Prevenção da dengue: tudo que você precisa saber

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Fala, pessoal! O assunto de hoje é prevenção da dengue. Afinal: o que é a dengue? A Dengue é uma arbovirose que dá origem a uma doença infecciosa causada pelo vírus pertencente ao gênero Flavivirus e transmitida por meio da picada do mosquito pertencente ao gênero Aedes

O vírus possui quatro tipos presentes no Brasil: DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4. A infecção pelo vírus da dengue causa uma doença com um variado espectro clínico, apresentando desde formas brandas a quadros clínicos graves, em alguns casos com manifestações hemorrágicas que podem levar inclusive ao óbito. O Aedes é o principal vetor do vírus no país, tratando-se de um mosquito com hábitos diurnos, antropofílico e essencialmente urbano, que se desenvolve principalmente em depósitos de água. A principal medida de controle da doença é o combate ao vetor.

É uma doença considerada endêmica no nosso país. Isso significa dizer que, ao longo do ano, já são esperados um determinado número de casos dessa doença em nosso território. Porém, apesar de ser uma doença relativamente comum, já fazendo parte inclusive do imaginário e conhecimento popular, a prevenção dessa doença é de extrema importância devido a sua magnitude em nossa população.

A distribuição da dengue no Brasil

Como dito acima, a dengue é uma doença endêmica, cujo padrão de distribuição ao longo dos anos de 2019 e 2020 foi o seguinte: 

Fonte: Brasil, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/media/pdf/2021/fevereiro/01/boletim_epidemiologico_svs_3.pdf

Esses dados são retirados da vigilância epidemiológica, sendo alimentados pela notificação compulsória dos casos suspeitos de dengue. Os números que aparecem na horizontal correspondem a cada uma das semanas do ano (de 1 a 53). Na vertical aparecem os números absolutos das notificações. Vale lembrar que todo atendimento realizado de casos onde a dengue seja uma possibilidade de diagnóstico (suspeita) deve gerar uma notificação para a secretaria municipal, para a secretaria municipal e para o Ministério da Saúde (Portaria 264, de 17 de fevereiro de 2020).

É justamente essa notificação que “acende o alerta” da vigilância para uma alteração no número de casos esperados para aquela região naquela época do ano (uma possível epidemia da doença). Uma outra consequência dessa notificação é que as autoridades competentes, ao observarem que as notificações estão acontecendo com maior frequência em determinada rua, realizem uma visita no local com os agentes de controles de zoonoses para investigarem prováveis focos de disseminação da doença. 

A representação gráfica resultante dessas notificações em 2020 é a seguinte:

Fonte: Brasil, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/media/pdf/2021/fevereiro/01/boletim_epidemiologico_svs_3.pdf

Entendendo o problema para planejar a solução

No planejamento das estratégias de prevenção de alguma doença, é fundamental que se conheça como a doença acontece, para a partir daí entender quais são as ações possíveis para interromper essa cadeia

A prevenção da dengue acontece tanto a nível de se evitar que a pessoa adoeça (prevenção primária) quanto a nível de evitar que as pessoas que eventualmente adoeçam desenvolvam complicações, realizando tratamento adequado dos doentes e reabilitação após a fase aguda da doença (prevenções secundária e terciária). O “modus operandi” do agente etiológico da dengue pode ser representado por essa figura:

Por isso, a maneira mais eficiente de conseguirmos a prevenção da dengue é evitar que o mosquito encontre esse ambiente com água parada e limpa para o depósito dos seus ovos. E toda boa estratégia de prevenção da dengue é composta por diversos ramos de ação. Se todas as ações dependessem apenas do governo, ou apenas da população, estaria fadada ao fracasso no caso da incompetência do agente responsável por tais ações. Por esse motivo, o próprio Ministério da Saúde coloca em seu site algumas ações que estão no espectro de ação dele mesmo, mas também da população.

No âmbito do Ministério da Saúde, existem:

  • programas permanentes de prevenção e combate ao mosquito;
  • desenvolvimento de campanhas de informação e mobilização das pessoas;
  • fortalecimento da vigilância epidemiológica e entomológica para ampliar a capacidade de predição e de detecção precoce de surtos da doença;
  • melhoria da qualidade do trabalho de campo de combate ao vetor (mosquito Aedes Aegypti);
  • integração das ações de controle da dengue na atenção básica, com a mobilização dos Programas de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Programas de Saúde da Família (PSF);
  • utilização de instrumentos legais que facilitem o trabalho do poder público na eliminação de criadouros em imóveis comerciais, casas abandonadas ou fechadas, terrenos baldios;
  • atuação em vários setores, por meio do fomento à destinação adequada de resíduos sólidos e a utilização de recursos seguros para armazenagem de água;
  • desenvolvimento de instrumentos mais eficazes de acompanhamento e supervisão das ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, estados e municípios.

A principal ação na prevenção da dengue da população é se informar, conscientizar e evitar água parada em qualquer local em que ela possa se acumular, em qualquer época do ano. As principais medidas de prevenção da dengue e combate ao Aedes Aegypti por parte da população em geral são:

  • Manter bem tampado tonéis, caixas e barris de água;
  • Lavar semanalmente com água e sabão tanques utilizados para armazenar água;
  • Manter caixas d’agua bem fechadas;
  • Remover galhos e folhas de calhas;
  • Não deixar água acumulada sobre a laje;
  • Encher pratinhos de vasos com areia até a borda ou lavá-los uma vez por semana;
  • Trocar água dos vasos e plantas aquáticas uma vez por semana;
  • Colocar lixos em sacos plásticos em lixeiras fechadas;
  • Fechar bem os sacos de lixo e não deixar ao alcance de animais;
  • Manter garrafas de vidro e latinhas de boca para baixo;
  • Acondicionar pneus em locais cobertos;
  • Fazer sempre manutenção de piscinas;
  • Tampar ralos;
  • Colocar areia nos cacos de vidro de muros ou cimento;
  • Não deixar água acumulada em folhas secas e tampinhas de garrafas;
  • Vasos sanitários externos devem ser tampados e verificados semanalmente;
  • Limpar sempre a bandeja do ar condicionado;
  • Lonas para cobrir materiais de construção devem estar sempre bem esticadas para não acumular água;
  • Catar sacos plásticos e lixo do quintal. 

E a vacina contra a dengue, existe?

A produção de uma vacina contra os quatro sorotipos do dengue, que seja segura e efetiva, tem sido apontada pela OMS como prioridade em face da gravidade da situação epidemiológica e também da baixa efetividade da maioria dos programas de combate ao Aedes aegypti relatados acima.

Alguns fatores são limitantes deste objetivo, dentre os quais podem-se destacar:

  • a existência de quatro diferentes sorotipos e a necessidade de se obter um imunógeno efetivo para todos os vírus simultaneamente;
  • a presença de anticorpos nas populações onde um ou mais sorotipos já circulou;
  • baixas produções de partículas virais após a passagem do agente em diferentes sistemas celulares;
  • não se dispor de um modelo animal experimental que desenvolva as formas graves da doença, o que implica necessidade de se incorrer em riscos ao se utilizar voluntários humanos para a verificação definitiva de atenuação da cepa do vírus.

As vacinas candidatas estão em diferentes estágios de desenvolvimento. Apesar das investigações serem bastante promissoras, ainda não se tem nenhuma vacina disponível para uso em populações. Entretanto, a tetravalente de vírus vivo atenuado já está em fase avançada e abre alguma perspectiva de que nos próximos anos já se disponha de uma vacina eficaz para o combate a essa doença. 

Uma coisa é certa: você, leitor(a), sendo profissional da saúde ou não, já percebeu que diversas das medidas de prevenção da dengue abordadas aqui estão completamente ao seu alcance. Então não perca tempo, faça sua parte e ajude o país no combate a essa importante doença!

É isso!

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LucasPadilha

Lucas Padilha

Capixaba e flamenguista (praticante para ambos!). Nascido em 1991, formado em medicina pela Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória-ES. Especialista em medicina de família e comunidade pela USP-RP. Mestrado em políticas públicas e desenvolvimento local. Tentando salvar vidas, inclusive a própria, no consultório e nas salas de aula. Siga no Instagram: @pad.ilha