Diagnóstico da enterocolite necrosante: tudo que você deve saber

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E aí, pessoal, tudo certo? Esperamos que sim, porque hoje é dia de falar sobre o diagnóstico da enterocolite necrosante e vocês precisam estar preparados! A ideia é que, até o final dessa leitura, vocês saibam quais exames pedir quando suspeitarem de ECN. Bora pra mais uma? Continue a leitura com a gente! 

Para começar a falar sobre o diagnóstico da enterocolite necrosante… 

O diagnóstico se baseia na presença de características clínicas (distensão abdominal, vômitos biliosos, sangramento retal) e o achado na imagem abdominal de gás intramural (pneumatose intestinal), pneumoperitônio ou alças intestinais sentinela. 

O diagnóstico definitivo é feito a partir da peça cirúrgica com os achados histológicos de inflamação intestinal, infarto e necrose tecidual. No entanto, para a maioria dos pacientes, isso não é realizado, pois há melhora com o tratamento médico.

Patologia macroscópica da enterocolite necrosante neonatal. Trato alimentar de lactente mostrando necrose intestinal, pneumatose intestinal e local de perfuração (seta). Autópsia. Diagnóstico da enterocolite necrosante
Figura 1: Patologia macroscópica da enterocolite necrosante neonatal. Trato alimentar de lactente mostrando necrose intestinal, pneumatose intestinal e local de perfuração (seta). Autópsia. Disponível neste site.

Exames solicitados 

A radiografia abdominal simples é a modalidade preferida tanto para o diagnóstico quanto para acompanhar a progressão da doença, mas a ultrassonografia doppler está sendo cada vez mais utilizada por sua especificidade. 

Os achados radiográficos que podemos encontrar na ENC incluem:

  • Padrão gasoso anormal com alças intestinais dilatadas;
  • A pneumatose intestinal, que aparece como bolhas de gás na parede do intestino delgado. A pneumatose no prematuro é indicativa de ENC até que se prove o contrário;
  • O pneumoperitônio acontece quando ocorre perfuração intestinal; 
  • A alça sentinela (alça intestinal que permanece em posição fixa e pode ser visualizada nas incidências ortogonais) é sugestiva de intestino necrótico e/ou perfuração na ausência de pneumatose intestinal;
  • Gás venoso portal.
Figura 2: Radiografias de abdome com achados característicos de enterocolite necrosante. (A) Pneumatose intestinal difusa com distribuição linear nos quadrantes superior e médio esquerdos. (B) Padrão de arborização característico do gás venoso portal. (C) Gás peritoneal livre com o ligamento falciforme visível (seta). (D) Gás peritoneal livre visto em decúbito lateral esquerdo.
Figura 2: Radiografias de abdome com achados característicos de enterocolite necrosante. (A) Pneumatose intestinal difusa com distribuição linear nos quadrantes superior e médio esquerdos. (B) Padrão de arborização característico do gás venoso portal. (C) Gás peritoneal livre com o ligamento falciforme visível (seta). (D) Gás peritoneal livre visto em decúbito lateral esquerdo. Disponível em: https://www.semanticscholar.org/paper/Neonatal-necrotizing-enterocolitis.-Maheshwari-Corbin/a4e121929091820e2b4d007388af4c3f09bce8bd/figure/2.

Na ultrassonografia, podemos encontrar a presença de ar livre, coleções líquidas focais, aumento da espessura e ecogenicidade da parede intestinal, associados a pior prognóstico. Através dela podemos, ainda, verificar alterações na perfusão da parede. 

O enema contrastado é contraindicado, pois pode resultar em perfuração intestinal com extravasamento para cavidade peritoneal.

Exame de sangue ajuda? 

Embora sejam inespecíficos, eles podem ser utilizados para auxiliar no manejo da ECN. No hemograma, a trombocitopenia é um achado frequente e, quando presente, é válido solicitar um coagulograma, visto que a coagulação intravascular disseminada pode ser uma das complicações. 

Outros fatores de pior prognóstico incluem hiponatremia persistente, aumento dos níveis de glicose e acidose metabólica.

Critérios de Estadiamento de Bell

Durante a investigação diagnóstica, podemos nos valer dos critérios de estadiamento de Bell descritos abaixo e que usam os sinais sistêmicos, abdominais e radiográficos para classificar a ENC, sendo o estágio III o de pior prognóstico.

Figura 3: Critérios de estadiamento de Bell modificados para enterocolite necrosante (NEC) em recém-nascidos.
Figura 3: Critérios de estadiamento de Bell modificados para enterocolite necrosante (NEC) em recém-nascidos. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/neonatal-necrotizing-enterocolitis-clinical-features-and-diagnosis?search=enterocolite%20necrotizante&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&display_rank=2#H11.

Na dúvida, rastreio de sepse!

Para finalizar, vale ressaltar a importância do rastreio de sepse nesses pacientes, visto que é um achado concomitante comum e um dos principais diagnósticos diferenciais, assim como: 

  • enterite infecciosa;
  • perfuração intestinal espontânea do recém-nascido;
  • condições anatômicas ou funcionais que causam obstrução intestinal;
  • apendicite neonatal;
  • intolerância à proteína do leite de vaca; 
  • etc.  

Curtiu saber mais sobre o diagnóstico da enterocolite necrosante? 

Agora já discutimos sobre o diagnóstico da enterocolite necrosante! Mas ainda há mais conteúdo sobre essa doença para explorar, né? Então fique de olho no nosso blog para saber mais!

Continuem estudando e nos encontramos em breve! Ah, e se quiser conferir mais conteúdos de Medicina de Emergência, dê uma passada na Academia Medway. Por lá, disponibilizamos diversos e-books e minicursos completamente gratuitos. 

Referências

  1. Jae H Kim.Neonatal necrotizing enterocolitis: Clinical features and diagnosis. Disponível AQUI.

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MatheusCarvalho Silva

Matheus Carvalho Silva

Matheus Carvalho Silva, nascido em 1993, em Coronel Fabriciano (MG), se formou em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência em Cirurgia Geral na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).