Torção testicular no USG: quando a clínica não é tão soberana

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Opa, galera, tudo tranquilo? Se você costuma dar plantão em urgência, certamente já deve ter atendido algum paciente com escroto agudo. Se não, tenha certeza de que esse momento vai chegar e a seguinte dúvida virá: chamo o cirurgião ou não? 

Afinal, é uma torção testicular que preciso encaminhar direto para o centro cirúrgico ou uma orquiepididimite que irá para tratamento clínico? 

Segue aqui com a gente para descobrir como não passar perrengue na vida e na prova de residência!

A apresentação clínica da torção testicular

O escroto agudo é caracterizado por dor testicular aguda e pode vir acompanhada de náuseas, vômitos, edema regional e endurecimento das estruturas contidas na bolsa escrotal.

A condição surge em sua maioria em adultos jovens, mas pode acontecer em crianças e adolescentes e tem duas etiologias principais: a orquiepididimite ou a torção testicular. 

Na orquiepididimite, há inflamação dos epidídimos e/ou testículos, majoritariamente, por causa infecciosa. 

Já na torção testicular, devido a uma rotação do cordão espermático, ocorre oclusão do fluxo arterial e da drenagem venosa, culminando em edema e isquemia. 

Cordão espermático torcido, caso de torção testicular.
Cordão espermático torcido. Fonte: The Radiology Assistant.

O dilema principal

O detalhe é que essas duas causas têm tratamentos completamente diferentes. Não dá pra ficar na dúvida, não! 

Na torção testicular, o paciente deve ser imediatamente encaminhado para o centro cirúrgico a fim de passar por uma destorção do cordão e fixação do órgão – orquidopexia –, isto é, se ele ainda estiver viável (não necrosado)! Cabe a ressalva de que tempo é viabilidade testicular. Não dá pra molengar!

Já na orquiepididimite, o tratamento é feito através de repouso, analgésicos, anti-inflamatórios e antibioticoterapia, caso quadro bacteriano.

Então, definir a causa aqui é mais crucial ainda! Para isso, o exame mais indicado para o diagnóstico é a ultrassonografia da bolsa escrotal com estudo Doppler, que permite aferição dos volumes testiculares, permite avaliar seu posicionamento, sua morfologia, o aspecto do parênquima e ainda traz dados sobre sua vascularização. 

Além de permitir o diagnóstico da torção testicular, o exame ainda ajuda a excluir outros diagnósticos diferenciais, como a orquiepididimite, a torção de apêndice testicular, hematomas e infartos.

A bendita da radiologia

A ultrassonografia de bolsa escrotal possui em torno de 90% de sensibilidade e 98% de especificidade para o diagnóstico de torção testicular.

Os achados chave para torção testicular são:

  • Sinal do redemoinho, que é justamente a torção do cordão espermático que adquire um aspecto de espiral, podendo até formar uma pseudomassa. Este é um sinal muito específico e útil no dia a dia!
Sinal do redemoinho.
Sinal do redemoinho. Fonte: Radiopaedia.
  • Ausência de fluxo sanguíneo no testículo torcido, visto no estudo Doppler. Cuidado: só é esperado que haja ausência de fluxo nas torções completas; ou seja, nas torções incompletas pode ainda ter fluxo.
Fluxo presente no testículo direito e ausente no testículo esquerdo, que sofreu torção testicular.
Fluxo presente no testículo direito e ausente no testículo esquerdo, que sofreu torção. Fonte: The Radiology Assistant.

É claro que o testículo isquêmico também pode ficar aumentado de volume e com parênquima heterogêneo pelo edema e congestão venosa, mas esses achados são inespecíficos! Portanto, guarde os achados mais específicos para torção: sinal do redemoinho e a ausência ou redução do fluxo ao Doppler no testículo torcido.

Quando o diagnóstico não é feito a tempo, observamos um testículo já necrótico e inviável, que apresenta-se com volume reduzido, sem fluxo ao Doppler e hipoecogênico.

Beleza, pessoal? Aproveitem que revisaram os achados de imagem na torção testicular e deem uma olhadinha neste outro artigo aqui do blog que revisa a avaliação clínica e o manejo destes pacientes.

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AnuarSaleh

Anuar Saleh

Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.