Reflexos primitivos em recém-nascidos: o que são e quais são os tipos?

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Você provavelmente já ouviu falar dos reflexos primitivos durante a faculdade, certo? Pois saiba que eles são fundamentais – tanto para a sua prática clínica quanto para a sua prova de residência! Que tal entender e fixar esse tema de uma vez por todas?

O que são os reflexos primitivos?

Os reflexos primitivos nada mais são do que padrões motores involuntários presentes no recém-nascido que desempenham um papel essencial na adaptação do bebê ao meio extrauterino. Essas respostas automáticas a estímulos externos são mediadas pelo tronco encefálico e pela medula espinhal e refletem a imaturidade do sistema nervoso central.

Além de garantirem a sobrevivência nos primeiros meses de vida, são ferramentas valiosas para a avaliação do desenvolvimento neurológico infantil. A ausência, assimetria ou persistência além do período esperado desses reflexos pode indicar comprometimentos neurológicos e requer uma investigação clínica criteriosa.

Avaliação neurológico do recém-nascido

Um reflexo nunca é observado sozinho, beleza? A avaliação neurológica neonatal inclui a observação da postura, do tônus muscular, do comportamento motor e também da simetria dos reflexos primitivos. O conhecimento detalhado dessas respostas motoras permite ao médico identificar precocemente desvios na formação e/ou no desenvolvimento neurológico e orientar intervenções adequadas, quando necessário.

E quais são os reflexos primitivos avaliados?

  1. Reflexo de sucção

Quando um objeto, como um dedo ou o mamilo materno, é colocado na boca do bebê, ele inicia movimentos de sucção.

Surge entre 28 a 32 semanas de gestação e desaparece entre 4 a 6 meses de vida. 

  1. Reflexo de busca/voracidade

Ao tocar a bochecha do bebê, ele vira a cabeça na direção do estímulo, abrindo a boca.

Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece entre 3 a 4 meses de vida. 

  1. Reflexo de Moro

Ocorre quando o bebê é submetido a um estímulo brusco, como um barulho alto ou uma mudança rápida de posição. Ele reage com uma extensão abrupta dos braços e pernas, seguida por flexão.  

Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece até o 6º mês de vida. 

Fonte: Swaiman, Kenneth F. Swaimann’s Pediatric Neurology. 2017. Elsevier
  1. Reflexo de preensão palmar

Ao estimular a palma da mão do bebê, ele fecha os dedos ao redor do objeto.

Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece entre 4 a 6 meses de idade. 

  1. Reflexo de preensão plantar

Ao estimular a planta dos pés, os dedos flexionam-se.

Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece até 15 meses de idade. 

Créditos: Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp – Exame físico neurológico. Disponível em: https://www.fcm.unicamp.br/fcm/en/neuropediatria-conteudo-didatico/exame-neurologico/reflexos-primitivos#marcha
  1. Reflexo cutâneo plantar

Ao estimular a planta do pé, observa-se a flexão dos dedos. Em casos patológicos, pode-se notar o reflexo de Babinski, indicando possível comprometimento neurológico.

Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece aos 12 meses de idade. 

  1. Marcha reflexa

Quando segurado na posição vertical com os pés tocando uma superfície, o bebê realiza movimentos que simulam a marcha.

Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece aos 2 meses de idade. 

  1. Reflexo do esgrimista ou tônico-cervical 

Quando a cabeça do bebê é virada para um lado, o braço e a perna desse lado se estendem, enquanto o lado oposto se flexiona.

Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece com cerca de 3 meses de idade. 

Créditos: Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp – Exame físico neurológico. Disponível em: https://www.fcm.unicamp.br/fcm/en/neuropediatria-conteudo-didatico/exame-neurologico/reflexos-primitivos#marcha
  1. Reflexo de Galant ou de encurvamento do tronco

Ao estimular a pele próxima à coluna vertebral, o bebê curva o tronco em direção ao lado estimulado.

Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece entre 4 a 6 meses de idade. 

  1. Reflexo de Landau

Ao segurar o bebê em suspensão ventral, observa-se uma extensão da cabeça, do tronco e das pernas.

Surge aos 3 meses de idade e desaparece entre 12 a 24 meses de idade. 

  1. Reflexo do paraquedista

Ao inclinar o bebê bruscamente para frente em suspensão, ele estende os braços como se estivesse se protegendo de uma queda.

Surge entre 8 a 9 meses de idade e persiste por toda a vida.

Tabela-resumo

Nome do ReflexoDescriçãoIdade de AparecimentoIdade de Desaparecimento
Reflexo de sucçãoMovimentos de sucção ao colocar um objeto na boca do bebê.28-32 semanas de gestação4-6 meses
Reflexo de busca/voracidadeAo tocar a bochecha, o bebê vira a cabeça em direção ao estímulo, abrindo a boca.28-32 semanas de gestação3-4 meses
Reflexo de MoroExtensão abrupta dos braços e pernas seguida por flexão após um estímulo brusco.28-32 semanas de gestaçãoAté 6 meses
Reflexo de preensão palmarFechamento dos dedos ao estimular a palma da mão.28-32 semanas de gestação4-6 meses
Reflexo de preensão plantarFlexão dos dedos ao estimular a planta dos pés.28-32 semanas de gestaçãoAté 15 meses
Reflexo cutâneo plantarFlexão dos dedos ao estimular a planta do pé (Babinski pode indicar alteração neurológica).28-32 semanas de gestação12 meses
Marcha reflexaMovimentos de marcha ao segurar o bebê na posição vertical com os pés tocando uma superfície.28-32 semanas de gestação2 meses
Reflexo do esgrimista/tônico-cervicalAo virar a cabeça para um lado, o braço e a perna desse lado se estendem, enquanto o lado oposto se flexiona.28-32 semanas de gestação3 meses
Reflexo de Galant/encurvamento do troncoCurvatura do tronco ao estimular a pele próxima à coluna.28-32 semanas de gestação4-6 meses
Reflexo de LandauExtensão da cabeça, tronco e pernas ao segurar o bebê em suspensão ventral.3 meses12-24 meses
Reflexo do paraquedistaExtensão dos braços ao inclinar o bebê bruscamente para frente, como proteção contra queda.8-9 mesesPersiste por toda a vida

Os reflexos e as condições patológicas

A análise dos reflexos primitivos é um componente essencial da avaliação neurológica neonatal, pois permite identificar precocemente possíveis distúrbios do desenvolvimento. A ausência, diminuição ou assimetria desses reflexos pode estar associada a condições como paralisia cerebral, lesões congênitas do sistema nervoso central ou disfunções neuromusculares. Além disso, a persistência desses reflexos além da idade esperada pode sugerir atrasos no desenvolvimento motor ou patologias subjacentes que exigem investigação neurológica mais aprofundada.

Conclusão

Agora você já sabe: os reflexos primitivos desempenham um papel fundamental na avaliação da maturação neurológica do recém-nascido e nos fornecem informações valiosas sobre a integridade do sistema nervoso central do bebê.

Seu estudo detalhado permite a detecção precoce de anormalidades e facilita a intervenção oportuna para otimizar o desenvolvimento infantil. A compreensão dessas respostas involuntárias é essencial, auxiliando na condução clínica e no prognóstico das condições neurológicas na primeira infância!

PaolaRomani Ferreira Suhet

Paola Romani Ferreira Suhet

Graduação em Medicina pela USF - Bragança Paulista/SP. Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Infantil Sabará