Sintomas da Comunicação Interatrial: saiba mais!

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Fala, gente boa! No texto de hoje, vamos falar dos sintomas da Comunicação Interatrial, a famosa CIA. Vamos falar depois sobre o diagnóstico e tratamento, então fique atento no nosso Blog para mais conteúdos assim.

Vamos dar início a uma “trilogia” bem bacana sobre esse tema recorrente, interessantíssimo e bastante prevalente na prática médica, não só para os médicos de “gente pequena”, como para os de “gente grande” também. Leia e confira!

De volta para o futuro: embriologia

Não tem como falar de CIA sem dar uma introduzida no tema com a embriologia do desenvolvimento cardíaco. Calma, aqui não vai ser aquela baita revisão, só uma introdução focada no que a gente realmente precisa refrescar para entender melhor.

Um passo importantíssimo no desenvolvimento do coração é a separação da circulação sistêmica da circulação pulmonar. Como você bem lembra, no período fetal, as trocas gasosas são função da placenta.

Então há uma pequena parte da circulação que fica no ambiente pulmonar, sendo que a maior parte passa para circulação sistêmica, ou seja, circulação esquerda. 

Essa passagem é através de um “buraquinho”, ou seja, um FORAME, pra ser mais técnico, que é o forame oval. Mas como surge esse forame oval, minha gente? É de uma hora pra outra? Surge lá e já chega metendo mala, fazendo sua função? Claro que não!

A septação atrial começa em torno da 5ª semana de vida, com o desenvolvimento de uma estrutura chamada de septo atrial, que ocorre a partir da fusão de dois septos musculares embrionários — o septo primum e o septo secundum. 

Ambos têm aberturas que fazem justamente a função de comunicar o lado direito com o esquerdo, o que é importante para desviar a maior parte do sangue que iria da circulação pulmonar para a sistêmica.

O início dessa formação acontece aproximadamente no 26º dia, quando se inicia o desenvolvimento do septum primum a partir do teto dos átrios. Ao mesmo tempo, tecidos diferenciados formam um septo atrioventricular, separando os canais atrioventriculares direitos e esquerdos. 

Por fim, esses tecidos mesenquimais preenchem a conexão interatrial, permitindo apenas um orifício, que é o forame ou ostium primum (primum, porque é o primeiro que aparece). 

Esse forame posteriormente se fecha, e há uma apoptose programada nas células da região dorsal do septum primum que formam um novo forame, o ostium secundum (esse, provavelmente você já ouviu falar).

Mas e o septum primum? Ele continua ali, se desenvolvendo, e enquanto isso, uma nova camada se forma — o septum secundum, mais grosso e muscular do que o septum primum

Ele se conecta a coxins que formam a divisão atrioventricular, deixando também uma abertura: o forame oval! Sim, esse aí é famoso demais! Reparem na figura abaixo também como o septum secundum “fecha” o ostium secundum.

Fica assim, então:

Figura 1. Embriologia e desenvolvimento das septações interatriais. Fonte: Adaptado de Development of the Heart. Larsen’s Human Embriology. Elsevier, 2021.

E assim, com o forame oval e o ostium secundum (OS), temos as duas passagens que permitem a passagem de sangue direita-esquerda. 

Por fim, quando o bebê nasce, pela redução no fluxo das veias umbilicais e também pela redução da pressão na vasculatura pulmonar, o septum primum e o septum secundum se encontram, fechando essa passagem.

E quando o processo não funciona bem?

Agora já deu para entender que quando tivermos alguma falha ao longo desse processo, especialmente do fechamento após o nascimento, teremos uma Comunicação Interatrial.

As CIAs são cardiopatias congênitas comuns, representando cerca de 10-15% desse grupo de doenças. No caso das CIAs, são um espectro mais “bonzinho” de CCs por frequentemente serem assintomáticas e evoluírem para fechamento espontâneo.

Dentre os defeitos de septo atrial, temos os seguintes tipos, a depender da localização e estrutura acometida no defeito:

  • primum: falha na fusão do septum primum com os coxins endocárdicos (15-20%).
  • secundum: defeito mais comum, localizado geralmente no remanescente do forame oval, seja por falha no crescimento do septum secundum ou absorção excessiva do septum primum (70%).
  • sinus venosus: mal posicionamento da veia cava superior ou inferior próximo ao septo atrial (5-10%).

Vamos recordar que podemos encontrar um forame oval pérvio mesmo em adultos assintomáticos, não sendo considerado um defeito de septo atrial!

Fonte: Vick, WG. Bezold, LI. Isolated atrial septal defects (ASDs) in children: Classification, clinical features, and diagnosis. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/isolated-atrial-septal-defects-asds-in-children-classification-clinical-features-and-diagnosis

E os sintomas da Comunicação Interatrial?

Vamos pensar juntos para entendermos os sintomas: se após o nascimento há uma comunicação entre as cavidades direita e esquerda, com as mudanças hemodinâmicas que ocorrem, qual será o fluxo de sangue nessa comunicação? Esquerda -> direita, certo? 

Pois teremos um leito vascular de maior pressão agora na circulação sistêmica. Portanto, há uma maior entrada de sangue na circulação pulmonar, e esse shunt leva a um hiperfluxo pulmonar. Mas calma: a maior parte das CIAs não gera um fluxo tão importante assim para levar a sintomatologia.

Sim, você leu bem. A maior parte dos pacientes é assintomática e evolui para fechamento espontâneo, sendo diagnosticada através de um sopro no exame físico ou achado acidental ecocardiográfico. 

Crianças com CIAs largas, geralmente maiores do que 8 mm, podem desenvolver sintomas de insuficiência cardíaca, como:

  • taquicardia
  • taquipneia
  • estertores pulmonares, ritmo de galope
  • cardiomegalia
  • hepatomegalia
  • recusa alimentar, baixo ganho ponderal
  • edema periférico
  • oligúria

Entre outros.

Com relação ao exame físico, o que podemos encontrar é um desdobramento fixo da 2ª bulha ou até mesmo um sopro mesossistólico próximo ao segundo espaço intercostal, que ocorre pelo fluxo sanguíneo aumentado pela valva pulmonar. Essa ausculta geralmente é rara nas primeiras semanas de vida.

Fiquem ligados para os próximos textos sobre diagnóstico e tratamento de CIA

Por hoje é só, pessoal. Como dito no começo, fiquem atentos para saber mais sobre Comunicação Interatrial! Se você quiser aprender muito mais sobre diversos outros temas, conheça o PSMedway! Esse é nosso curso de Medicina de Emergência, que irá te preparar para a atuação médica dentro da Sala de Emergência!

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DanielZaidan dos Santos

Daniel Zaidan dos Santos

Nascido em 1996 em São Paulo, médico pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) formado em 2019. Residência em Pediatria da USP-SP. Apaixonado por duas coisas que são base para um futuro melhor: educação e Pediatria. Transmitir conhecimento para alguém é o legado mais valioso que podemos deixar, e buscar fazer isso de forma prazerosa para o outro é ainda mais recompensador. Siga no Instagram: @danzaidan