Acesso intraósseo: tudo o que você precisa saber

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O acesso intraósseo é uma técnica essencial em situações de urgência e emergência, especialmente quando o acesso venoso periférico não é possível. Trata-se de um procedimento rápido, seguro e eficaz para a administração de fluidos, medicamentos e coleta de amostras sanguíneas em pacientes críticos. 

Apesar de ser um método tradicionalmente associado à pediatria, o uso do acesso intraósseo em adultos tem crescido, acompanhando as diretrizes de ressuscitação mais recentes.

Neste artigo, vamos explicar o que é o acesso intraósseo, quais são as suas indicações e contraindicações, além da técnica utilizada. Vamos nessa? 

O que é o acesso intraósseo?

O acesso intraósseo (IO) consiste na punção da medula óssea para inserção de uma agulha que permite a infusão direta de soluções e medicamentos no espaço medular. Esse espaço é altamente vascularizado, com drenagem direta para o sistema venoso central, o que garante rápida absorção. 

Na prática, o IO é considerado uma via de emergência temporária, utilizada quando não se consegue acesso venoso periférico em até 90 segundos, conforme preconiza a American Heart Association (AHA) nas diretrizes de Suporte Avançado de Vida (ACLS 2020 e 2025).

Quando o acesso intraósseo é indicado

As principais indicações para o uso do acesso intraósseo incluem:

  • Parada cardiorrespiratória (PCR);
  • Choque hipovolêmico ou séptico, quando há dificuldade em obter acesso venoso periférico;
  • Trauma grave, especialmente em pacientes politraumatizados ou com colapso circulatório;
  • Queimaduras extensas, onde não há veias acessíveis;
  • Situações pediátricas de emergência, em que a obtenção de acesso venoso é notoriamente mais difícil.

Contraindicações do acesso intraósseo

Apesar de ser um procedimento seguro, o acesso intraósseo apresenta algumas contraindicações:

Absolutas

  • Um osso fraturado ou previamente manipulado (incluindo tentativa anterior de IO), não pode ser usado porque fluidos podem sair pelo local da fratura ou perfuração.
  • Cirurgia ortopédica recente ou prótese no osso alvo.

Relativas

  • Presença de celulite, queimaduras ou osteomielite no local onde seria realizada a punção
  • Pacientes com osteogênese imperfeita ou osteopetrose, que apresentam fragilidade óssea aumentada.

Quando possível, deve-se sempre escolher o membro contralateral a fraturas ou infecções locais.

Locais de punção mais utilizados

A escolha do local depende da idade do paciente e da disponibilidade anatômica. Os principais sítios são:

Tíbia proximal 

  • Em adolescentes e adultos, o local recomendado é 3 cm (dois dedos de largura) abaixo da ponta inferior da patela e 2 cm medialmente à ponta da patela.
  • Em bebês e crianças, o local tibial proximal sugerido é aproximadamente 1 a 2 cm (a largura de um dedo) abaixo da tuberosidade tibial e até 1 cm medialmente no platô tibial. 
Fonte: Intraosseous Infusion. UpToDate. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/intraosseous-infusion?search=acesso%20intra%C3%B3sseo&selectedTitle=1~150

Úmero proximal  

O tubérculo maior do úmero proximal é apropriado para a colocação de IO em adolescentes e adultos. Para identificar este local, o clínico deve aduzir e rodar internamente o braço (mão no abdômen) para minimizar a probabilidade de danos às estruturas mediais do plexo axilar. 

O tubérculo maior do úmero proximal está localizado aproximadamente 2 cm abaixo do acrômio.

Fonte: Intraosseous Infusion. UpToDate. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/intraosseous-infusion?search=acesso%20intra%C3%B3sseo&selectedTitle=1~150

Esterno (manúbrio) 

Usado em situações de trauma com múltiplas lesões de membros.

Tibial distal 

O maléolo medial (tíbia distal) é preferível ao maléolo lateral devido ao seu formato mais plano e à sua distância da fise de crescimento em crianças.

Fonte: Intraosseous Infusion. UpToDate. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/intraosseous-infusion?search=acesso%20intra%C3%B3sseo&selectedTitle=1~150

Fêmur distal 

Aproximadamente 1 a 2 cm acima da borda superior da patela, com a perna em extensão.

Fonte: Intraosseous Infusion. UpToDate. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/intraosseous-infusion?search=acesso%20intra%C3%B3sseo&selectedTitle=1~150

Técnica passo a passo

  1. Higienizar as mãos e preparar o material.
  2. Escolher o local de punção e realizar antissepsia rigorosa com clorexidina alcoólica.
  3. Anestesiar o local (em pacientes conscientes) com lidocaína sem vasoconstritor (2%).
  4. Introduzir a agulha perpendicular à superfície óssea, realizando movimento firme e rotatório até sentir a perda súbita de resistência.
  5. Retirar o mandril interno e conectar a seringa ou equipo.
  6. Aspirar sangue medular para confirmação (presença de pequena quantidade é suficiente).
  7. Fixar o dispositivo e iniciar infusão com pressão positiva (usando equipo pressurizado ou seringa).

A infusão deve sempre ocorrer sob monitoramento clínico para detecção precoce de extravasamento.

O que pode ser administrado por via intraóssea

Qualquer substância que possa ser administrada por via venosa pode ser infundida por via intraóssea, incluindo:

  • Soluções cristalóides e coloides;
  • Vasopressores (adrenalina, noradrenalina, dopamina);
  • Sedativos e anticonvulsivantes;
  • Antibióticos e analgésicos;
  • Transfusão de hemoderivados.

Cuidados após o procedimento

Após o procedimento, alguns cuidados devem ser tomados: 

  • Confirmar permeabilidade do acesso e ausência de extravasamento;
  • Manter o local limpo, protegido e fixado;
  • Retirar o dispositivo assim que possível, após obtenção de acesso venoso central ou periférico estável;
  • Registrar o procedimento, local de punção, hora de inserção e tipo de agulha utilizada.

Agora você sabe mais sobre como funciona o Acesso Intraósseo. Para ter acesso a mais conteúdos médicos atualizados, continue acompanhando nosso blog! 

Referências

AMERICAN HEART ASSOCIATION. ACLS Provider Manual. Dallas: American Heart Association, 2025.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM). Manual de Urgência e Emergência. Brasília, DF: Conselho Federal de Medicina, 2023.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA (SBCM). Diretriz de Atendimento ao Paciente Grave. São Paulo: Sociedade Brasileira de Clínica Médica, 2024.

UPTODATE. Intraosseous infusion. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/intraosseous-infusion?search=acesso%20intra%C3%B3sseo&selectedTitle=1~150. Acesso em: 14 out. 2025.

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Ana Virgínia Queiroz

Ana Virgínia Queiroz

Professora da Medway. Formada em Medicina pelo Centro Universitário UNIFACISA, com residência em Clínica Médica pelo Hospital Israelita Albert Einstein.