Leptospirose: preste atenção às enchentes!

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Fala, galera! Vamos falar sobre a leptospirose, doença que preocupa em época de chuvas e enchentes. Em 2023 (até o dia 7 de fevereiro) já temos 19 casos confirmados da famosa “doença do rato” no estado de São Paulo. 

Vale a pena relembrar que no início desse ano tivemos enchentes, principalmente no litoral norte do estado. Até no TikTok a leptospirose ficou famosa, depois do relato da jovem que se contaminou em um festival de rap. Sendo assim, não precisamos nem salientar a importância desse assunto… Bora lá! 

Rato em enchente – Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/rat-fell-into-water-tank-contagious-1450780682

O que é a leptospirose?

A leptospirose é uma zoonose causada por uma bactéria espiroqueta chamada Leptospira interrogans e tem nos roedores (principalmente ratos) o seu hospedeiro natural. A doença do rato, apelido carinhoso, é uma doença infecciosa febril aguda, sendo transmitida pelo contato com urina de animais infectados ou água e lama contaminadas com a espiroqueta. 

Essa bactéria penetra na pele por lesões cutâneas, ou pela pele íntegra em contato prolongado com água contaminada, ou contato com mucosas.  

Quais são os principais sintomas?

Bom, galera, vamos entender como o paciente se apresenta e quando vamos desconfiar da leptospirose. A primeira coisa que temos que ter em mente é que essa doença tem quadro clínico variável, podendo ser assintomática ou muito grave. 

O período de incubação pode ser de 1 a 30 dias. Vamos dividir as apresentações clínicas da leptospirose em duas fases: precoce e tardia. Foca aí!

Fase Precoce

Na fase precoce a leptospirose se manifesta com febre de início súbito, mialgia, náuseas e vômitos, podendo ocorrer diarreia, artralgia, hiperemia conjuntival e até mesmo exantema. Lembra bastante uma “virose” e melhora em 3 a 7 dias, sendo autolimitada. 

Como é uma doença muito parecida com outras síndromes febris, temos que saber alguns achados característicos da leptospirose: sufusão conjuntival e mialgia intensa, principalmente nas panturrilhas. 

A sufusão conjuntival pode ser observada em cerca de 30% dos pacientes e nada mais é do que hiperemia e edema da conjuntiva. Acontece que nenhum desses sinais clínicos são muito sensíveis ou específicos da leptospirose. 

Por isso, é muito importante colher uma boa anamnese e perguntar exposição a enchentes, lama ou urina de animais contaminados. Desconfiou de leptospirose, tem que notificar em até 24 horas! 

Sufusão conjuntival em paciente com leptospirose – Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/subconjunctival-hemorrhage-left-eye-boy-who-1818926942

Fase Tardia

Aqui temos a evolução para formas graves da doença, podendo ocorrer em 10-15% dos casos.  Talvez você já tenha ouvido falar ou lido aqui no nosso blog sobre a síndrome de Weil

Pois é, essa é a manifestação clássica da leptospirose grave, caracterizada pela tríade: icterícia, insuficiência renal aguda (normalmente com hipocalemia) e hemorragias (principalmente pulmonar). 

Como faço o diagnóstico?

A primeira tarefa é pedir exames laboratoriais gerais para o paciente. Na leptospirose podemos ter hipocalemia, AST e ALT aumentadas (até 500 UI/dl), aumento de bilirrubina direta, neutrofilia com desvio a esquerda e CPK aumentada. 

Para fins diagnósticos, vamos usar os métodos sorológicos: ELISA-IgM e a microaglutinação (MAT).

E o tratamento da leptospirose?

O tratamento da Leptospirose é feito com antibióticos. A antibioticoterapia pode ser iniciada em qualquer período da doença, mas quanto mais cedo, melhor. 

Lembram da reação de Jarisch-Herxheimer? Tudo bem, é rara, então vamos relembrar: é uma reação de início súbito, com febre, calafrios, cefaleia, mialgia e piora de exantemas, por conta da abundante quantidade de toxinas liberadas pela morte das espiroquetas após o início do antibiótico. 

Tudo isso para dizer que mesmo com essa reação, o antibiótico deve ser mantido! 

Na fase precoce vamos prescrever Amoxicilina: 500 mg, via oral, 8/8h, por 5 a 7 dias ou Doxiciclina 100 mg, via oral, 12/12h, por 5 a 7 dias. Nas formas graves precisaremos usar medicamentos intravenosos (IV): Penicilina G Cristalina 1,5 milhões UI, IV, de 6/6 horas, ou Ampicilina 1 g, IV, 6/6h, ou Ceftriaxona 1 a 2 g, IV, 24/24h ou Cefotaxima 1 g, IV, 6/6h. 

E aí, curtiu saber mais sobre a leptospirose?

Agora você conhece mais sobre a leptospirose! Então, confira outros conteúdos que publicamos aqui no Blog. Eles foram feitos especialmente para você mandar bem no seu plantão e ficar por dentro dos mais variados assuntos.

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BeatrizVilaça

Beatriz Vilaça

Sou uma médica com muito interesse em pesquisa, extensão e ensino. Residência em Clínica Médica pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e formada em Medicina pela Universidade Federal do Paraná. Já fui bolsista CAPES pelo programa de intercâmbios Ciências Sem Fronteiras, de 2015-2016, e cursei Medicina na "Università Degli Studi di Roma La Sapienza", em Roma, Itália. Muito feliz em fazer parte da equipe Medway!