E aí, galerinha! Hoje vamos abordar um tema que, apesar de não ser o mais comum do pronto-socorro, adora aparecer nas provas de residência e pode pegar muito aluno desavisado: a Síndrome de Loeffler.
É aquela condição respiratória que acende um alerta para a presença de “visitantes” indesejados no nosso organismo. Bora entender o que é, como diagnosticar e, claro, como tratar essa síndrome. Sigam comigo!
Pessoal, a Síndrome de Loeffler (ou Löffler, se preferirem o nome original) é, basicamente, uma pneumonite eosinofílica aguda e transitória. Traduzindo, é uma inflamação nos pulmões caracterizada pelo acúmulo de eosinófilos (o tipo de glóbulo branco associado a alergias e infecções parasitárias) no tecido pulmonar.
Geralmente, ela é causada pela passagem de larvas de helmintos (vermes) pelos pulmões durante seu ciclo de vida. Pensem nela como uma “reação alérgica” do pulmão à presença dessas larvas.
Essa síndrome é classicamente descrita por sintomas respiratórios leves (ou até ausentes), infiltrados pulmonares que aparecem e somem, mudando de lugar no raio-X (chamados de migratórios ou efêmeros), e um aumento de eosinófilos no sangue (eosinofilia periférica).
A principal causa da Síndrome de Loeffler é a infecção por certos parasitas que, em alguma fase do seu desenvolvimento, precisam dar uma “passadinha” pelos pulmões. Os campeões de audiência aqui são os seguintes nematóides:
Existe um mnemônico bem conhecido para ajudar a lembrar: NASA
🚨 Bizu para a Prova: cuidado para não confundir! O Toxocara canis, agente da larva migrans visceral, também pode causar uma pneumonite eosinofílica, mas o quadro é diferente da Síndrome de Loeffler clássica.
Na Loeffler, a pneumonite é uma fase do ciclo normal do parasita no ser humano; na toxocaríase visceral, o ser humano é um hospedeiro acidental e a larva não completa seu ciclo, podendo migrar para diversos órgãos, incluindo os pulmões.
Outras causas, menos comuns, para síndromes eosinofílicas pulmonares incluem reações a medicamentos (como sulfonamidas, nitrofurantoína), infecções fúngicas (como Aspergillus) e algumas neoplasias, mas a Loeffler “raiz” é essa aí, ligada aos helmintos.
Entender o “rolê” que esses vermes dão no corpo é chave. De forma geral:
→ As larvas, seja qual for a porta de entrada, caem na circulação e chegam ao coração e, de lá, aos pulmões.
→ Nos pulmões, elas rompem os capilares e invadem os alvéolos. Essa invasão e a presença das larvas desencadeiam uma resposta inflamatória rica em eosinófilos.
→ As larvas “amadurecem” um pouco nos pulmões e depois sobem pela árvore brônquica (brônquios, traquéia) até a faringe, onde são deglutidas.
Essa passagem pelos pulmões é transitória, durando alguns dias, e é o que caracteriza o quadro pulmonar da síndrome.
Muitas vezes, a Síndrome de Loeffler é assintomática ou apresenta sintomas leves e inespecíficos, que surgem cerca de 10-15 dias após a infecção. Quando presentes, os mais comuns são:
Na ausculta pulmonar, podem ser ouvidos sibilos e/ou estertores crepitantes.
A beleza (para o diagnóstico, não para o paciente!) é que esses sintomas e os achados radiológicos costumam ser transitórios, desaparecendo em poucos dias a semanas (geralmente até um mês).
O diagnóstico da Síndrome de Loeffler é uma combinação de achados clínicos, laboratoriais e de imagem.
Importante: Durante a fase pulmonar da Síndrome de Loeffler, o EPF costuma ser negativo, pois os vermes ainda não atingiram a maturidade intestinal para liberar ovos. Os ovos só aparecem nas fezes semanas depois (cerca de 8 semanas para Ascaris). Larvas de Strongyloides podem ser encontradas mais cedo.
Bizu para a Prova: Tríade clássica para pensar em Loeffler:
1. Sintomas respiratórios (tosse, dispneia leve).
2. Eosinofilia no sangue periférico.
3. Infiltrados pulmonares migratórios na radiografia de tórax.
Gente, a boa notícia é que a Síndrome de Loeffler é geralmente autolimitada, ou seja, os sintomas pulmonares costumam resolver sozinhos em algumas semanas (até 1 mês).
→ Para casos com sintomas respiratórios mais persistentes ou intensos (como dispneia significativa ou broncoespasmo), corticosteroides (como a prednisona) podem ser utilizados para aliviar a inflamação e os sintomas. A resposta costuma ser rápida.
→ O medicamento de escolha dependerá do parasita identificado ou suspeito.
→ Albendazol é uma opção comum e de amplo espectro, eficaz contra Ascaris, ancilostomídeos e Strongyloides (embora para estrongiloidíase a ivermectina seja preferível). A dose usual para geohelmintos é de 400 mg, VO, em dose única ou por 3-5 dias, dependendo do agente.
→ Mebendazol e ivermectina também são opções, dependendo do parasita.
→ Outras pneumonias eosinofílicas (aguda idiopática, crônica, induzida por drogas).
→ Aspergilose broncopulmonar alérgica (ABPA)
→ Síndrome de Churg-Strauss (Granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte).
→ Endomiocardite de Loeffler: Essa é outra condição que leva o nome “Loeffler”, mas é diferente! Trata-se de uma miocardiopatia restritiva causada por infiltração eosinofílica no coração, frequentemente associada à Síndrome Hipereosinofílica Idiopática. O quadro clínico é de insuficiência cardíaca progressiva. Embora a eosinofilia seja um elo, são entidades distintas. Não confundam na prova!
Pessoal, a Síndrome de Loeffler é um quadro interessante que nos lembra da íntima relação entre parasitoses e manifestações sistêmicas.
Para as provas de residência, é crucial reconhecer a apresentação clínica clássica, os achados laboratoriais e radiológicos característicos (especialmente a eosinofilia e os infiltrados migratórios) e os principais agentes etiológicos (lembrem do NASA!).
Entender o ciclo de vida desses parasitas ajuda a compreender a natureza transitória da síndrome pulmonar e a importância do tratamento antiparasitário para a erradicação da infecção intestinal. Fiquem ligados nesses “bizus” e em mais dicas no nosso blog. Boa preparação!
Professora da Medway. Formada pela PUC-Campinas, com Residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).