Você provavelmente já ouviu falar dos reflexos primitivos durante a faculdade, certo? Pois saiba que eles são fundamentais – tanto para a sua prática clínica quanto para a sua prova de residência! Que tal entender e fixar esse tema de uma vez por todas?
Os reflexos primitivos nada mais são do que padrões motores involuntários presentes no recém-nascido que desempenham um papel essencial na adaptação do bebê ao meio extrauterino. Essas respostas automáticas a estímulos externos são mediadas pelo tronco encefálico e pela medula espinhal e refletem a imaturidade do sistema nervoso central.
Além de garantirem a sobrevivência nos primeiros meses de vida, são ferramentas valiosas para a avaliação do desenvolvimento neurológico infantil. A ausência, assimetria ou persistência além do período esperado desses reflexos pode indicar comprometimentos neurológicos e requer uma investigação clínica criteriosa.
Um reflexo nunca é observado sozinho, beleza? A avaliação neurológica neonatal inclui a observação da postura, do tônus muscular, do comportamento motor e também da simetria dos reflexos primitivos. O conhecimento detalhado dessas respostas motoras permite ao médico identificar precocemente desvios na formação e/ou no desenvolvimento neurológico e orientar intervenções adequadas, quando necessário.
Quando um objeto, como um dedo ou o mamilo materno, é colocado na boca do bebê, ele inicia movimentos de sucção.
Surge entre 28 a 32 semanas de gestação e desaparece entre 4 a 6 meses de vida.
Ao tocar a bochecha do bebê, ele vira a cabeça na direção do estímulo, abrindo a boca.
Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece entre 3 a 4 meses de vida.
Ocorre quando o bebê é submetido a um estímulo brusco, como um barulho alto ou uma mudança rápida de posição. Ele reage com uma extensão abrupta dos braços e pernas, seguida por flexão.
Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece até o 6º mês de vida.
Ao estimular a palma da mão do bebê, ele fecha os dedos ao redor do objeto.
Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece entre 4 a 6 meses de idade.
Ao estimular a planta dos pés, os dedos flexionam-se.
Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece até 15 meses de idade.
Ao estimular a planta do pé, observa-se a flexão dos dedos. Em casos patológicos, pode-se notar o reflexo de Babinski, indicando possível comprometimento neurológico.
Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece aos 12 meses de idade.
Quando segurado na posição vertical com os pés tocando uma superfície, o bebê realiza movimentos que simulam a marcha.
Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece aos 2 meses de idade.
Quando a cabeça do bebê é virada para um lado, o braço e a perna desse lado se estendem, enquanto o lado oposto se flexiona.
Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece com cerca de 3 meses de idade.
Ao estimular a pele próxima à coluna vertebral, o bebê curva o tronco em direção ao lado estimulado.
Surge entre 28 e 32 semanas de gestação e desaparece entre 4 a 6 meses de idade.
Ao segurar o bebê em suspensão ventral, observa-se uma extensão da cabeça, do tronco e das pernas.
Surge aos 3 meses de idade e desaparece entre 12 a 24 meses de idade.
Ao inclinar o bebê bruscamente para frente em suspensão, ele estende os braços como se estivesse se protegendo de uma queda.
Surge entre 8 a 9 meses de idade e persiste por toda a vida.
Tabela-resumo
Nome do Reflexo | Descrição | Idade de Aparecimento | Idade de Desaparecimento |
Reflexo de sucção | Movimentos de sucção ao colocar um objeto na boca do bebê. | 28-32 semanas de gestação | 4-6 meses |
Reflexo de busca/voracidade | Ao tocar a bochecha, o bebê vira a cabeça em direção ao estímulo, abrindo a boca. | 28-32 semanas de gestação | 3-4 meses |
Reflexo de Moro | Extensão abrupta dos braços e pernas seguida por flexão após um estímulo brusco. | 28-32 semanas de gestação | Até 6 meses |
Reflexo de preensão palmar | Fechamento dos dedos ao estimular a palma da mão. | 28-32 semanas de gestação | 4-6 meses |
Reflexo de preensão plantar | Flexão dos dedos ao estimular a planta dos pés. | 28-32 semanas de gestação | Até 15 meses |
Reflexo cutâneo plantar | Flexão dos dedos ao estimular a planta do pé (Babinski pode indicar alteração neurológica). | 28-32 semanas de gestação | 12 meses |
Marcha reflexa | Movimentos de marcha ao segurar o bebê na posição vertical com os pés tocando uma superfície. | 28-32 semanas de gestação | 2 meses |
Reflexo do esgrimista/tônico-cervical | Ao virar a cabeça para um lado, o braço e a perna desse lado se estendem, enquanto o lado oposto se flexiona. | 28-32 semanas de gestação | 3 meses |
Reflexo de Galant/encurvamento do tronco | Curvatura do tronco ao estimular a pele próxima à coluna. | 28-32 semanas de gestação | 4-6 meses |
Reflexo de Landau | Extensão da cabeça, tronco e pernas ao segurar o bebê em suspensão ventral. | 3 meses | 12-24 meses |
Reflexo do paraquedista | Extensão dos braços ao inclinar o bebê bruscamente para frente, como proteção contra queda. | 8-9 meses | Persiste por toda a vida |
A análise dos reflexos primitivos é um componente essencial da avaliação neurológica neonatal, pois permite identificar precocemente possíveis distúrbios do desenvolvimento. A ausência, diminuição ou assimetria desses reflexos pode estar associada a condições como paralisia cerebral, lesões congênitas do sistema nervoso central ou disfunções neuromusculares. Além disso, a persistência desses reflexos além da idade esperada pode sugerir atrasos no desenvolvimento motor ou patologias subjacentes que exigem investigação neurológica mais aprofundada.
Agora você já sabe: os reflexos primitivos desempenham um papel fundamental na avaliação da maturação neurológica do recém-nascido e nos fornecem informações valiosas sobre a integridade do sistema nervoso central do bebê.
Seu estudo detalhado permite a detecção precoce de anormalidades e facilita a intervenção oportuna para otimizar o desenvolvimento infantil. A compreensão dessas respostas involuntárias é essencial, auxiliando na condução clínica e no prognóstico das condições neurológicas na primeira infância!
Graduação em Medicina pela USF - Bragança Paulista/SP. Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Infantil Sabará