Biópsia de próstata: tudo sobre os métodos guiados por imagem

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Fala, galera! Beleza? O tema deste texto é a biópsia de próstata, mas não é qualquer biópsia de próstata não! Aqui eu vou falar com você do ponto de vista da radiologia, utilizando os métodos de imagem para guiar estas biópsias como a ultrassonografia, fusão de imagens com a ressonância magnética, dentre outras coisas técnicas.  

Já ouviu falar destes procedimentos? Sabe indicar? Sabe o que esperar deles? Então bora!

Biópsia da próstata, pra quê?

O câncer de próstata é a neoplasia mais comum nos homens, excluindo-se os cânceres de pele e a segunda causa mais comum de morte por câncer entre homens nos Estados Unidos.  Com a dosagem do PSA, toque retal e melhoria dos métodos de imagem e das biópsias, agora minimamente invasivas, estamos diagnosticando cada vez mais precocemente estes tumores.  

As indicações de rastreamento e também de biópsia são um tanto quanto controversas e não vamos entrar nestes detalhes. Mas, para a biópsia de próstata vemos como indicações absolutas:

  • o toque retal suspeito, independente do valor do PSA;
  • um PSA > 10 ng%;
  • biópsia anterior com PIN de alto grau ou ASAP (proliferação de glândulas pequenas atípicas). 

Já um PSA entre 4 e 10 ng%, consideraríamos como uma indicação relativa. Para PSA entre 2,5 ng% e 4 ng%, deve-se considerar também a idade, fração livre do PSA e antecedente familiar.

O mais importante aqui é que a biópsia, além de diagnosticar o tumor, ainda permite avaliar seu grau de agressividade através do escore de Gleason. Com esta informação podemos tratar de forma diferente tumores com agressividades diferentes!

Biópsia de próstata guiada pela ultrassonografia

A biópsia da próstata guiada pela ultrassonografia transretal é considerada a abordagem padrão para obtenção de fragmentos prostáticos. 

O procedimento é rápido, com cerca de 10 minutos de duração e seguro, utilizando anestesia local apenas. A biópsia é guiada pela ultrassonografia, utilizando-se um transdutor endocavitário que é posicionado no reto do paciente. São obtidos fragmentos por uma agulha grossa.

A biópsia sextante representa a retirada de seis fragmentos (um de cada sextante) – apicais, medianos e basais de cada lado: atualmente reservada para situações de exceção. Já a biópsia sextante estendida, representa a retirada de no mínimo 12 fragmentos (2 basais, 2 medianos e 2 apicais de cada lado, portanto, dois de cada sextante), e tem sido a mais utilizada, por amostrar melhor a glândula, melhorando a sensibilidade do método.

Biópsia da próstata guiada por ultrassonografia. Note a agulha hiperecogênica (branca) transeccionando o lobo direito da próstata para obtenção de fragmento tecidual.
Legenda: Biópsia da próstata guiada por ultrassonografia. Note a agulha hiperecogênica (branca) transeccionando o lobo direito da próstata para obtenção de fragmento tecidual. Fonte: Di Muzio, B., Jones, J. Transrectal ultrasound–guided prostate biopsy. Reference article, Radiopaedia.org. (accessed on 22 Oct 2021) https://doi.org/10.53347/rID-26206

Repare que a biópsia prostática, diferentemente das outras biópsias de órgãos, não é direcionada para um alvo específico, já que o tumor prostático não costuma ser visível na ultrassonografia e não conseguimos distinguir tecido tumoral de tecido prostático normal ou hiperplasia prostática benigna. Por esse motivo amostramos toda a próstata de forma sistematizada.

As possíveis complicações são hematúria e hematospermia, geralmente autolimitadas e infecciosas (raras com o uso de antibiótico profilático).

O grande problema da biópsia guiada por ultrassonografia é sua alta taxa de falsos negativos, justamente por ela ser amostral e não direcionada para a lesão suspeita, que pode inclusive estar em uma região mais anterior, que a agulha não alcança. Isso leva a uma alta taxa de re-biópsias

E aí? O que fazer? Aumentar ainda mais o número de fragmentos para melhorar a sensibilidade? Acho melhor não! Foi observado que aumentar o número de fragmentos para 20 a 50 aumenta pouco a sensibilidade, mas aumenta muito a morbidade da biópsia, com mais dor e complicações! Não vale a pena. 

Biópsia da próstata com fusão de imagens de ressonância magnética

A Ressonância Magnética da próstata é um método excelente para detectar tumores prostáticos, principalmente aqueles que verdadeiramente devem ser detectados (de Gleason maior), que chamamos de clinicamente significativos.

A sensibilidade da RM para identificar a neoplasia prostática é bem mais alta que a da ultrassonografia, portanto, agora sim, conseguimos ver nossa lesão alvo, direcionando muito melhor nossa biópsia e reduzindo a taxa de re-biópsias. Mas como realizar uma biópsia guiada pela RM? Parece meio inviável né? De fato, guiar uma biópsia pela RM é caro e pouco acessível.

E como resolver este problema? A biópsia de próstata com fusão de imagens de ressonância magnética utiliza um software específico que permite realizar a sobreposição da sequência T2 da RM com a imagem da ultrassonografia transretal, em tempo real, possibilitando ver onde estaria a lesão vista na RM na ultrassonografia, levando a uma biópsia dirigida da lesão suspeita com mais precisão e com a mesma segurança e praticidade da biópsia guiada pela ultrassonografia.

A principal indicação de biópsia de próstata com fusão de imagens de ressonância magnética é a suspeita clínica de tumor e biópsia prévia negativa.

Biópsia da próstata guiada por ultrassonografia com fusão de imagens de RM. A seta mostra a lesão vista na RM (em azul) sobreposta à imagem da ultrassonografia.
Legenda: Biópsia da próstata guiada por ultrassonografia com fusão de imagens de RM. A seta mostra a lesão vista na RM (em azul) sobreposta à imagem da ultrassonografia. Fonte: YACOUB, Joseph H. et al. Imaging-guided prostate biopsy: conventional and emerging techniques. Radiographics, v. 32, n. 3, p. 819-837, 2012.

É isso…

É isso, pessoal! O objetivo deste texto é que você conheça os métodos de biópsia da próstata guiados por imagem, suas vantagens e desvantagens e suas indicações.

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Estude sempre! Até a próxima.

Referências:

YACOUB, Joseph H. et al. Imaging-guided prostate biopsy: conventional and emerging techniques. Radiographics, v. 32, n. 3, p. 819-837, 2012.

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LuisaLeitão

Luisa Leitão

Mineira, millennial e radiologista fanática. Formou-se em Radiologia pelo HCFMUSP na turma 2017-2020 e realizou fellow em Radiologia Torácica e Abdominal em 2020-2021 no mesmo instituto, além de ter sido preceptora da residência de Radiologia por 1 ano e meio. Apaixonada por pão de queijo, café e ensinar radiologia.