Bom, pra gente finalizar então, depois de entender o que é, quais sintomas estão presentes e como eu faço o diagnóstico, vamos falar sobre o tratamento do volvo gástrico!
Como muitos já devem imaginar, o tratamento é “paciente na mesa e bisturi na mão” (um momento muito feliz para os residentes da cirurgia geral).
A cirurgia é escolhida basicamente para evitar complicações futuras. E as principais que queremos nos esquivar com a cirurgia são a estrangulação e necrose tecidual, que podem ser ameaçadoras à vida e ocorrem na sua maioria em torções organoaxiais.
Caso essas complicações levem a perfuração, o paciente pode evoluir com sepse de foco abdominal e colapso cardiovascular, podendo ser um quadro fatal.
Os quadros agudos são considerados emergências cirúrgicas, e devem ser operados o mais rápido possível. Enquanto o paciente aguarda, deve ser tentado uma descompressão por sonda nasogástrica, o que pode acabar distorcendo o estômago de forma espontânea.
Mas mesmo assim o paciente tem que ir para o centro cirúrgico para avaliação do tecido gástrico, pois se houver presença de isquemia intensa e necrose, parte ou o todo o estômago devem ser retirados.
Além disso, deve ser feita fixação do estômago para que o volvo não se repita e também a correção de possíveis anormalidades anatômicas, como as hérnias diafragmáticas.
Não há estudos comprovando se via laparoscópica é superior a cirurgia aberta, porém ambas podem ser feitas a depender da situação clínica do paciente (lembrem-se que pacientes instáveis não são submetidos a cirurgia por vídeo).
Pacientes com alto risco cirúrgico podem realizar endoscopia, que vai rotacionar o estômago de volta a sua posição habitual e prosseguir com uma gastrostomia percutânea para fixar o órgão. Ou, se possível, a endoscopia pode ser feita para ganhar tempo para estabilizar o paciente e tornar ele candidato a cirurgia aberta após.
Quadros crônicos
Já os quadros crônicos são tratados com cirurgias eletivas, sendo a maioria por videolaparoscopia. O procedimento cirúrgico é semelhante ao quadro agudo, com rotação para posição habitual do estômago e fixação do mesmo.
A descompressão gástrica deve ser mantida no pós-operatório até comprovação de funcionamento intestinal. Outras medidas importantes no prognóstico pós-cirúrgico são a fisioterapia respiratória e deambulação precoce (tudo isso faz parte do protocolo ERAS sobre manejo de paciente no pós-operatório.)
E é isso galera, espero que tenham aproveitado os textos sobre essa patologia e aprendido sobre o assunto! Se formos resumir o tratamento do volvo gástrico em três partes seria: descompressão, redução e prevenção de recorrência.
Vale ressaltar que a mortalidade de volvo de estômago que não passa por cirurgia chega a ser de 80%, sendo a principal causa de morte o estrangulamento do órgão, que pode causar isquemia, necrose e até perfuração.
Continuem estudando e nos encontramos em breve! Ah, e se quiser conferir mais conteúdos de Medicina de Emergência, dê uma passada na Academia Medway. Por lá, disponibilizamos diversos e-books e minicursos completamente gratuitos.
Até a próxima!
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Médica pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro com residência em Cirurgia Geral pela Unifesp.