Cefalosporinas: a classe das 1001 utilidades

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Fala, pessoal! Hoje abordaremos mais um tema quente aqui no blog que, com certeza, irá ajudá-lo em sua prática clínica no PS. O assunto, apesar de mais teórico, é muito importante, pois serve de alicerce para muitos outros temas correlatos. Sem mais delongas, bora lá discutir um pouco sobre as cefalosporinas!

Afinal, o que são as cefalosporinas?

Você sabia que a classe dos beta-lactâmicos é uma das mais prescritas em nossa prática diária?

Costumamos observar o uso dessa classe de antibióticos desde a profilaxias cirúrgicas a antibioticoterapia empírica numa sepse de origem indeterminada por exemplo. Portanto, dominar certos aspectos de seu uso nos ajuda a ter mais assertividade em sua escolha e, principalmente, na segurança do paciente.

Essa classe agrupa antibióticos que possuem um mecanismo de ação semelhante: agem na parede celular das bactérias, em etapas enzimáticas que acabam por inibir sua formação, conferindo assim, indiretamente, a ação bactericida dessa classe.

Como classificamos as cefalosporinas?

Acredito que você lembre vagamente sobre gerações e espectro de ação desses antibióticos, duas características importantíssimas para sabermos quando indicar cada um. Então, vamos descomplicar essa parada.

As cefalosporinas são divididas em cinco gerações. Tais gerações não dizem respeito ao tempo ao qual elas foram lançadas no mercado tampouco está relacionada a superioridade de uma em relação a outra, mas sim, ao espectro de ação em relação aos microrganismos gram-positivos, gram-negativos e anaeróbios.

Primeira Geração

A primeira geração possui grande atividade contra cocos gram-positivos, ou seja, estamos falando da famosa dupla estafilococos e estreptococos. Além disso, tem atividade moderada contra E.coli, Proteus e K.pneumoniae da comunidade.                                                         

Agora, cuidado! A primeira geração não tem atividade efetiva contra H. influenzae, estafilococos resistentes à oxacilina,S.pneumoniae resistente à penicilina ou enterococos e anaeróbios.

Vale ressaltar que seu uso é permitido a gestantes.

Agora, vamos traduzir essa informação de uma forma prática.

Os microrganismos afetados por essa geração, geralmente, são agentes etiológicos de infecções de pele e partes moles, infecção do trato urinário (principalmente crianças e gestantes) e usados na antibioticoprofilaxia em cirurgias.

Por outro lado, observe que numa infecção de trato respiratório, elas não seriam a primeira escolha.

Nessa geração, há tanto opção intravenosa quanto via oral, sendo a primeira, geralmente, reservados a casos tratados em meio hospitalar e a segunda, tratamento domiciliar.

●  Opções via oral: cefalexina, cefadroxil

●  Opções via intravenosa: cefalotina, cefazolina

Exemplo Prescrição: ITU baixa não complicada em gestante

Cefalexina 500 mg/cp VO —————————————-  12 cp
tomar 1 cp de 6 / 6  horas por 3 dias

Segunda geração

Já na segunda geração, sabe-se que há perda de eficácia contra os estafilococos, entretanto, há um ganho na cobertura contra H. influenzae, M. catarrhalis, S.pneumoniae (tríade dos principais causadores de IVAS).

Ademais, tem ação contra meningococo (apesar de não serem a primeira escolha) e N. gonorrhoeae.

São mais usados em algumas profilaxias cirúrgicas de cavidade abdominal e pélvica devido sua ação contra bacteróides.

●  Opções via oral: cefuroxima

●  Opções via intravenosa: cefuroxima, cefoxitina

Exemplo Prescrição: Apendicite Aguda não perfurada

Cefoxitina 2 g IV —————————————————-  Agora
Após 1g IV  de 6/6horas por 24 horas

Terceira geração

A terceira geração torna-se a escolha principal para o tratamento contra bacilos gram-negativos, com destaque para o tratamento da meningite causada pelo meningococo, devido a sua melhor penetração da barreira hematoencefálica. Outra vantagem dessa geração é a não necessidade de ajustar a dose para disfunção renal.

São usados, por exemplo, no tratamento empírico da meningite, infecção de trato urinário complicada e tratamento hospitalar da pneumonia.

As representantes desse grupo são:

 ●  Opções via intravenosa: ceftriaxona, ceftazidime, cefotaxima

Podemos destacar como particularidade que apenas a ceftazidime possui ação contra pseudomonas.

 Exemplo Prescrição: Pneumonia Bacteriana Complicada

Ceftriaxona 1 g IV —————————————————-  Agora
aplicar 1g ev de 12/12 horas por 7 dias.

Quarta Geração

Aqui temos nosso lobo solitário representado pela cefepima. Essa cefalosporina de 4° Gen, possui atividade Anti Pseudomonas e consegue agir contra estafilococos resistentes à oxacilina.Ademais, possui boa penetração a Barreira hemato-encefálica.

Devemos lembrar, porém, que esse antibiótico reduz o limiar convulsivo sendo os pacientes com disfunção renal os de maior risco para eventos adversos. Está bem indicada em pacientes hospitalizados por pneumonia ou meningite. Além disso, já é consagrado com primeira escolha na Neutropenia febril com escore MASCC  classificado como alto risco.

Exemplo Prescrição: Neutropenia Febril (MASCC – alto risco)

Cefepima 2 g IV —————————————————-  Agora
Aplicar 2g IV de 8/8 horas.

Quinta geração

Aqui também temos nosso único representante disponível no país, denominado Ceftarolina. Seu espectro de ação assemelha a da ceftriaxona, com a vantagem de apresentar maior eficácia contra estreptococos e estafilococos resistentes.

Exemplo Prescrição: infecção por S.aureus OxaR

Ceftarolina 600 mg IV —————————————————-  Agora
Aplicar 600 g IV de 12/12horas.

Finalizando….

Ufa pessoal, bastante coisa, hein?! tentar resumir sobre uma classe toda de antibiótico em algumas linhas é um grande desafio.

Aqui você encontrou o uso das principais cefalosporinas e seus exemplos na prática diária. Sem dúvida essa classe é o “jack-of-all trades” dos antibióticos, devido seu amplo espectro, poucos efeitos colaterais, estabilidade e boa penetração em órgãos e tecidos.

Saber quando e porque indicá-los é essencial para uma boa prática médica.

Missão cumprida, agora sabemos um pouco mais sobre as Cefalosporinas. Tranquilidade, Mente afiada, PS DOMINADO.

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Até a próxima!

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LuizCésar

Luiz César

Nascido em 1990, em Cuiabá-MT, formado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 2020. Experiência como oficial médico temporário no 37° Batalhão de infantaria leve. Residência em Medicina de Emergência na Universidade de São Paulo (USP - SP). Amante da adrenalina se interessa por resgate aeromédico, usg-point of care e medicina de áreas remotas.