A medicina é um campo em constante transformação, assim como a tecnologia. A cada dia, centenas de artigos são publicados e novos tratamentos e meios diagnósticos são incorporados à prática clínica.
As Residências Médicas tendem a acompanhar essa evolução e incorporar essas novas tecnologias gradualmente. Hoje, resolvi separar alguns pontos que merecem destaque nesse sentido e que estão transformando a forma com que os médicos residentes atuam pelo Brasil nas diversas áreas.
Seja na clínica médica, cirurgia geral, radiologia ou anestesiologia, são mudanças que visam a melhoria do cuidado ao paciente e a otimização de uma série de processos e atividades do dia a dia. Dentre elas, podemos citar:
A partir da década de 80 uma série de estudos foram conduzidos no Japão, Alemanha e EUA. Eles culminaram na descrição do FAST (focused assessment with sonography). Por ser um método não invasivo e acurado, substituiu o lavado peritoneal nos mais diversos centros de trauma como o método para avaliação inicial de líquido livre no trauma.
Além disso, nos anos subsequentes foram descritos diversos usos para o USG dentro da sala de emergência. Diagnóstico de derrame pericárdico, derrames pleurais e ascite, determinação da funcionalidade cardíaca, aneurisma de aorta abdominal, gravidez ectópica.
A realização do USG no departamento de emergência tem sido gradualmente incorporada aos programas de residência médica de medicina de emergência, clínica médica, cirurgia geral e terapia intensiva. Sendo método complementar ao exame clínico e com uma série de utilidades diagnósticas dentro da sala de emergência.
Dentro do Hospital das Clínicas da USP contamos com algumas máquinas de USG para realizar a avaliação do paciente seja no ambiente de emergência ou de terapia intensiva.
Em 1997 foi realizada, na Bélgica, a primeira colecistectomia robótica por telepresença. Desde então, muitos avanços ocorreram e o uso de robôs como o “Da Vinci” foram ampliados para as mais diversas áreas da medicina, como urologia, ginecologia, cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgia cardíaca e cirurgia torácica.
Tudo isso devido a alguns benefícios de seu uso. Tais como, diminuição da dor dos pacientes e do desconforto pós-operatório, diminuição de perdas sanguíneas durante o procedimento, menor tempo de permanência no hospital e um retorno mais rápido às atividades diárias.
Com isso, hoje, residentes de grandes hospitais como o Albert Einstein ou hospitais da Rede D`or podem contar com um treinamento e tecnologias de ponta, permitindo um melhor cuidado aos pacientes com as devidas indicações do uso da cirurgia robótica.
Com isso, o cenário futuro é a possibilidade de um cirurgião conduzir um procedimento via robótica sem a necessidade de estar presente dentro do centro cirúrgico, ou até mesmo do hospital! Mas calma! Dentro do centro cirúrgico é necessária a presença de um cirurgião para iniciar o procedimento e acompanhar o paciente. Bem como a presença do médico anestesista e de toda equipe de apoio.
Caso você não saiba, a tecnologia de IA se refere a uma disciplina da ciência da computação em que uma entidade artificial pode mimetizar funções cognitivas humanas através da capacidade de aprender e resolver problemas!
Talvez o cenário ainda esteja distante do dia a dia do médico residente porém, novas tecnologias que englobam a inteligência artificial dentro do campo da radiologia estão sendo estudadas.
Os principais benefícios seriam o aumento da eficiência e acurácia dos exames diagnósticos. O desenvolvimento de algoritmos que auxiliam no reconhecimento de achados importantes nos exames de imagem com uma maior precisão, realização de priorização sistemática e triagem de casos para interpretação são possíveis utilidades.
Um exemplo palpável disso é o uso de IA na triagem e detecção de lesões de mama em mamografias de rastreio. Os algoritmos são capazes de identificar e classificar lesões de acordo com aspectos da imagem, realizando uma “triagem” com altíssima precisão.
Anualmente é feito um concurso pela RSNA (Radiology Society of North America). O “Machine Learning Challenge” premia soluções de inovação dentro da área.
Em 2017, dois radiologistas canadenses foram premiados por desenvolver um algoritmo que predizia com fidedignidade a idade óssea de radiografias de mãos de crianças. Já em 2018, o desafio envolvia o diagnóstico de pneumonia no Rx de tórax. Não é a toa que muitos médicos estão estudando cursos de data science e aprendendo Python, R e outras ferramentas.
Historicamente, o anestesista sempre fez os registros dos pacientes durante a realização de cirurgias em folhas de papel. Obviamente, o acompanhamento dos sinais vitais e o o uso de medicações no intra-operatório precisam ser registradas para serem anexadas ao prontuário do paciente. Porém, a forma como isso é feito está mudando!
Isso porque existem uma série de softwares que permitem o registro em tempo real dos pacientes e que facilitam a vida do anestesista, bem como agilizam o processo de documentação do procedimento cirúrgico.
Através de tablets, os anestesistas podem acompanhar e registrar dados como frequência cardíaca, pressão arterial e medicações infundidas. Mas o melhor é: tudo fica salvo em um banco de dados que permite a realização de uma série de estudos. Além disso, garante uma fácil visualização mediante a análise de gráficos e painéis de controle.
Você já imaginou a possibilidade de próteses totalmente customizadas de acordo com as medidas de cada paciente? Ou a realização de réplicas de órgãos ou estruturas em tamanho real que permitem ao médico estudar todas as características anatômicas de determinada lesão?
Essas são apenas algumas das possíveis utilidades da impressão 3D. Além disso, existem uma série de estudos em andamento que avaliam outros possíveis usos dessa nova tecnologia. Desde a “impressão de medicamentos” até a confecção de órgãos e tecidos biológicos.
Este cenário ainda está distante da realidade do médico residente, porém tudo indica que teremos mudanças significativas em todos esses campos nos próximos anos!
Além disso, outras tecnologias como a telemedicina vêm ganhando força nos últimos anos! Em fevereiro de 2019, o conselho federal de medicina chegou a liberar uma resolução que regulamentava a realização de atendimento online no país. Porém, ela foi suspensa após 3 semanas devido ao grande impasse que gerou dentro da sociedade médica.
Foram feitos pedidos de revisão e análise do texto por diversas sociedades de especialidades médicas, o que levou o CFM a revogar a primeira resolução. Entretanto, assim como toda tecnologia disruptiva, podemos esperar novos capítulos dessa história muito em breve!
Gostou? Deixe seu comentário sobre outras tecnologias que têm impactado a forma com que os médicos residentes atuam no Brasil!
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Capixaba, nascido em 90. Graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e com formação em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e Administração em Saúde pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Apaixonado por aprender e ensinar. Siga no Instagram: @joaovitorsfernando