Síndrome de Loeffler: o que é, diagnóstico, tratamento e mais!

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E aí, galerinha! Hoje vamos abordar um tema que, apesar de não ser o mais comum do pronto-socorro, adora aparecer nas provas de residência e pode pegar muito aluno desavisado: a Síndrome de Loeffler

É aquela condição respiratória que acende um alerta para a presença de “visitantes” indesejados no nosso organismo. Bora entender o que é, como diagnosticar e, claro, como tratar essa síndrome. Sigam comigo!

Afinal, o que é essa tal de Síndrome de Loeffler?

Pessoal, a Síndrome de Loeffler (ou Löffler, se preferirem o nome original) é, basicamente, uma pneumonite eosinofílica aguda e transitória. Traduzindo, é uma inflamação nos pulmões caracterizada pelo acúmulo de eosinófilos (o tipo de glóbulo branco associado a alergias e infecções parasitárias) no tecido pulmonar. 

Geralmente, ela é causada pela passagem de larvas de helmintos (vermes) pelos pulmões durante seu ciclo de vida. Pensem nela como uma “reação alérgica” do pulmão à presença dessas larvas.

Essa síndrome é classicamente descrita por sintomas respiratórios leves (ou até ausentes), infiltrados pulmonares que aparecem e somem, mudando de lugar no raio-X (chamados de migratórios ou efêmeros), e um aumento de eosinófilos no sangue (eosinofilia periférica).

O que causa a Síndrome de Loeffler? (Etiologia e Agentes)

A principal causa da Síndrome de Loeffler é a infecção por certos parasitas que, em alguma fase do seu desenvolvimento, precisam dar uma “passadinha” pelos pulmões. Os campeões de audiência aqui são os seguintes nematóides:

  • Ascaris lumbricoides (o famoso verme da lombriga) – frequentemente citado como o principal responsável.
  • Ancylostoma duodenale e Necator americanus (causadores da ancilostomíase ou “amarelão”).
  • Strongyloides stercoralis (causador da estrongiloidíase).

Existe um mnemônico bem conhecido para ajudar a lembrar: NASA

  • NNecator americanus
  • AAncylostoma duodenale
  • SStrongyloides stercoralis
  • AAscaris lumbricoides

🚨 Bizu para a Prova: cuidado para não confundir! O Toxocara canis, agente da larva migrans visceral, também pode causar uma pneumonite eosinofílica, mas o quadro é diferente da Síndrome de Loeffler clássica. 

Na Loeffler, a pneumonite é uma fase do ciclo normal do parasita no ser humano; na toxocaríase visceral, o ser humano é um hospedeiro acidental e a larva não completa seu ciclo, podendo migrar para diversos órgãos, incluindo os pulmões.

Outras causas, menos comuns, para síndromes eosinofílicas pulmonares incluem reações a medicamentos (como sulfonamidas, nitrofurantoína), infecções fúngicas (como Aspergillus) e algumas neoplasias, mas a Loeffler “raiz” é essa aí, ligada aos helmintos.

Como acontece a transmissão e a “mágica” (ops, Patogenia) no pulmão?

Entender o “rolê” que esses vermes dão no corpo é chave. De forma geral:

  • Ingestão/penetração:
    • No caso do Ascaris, a pessoa ingere os ovos do parasita presentes em água ou alimentos contaminados.
    • Nos ancilostomídeos e Strongyloides, as larvas infectantes presentes no solo penetram ativamente na pele (geralmente dos pés descalços). O Ancylostoma duodenale também pode ser transmitido por via oral.
  • Eclosão e migração Inicial:
    • Após a ingestão, os ovos do Ascaris eclodem no intestino delgado, liberando as larvas.
    • As larvas que penetram a pele ganham a corrente sanguínea ou linfática.
  • Ciclo pulmonar (Ciclo de Looss): é aqui que a Síndrome de Loeffler acontece!

→ As larvas, seja qual for a porta de entrada, caem na circulação e chegam ao coração e, de lá, aos pulmões.

→ Nos pulmões, elas rompem os capilares e invadem os alvéolos. Essa invasão e a presença das larvas desencadeiam uma resposta inflamatória rica em eosinófilos.

→ As larvas “amadurecem” um pouco nos pulmões e depois sobem pela árvore brônquica (brônquios, traquéia) até a faringe, onde são deglutidas.

  • Retorno ao intestino e vida adulta: ao serem deglutidas, as larvas voltam para o intestino delgado, onde finalmente se desenvolvem em vermes adultos, se reproduzem e liberam ovos nas fezes, reiniciando o ciclo para outras pessoas (ou, no caso do Strongyloides, podendo causar auto-infecção).

Essa passagem pelos pulmões é transitória, durando alguns dias, e é o que caracteriza o quadro pulmonar da síndrome.

Quais os sinais e sintomas? (Quadro Clínico)

Muitas vezes, a Síndrome de Loeffler é assintomática ou apresenta sintomas leves e inespecíficos, que surgem cerca de 10-15 dias após a infecção. Quando presentes, os mais comuns são:

  • Tosse seca persistente (pode ser produtiva em alguns casos);
  • Febre baixa (geralmente abaixo de 38,5°C);
  • Dispneia (falta de ar), geralmente leve;
  • Sibilância (“chiado no peito”) devido ao broncoespasmo;
  • Dor torácica ou desconforto retroesternal;
  • Menos comumente: expectoração com sangue (hemoptise) e dor muscular.

Na ausculta pulmonar, podem ser ouvidos sibilos e/ou estertores crepitantes.

A beleza (para o diagnóstico, não para o paciente!) é que esses sintomas e os achados radiológicos costumam ser transitórios, desaparecendo em poucos dias a semanas (geralmente até um mês).

Como confirmar o diagnóstico?

O diagnóstico da Síndrome de Loeffler é uma combinação de achados clínicos, laboratoriais e de imagem.

  • História Clínica e Epidemiológica: Exposição a solo contaminado, falta de saneamento básico, contato com áreas rurais, história de outras parasitoses.
  • Hemograma: O achado mais característico é a eosinofilia periférica, geralmente com contagem de eosinófilos acima de 500-1000 células/mm³. Pode chegar a valores bem mais altos.
  • Exames de Imagem: raio-X de Tórax: Mostra infiltrados pulmonares transitórios e migratórios. O que isso significa? As “manchas” no pulmão podem mudar de lugar ou desaparecer em radiografias seriadas feitas com alguns dias de intervalo. Essas opacidades são frequentemente periféricas.
  • Tomografia Computadorizada (TC) de Tórax: Pode ser útil em casos duvidosos, mostrando com mais detalhes as opacidades, que podem ser em vidro fosco ou consolidações.
  • Exame Parasitológico de Fezes (EPF): É usado para identificar o agente etiológico (o verme causador). 

Importante: Durante a fase pulmonar da Síndrome de Loeffler, o EPF costuma ser negativo, pois os vermes ainda não atingiram a maturidade intestinal para liberar ovos. Os ovos só aparecem nas fezes semanas depois (cerca de 8 semanas para Ascaris). Larvas de Strongyloides podem ser encontradas mais cedo.

  • Exame de Escarro: Raramente se encontram larvas no escarro, mas a presença de eosinófilos pode ser observada.

Bizu para a Prova: Tríade clássica para pensar em Loeffler:

1. Sintomas respiratórios (tosse, dispneia leve).

2. Eosinofilia no sangue periférico.

3. Infiltrados pulmonares migratórios na radiografia de tórax.

Qual o tratamento e o manejo?

Gente, a boa notícia é que a Síndrome de Loeffler é geralmente autolimitada, ou seja, os sintomas pulmonares costumam resolver sozinhos em algumas semanas (até 1 mês).

  • Tratamento Sintomático:

→ Para casos com sintomas respiratórios mais persistentes ou intensos (como dispneia significativa ou broncoespasmo), corticosteroides (como a prednisona) podem ser utilizados para aliviar a inflamação e os sintomas. A resposta costuma ser rápida.

  • Tratamento Etiológico (Antiparasitário): É essencial tratar a infecção parasitária de base para eliminar os vermes adultos no intestino e prevenir complicações futuras ou a reinfecção do ciclo.

→ O medicamento de escolha dependerá do parasita identificado ou suspeito.

→ Albendazol é uma opção comum e de amplo espectro, eficaz contra Ascaris, ancilostomídeos e Strongyloides (embora para estrongiloidíase a ivermectina seja preferível). A dose usual para geohelmintos é de 400 mg, VO, em dose única ou por 3-5 dias, dependendo do agente.

→ Mebendazol e ivermectina também são opções, dependendo do parasita.

Aspectos práticos e “Bizus” para a prova

  • Foco no trio: Sintomas respiratórios leves + Eosinofilia + Infiltrados migratórios.
  • Lembrem do mnemônico NASA para os agentes etiológicos.
  • A Síndrome de Loeffler é autolimitada; o tratamento antiparasitário visa a infecção intestinal subjacente.
  • EPF negativo na fase pulmonar não exclui o diagnóstico! Os ovos só aparecem depois.
  • Diagnóstico Diferencial:

→ Outras pneumonias eosinofílicas (aguda idiopática, crônica, induzida por drogas).

→ Aspergilose broncopulmonar alérgica (ABPA)

→ Síndrome de Churg-Strauss (Granulomatose Eosinofílica com Poliangiíte).

→ Endomiocardite de Loeffler: Essa é outra condição que leva o nome “Loeffler”, mas é diferente! Trata-se de uma miocardiopatia restritiva causada por infiltração eosinofílica no coração, frequentemente associada à Síndrome Hipereosinofílica Idiopática. O quadro clínico é de insuficiência cardíaca progressiva. Embora a eosinofilia seja um elo, são entidades distintas. Não confundam na prova!

Conclusão

Pessoal, a Síndrome de Loeffler é um quadro interessante que nos lembra da íntima relação entre parasitoses e manifestações sistêmicas. 

Para as provas de residência, é crucial reconhecer a apresentação clínica clássica, os achados laboratoriais e radiológicos característicos (especialmente a eosinofilia e os infiltrados migratórios) e os principais agentes etiológicos (lembrem do NASA!). 

Entender o ciclo de vida desses parasitas ajuda a compreender a natureza transitória da síndrome pulmonar e a importância do tratamento antiparasitário para a erradicação da infecção intestinal. Fiquem ligados nesses “bizus” e em mais dicas no nosso blog. Boa preparação! 

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Larissa Menezes

Larissa Menezes

Professora da Medway. Formada pela PUC-Campinas, com Residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).