medicina? Que tipo de médico você quer se tornar? Voltar a essas perguntas é um exercício poderoso para recuperar o fôlego e manter a direção, mesmo quando tudo parece confuso ou pesado demais.

Guardar esses motivos em algum lugar visível, escrever cartas para si mesmo, manter um diário de bordo ou até colar frases inspiradoras no espelho do banheiro pode ajudar a não perder de vista aquilo que realmente importa. São esses lembretes que funcionam como âncoras emocionais em meio ao caos da rotina.

Quando o cansaço pesar, quando você duvidar da sua capacidade ou sentir vontade de desistir, olhar para essas respostas pode ser o impulso que faltava para continuar. Entender o seu “porquê” te ajuda a resistir, crescer e transformar cada obstáculo em aprendizado.

Dê tempo ao tempo

Você não vai se sentir seguro logo no primeiro mês. Nem no segundo. E tudo bem. A construção da identidade médica é um processo — e leva tempo.

Permita-se viver cada etapa, aceitar os altos e baixos e aprender com os erros. Aos poucos, você vai perceber que sabe mais do que imaginava, que domina situações que antes te assustavam e que cresceu, mesmo sem perceber.

Seja gentil com você mesmo. A residência é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. E você está, sim, preparado para ela.

Por fim, tenha em mente que o medo da residência médica é legítimo e mais comum do que você imagina. Ele nasce da responsabilidade que você carrega, do desejo de fazer o melhor e da incerteza diante de um mundo novo.

Mas esse medo não precisa te paralisar. Ele pode ser compreendido, enfrentado e transformado em força. Com autoconhecimento, apoio, organização e gentileza consigo mesmo, é possível atravessar a residência de forma mais leve, consciente e resiliente.

Você não está sozinho nessa jornada. Muitos já passaram por esse mesmo medo e saíram mais fortes do outro lado. E você também vai conseguir!

É isso aí! Agora você já sabe como controlar o medo da residência médica

Enfim, como você viu, não tem uma receita pronta. Para perder o medo da residência médica, ou pelo menos controlar a sensação nos primeiros meses, é preciso testar essas dicas, ver o que funciona e, é claro, confiar no seu potencial (que a gente sabe que é grande)!

No mais, continue sempre a se preparar e a se atualizar, porque isso faz muita diferença no processo, já que as novidades não param de chegar tão cedo. Inclusive, você pode sempre acessar nosso blog para conferir mais novidades, informações sobre a residência e consultar artigos que com certeza vão te ajudar muito ao longo do seu caminho de estudos!

Alexandre Remor

Alexandre Remor

Foi residente de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) de 2016 a 2018. É um dos cofundadores da Medway e hoje ocupa o cargo de Chief Executive Officer (CEO). Siga no Instagram: @alexandre.remor