Hoje vamos falar sobre o Método Clínico Centrado na Pessoa. Você ainda não sabe como melhorar a efetividade das consultas? Então, este texto vai te ajudar com isso. E aí, tá preparado? Então, basta continuar a leitura com a gente! Vamos lá!
Há quem diga que a consulta é um setting e tem um roteiro a ser seguido. Há quem não siga modelos e esteja em uma busca constante por uma maneira própria de fazer medicina. São muitas possibilidades!
O fato é que a relação entre um médico e uma pessoa é uma atividade central na medicina e merece nossa atenção. Não estamos aqui para dizer como é certo e errado, mas esperamos que, ao fim da leitura, você tenha conhecido uma estratégia que busca bom manejo do cenário e organização da consulta médica.
Um conceito geralmente esquecido entre os médicos é que, em uma consulta, existem dois especialistas. Isso mesmo: devemos lembrar que o médico é o especialista detentor do conhecimento técnico, entendedor dos exames e medicamentos.
Ok, mas e o outro? O outro é o especialista nele mesmo. Os pacientes são as pessoas que mais detêm o conhecimento sobre si próprios. E em geral, as pessoas constroem sentimentos e ideias sobre seus problemas.
Será que sempre atingimos a expectativa do nosso paciente durante nossas consultas? Nos dias atuais, em que há mais acesso à informação e busca por autonomia, o modelo paternalista, no qual o médico assume um papel de decidir pelo doente, cai por terra.
Em muitos locais de atendimento, o profissional possui apenas 15 minutos para realizar a consulta. Sendo assim, por que não utilizar do conhecimento do paciente para otimizar seu tempo e melhorar a qualidade e resolutividade dos atendimentos?
Embora existam vários modelos para o desenvolvimento de uma consulta, com pontos fortes e limitações, o Método Clínico Centrado na Pessoa, conhecido como MCCP, é um favorito, especialmente entre os médicos de família.
O MCCP envolve uma investigação integrada e apropriada das queixas de pessoas que sentem, experimentam dores e sensações, do físico ao psicossocial. E você deve se perguntar: toda consulta não é centrada na pessoa?
Pode parecer básico demais, mas em geral, as consultas têm como enfoque central a doença. Uma doença de uma pessoa, você deve estar pensando. Sim, é verdade. Mas o MCCP é uma construção ampla da relação médico-paciente.
E para ser verdadeiramente centrado na pessoa, o médico precisa ser capaz de dar poder a quem divide a consulta com ele.
É muito importante dizer que o Método Clínico Centrado na Pessoa não minimiza as competências técnicas do médico, pelo contrário, é um dos aspectos que garante a confiança nessa relação. A construção do vínculo, embora seja uma habilidade técnica, permite afetividade e cumplicidade.
Se você quer ficar por dentro de como o Método Clínico Centrado na Pessoa é na prática, acompanhe os tópicos abaixo e entenda como tudo funciona. Bora!
Aqui, precisamos definir “disease” e “illness”. Compreender que saúde é um conceito subjetivo e individual, e que doença (disease) e experiência da pessoa com essa doença (illness) são coisas diferentes é fundamental para a prestação de um cuidado integral efetivo.
Certamente você já vivenciou na sua prática médica pessoas assintomáticas com doenças graves que não se sentem doentes e pessoas assintomáticas e sem doenças, mas que se sentem muito doentes.
Quando exploramos a experiência da doença, estamos menos propensos a investigar desnecessariamente alguma patologia, realizar tratamentos inadequados, entre outras potenciais iatrogenias.
Dica: pergunte ao seu paciente: “o que mais está preocupando você?” Faça questionamentos abertos e deixe a pessoa falar sem interrupções por cerca de 2 minutos. Com isso, obterá praticamente tudo que precisa saber para manejar o problema daquela consulta. Em quanto tempo interrompemos nosso paciente?
Ferramenta adicional: SIFE (Acrônimo para explorar a experiência da doença. Sentimentos, Ideias, Funcionamento de vida, Expectativas). Vale a pena ler mais sobre esse assunto.
Esse componente pode ser resumido em uma palavra: integralidade. A continuidade do cuidado é uma aliada nesse sentido. Aos poucos, o médico de família passa a conhecer a pessoa, a família, as crenças, e todo o entorno que influenciam o cuidado. Com todo esse conhecimento, é possível prevenir e dimensionar problemas inerentes às etapas do ciclo de vida.
Dica: busque entender em que ponto do ciclo vital essa pessoa e essa família estão. Construa um genograma.
Ferramenta adicional: genograma. Elemento visual muito bacana de ser usado continuamente. É dinâmico e permite planejamento de intervenções.
Muitas vezes ficamos frustrados, pois os pacientes relutam às nossas condutas. Não entendemos a dificuldade de seguir uma receita. Aos hiperutilizadores então, recaem muitas denominações.
Pois bem: a não adesão pode ser só a manifestação de uma discordância sobre o plano de tratamento. E discordância, aqui, não se refere ao embasamento técnico do paciente para discordar do médico.
Trata-se, na verdade, de um plano de cuidados cujas possibilidades não foram discutidas e esclarecidas em conjunto. Portanto, não fará sentido para a pessoa que irá executar.
Dica: busque definir um problema a ser manejado. Entender que seus sintomas têm um nome ajuda a pessoa a compreender o processo.
Não podemos confundir os conceitos. Relação remete a relacionamento terapêutico. Na continuidade do cuidado, buscar trabalhar em conjunto em prol de melhorias. Cada contato pode ser usado para construir a relação entre a pessoa e o médico. Para se aprofundar nisso, sugiro destrinchar um pouco sobre “transferência e contratransferência”.
Dica: Não precisamos de consultas longas para construir relacionamento terapêutico. Ao contrário, embora possa parecer vantajoso, consultas longas não necessariamente são produtivas. O tempo deve ser administrado conforme a necessidade de cada caso.
Finalmente, é possível melhorar a efetividade das consultas com o MCCP? Vamos falar de resultados.
Um estudo conduzido por Zolnierek e DiMatteo (2009) avaliou 106 estudos sobre as variáveis de comunicação e o resultado da adesão das pessoas, e mais 21 estudos sobre o treinamento para a comunicação e os resultados para a saúde.
Os 106 estudos concluíram que havia um risco 19% maior de não adesão das pessoas cujo médico era um mau comunicador.
Agora você sabe mais sobre o Método Clínico Centrado na Pessoa! Então, confira outros conteúdos que publicamos aqui, no blog. Eles foram feitos especialmente para você mandar bem no seu plantão e ficar por dentro dos mais variados assuntos.
Além disso, se deseja conferir mais conteúdos de Medicina de Emergência, conheça a Academia Medway. Por lá, são disponibilizados diversos e-books e minicursos completamente gratuitos para auxiliar no seu aprendizado.
Gusso G, Lopes JMC. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2019.
Stewart M, Brown JB, Weston WW, McWhinney IR, McWilliam CL, Freeman TR. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
Zolnierek KB, DiMatteo MR. Physician communication and patient adherence to treatment: a meta analysis. Med Care. 2009; 47(8): 826–34. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19584762/
Capixaba desde 1992. Formada pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Residência em Medicina de Família e Comunidade pelo querido Conça (Grupo Hospitalar Conceição), no Rio Grande do Sul. Residente em Cuidados Paliativos também pelo GHC. Trocar experiências amplia e ultrapassa qualquer fronteira. Ensinar é aprender junto! Entusiasta de cuidado e de pessoas!