Meningite neonatal: o que você tem que saber

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E aí, pessoal, tudo bem? Dia de pediatria por aqui, hein! Hoje vamos conversar com vocês sobre um tema que – ainda bem – vem diminuindo sua incidência nos últimos anos por aí: meningite neonatal

Em crianças maiores, temos algumas características bem marcadas, como sinal de Kernig e Brudzinski positivos, febre alta e convulsões. Mas e nos recém-nascidos? Será que também se apresenta assim? 

Vamos ver que, assim como muita coisa na neonatologia, a meningite também tem uma forma diferente de se mostrar para nós e devemos ficar muito atentos a isso. Bora lá? 

Começando do básico: o que é meningite neonatal?

Galera, a meningite neonatal nada mais é que uma inflamação aguda das meninges, espaço subaracnoide e vasculatura cerebral. Como consequência, podemos ter uma infecção local que vai alterar nossos exames de investigação, mas veremos isso mais adiante. 

Obviamente que, para ser neonatal, a condição deve ocorrer nos primeiros 28 dias de vida e podemos dividi-la em precoce ou tardia. A meningite neonatal será precoce quando ocorrer em até 72h de vida do nosso bebê e, tardia, quando após esse período. 

Lembram do post sobre sepse neonatal em que fizemos a mesma divisão? Então, aqui, os microrganismos se comportarão de forma semelhante, ou seja, a meningite neonatal precoce poderá ter etiologia diferente da tardia. Apesar de estar em queda, ainda é um problema importante e causa de elevadas taxas de mortalidade na população neonatal, bem como de sequelas graves. 

Imagem ilustrativa das meninges.
Fonte: shutterstock.

Quais são os vilões da meningite neonatal?

Mas quem são os principais culpados? Nos quadros precoces, temos como etiologia principal as bactérias presentes na flora vaginal materna, como Streptococcus do grupo B e E. coli. Novamente, temos ele aqui ocupando a primeiríssima posição nas causas infecciosas dos recém-nascidos: o EGB, responsável por até 50% de todos os quadros de meningite neonatal precoce. 

Logo atrás, e mais relacionados aos quadros tardios, teremos bactérias Gram-negativas entéricas, como Pseudomonas, Klebsiella, Enterobacter; e Gram-positivas como S. aureus, S. pneumoniae e S. epidermidis – esta última mais comum nos quadros de meningite neonatal em recém-nascidos de muito baixo peso, ou seja, menores de 1.500g. 

E quem são os mais suscetíveis?

Pessoal, qualquer recém-nascido pode desenvolver um quadro de meningite neonatal, mas existem alguns grupos sujeitos a maior risco. Os fatores de risco podem ser divididos em 4 grupos: relacionados à gestação e ao parto, ao recém-nascido, ao ambiente e ao próprio patógeno. Vamos com a gente ver rapidinho cada um deles?

Começando pelos fatores de risco relacionados à gestação e ao parto, temos alguns em comum com a sepse neonatal precoce. Isso porque esta e a meningite neonatal precoce iniciam a partir da aquisição de microrganismos durante o parto ou de forma ascendente após a ruptura das membranas amnióticas. 

Dentre esses fatores de risco, podemos citar:

  • sofrimento fetal;
  • trauma obstétrico;
  • infecções maternas;
  • tempo de bolsa rota prolongado;
  • corioamnionite.

Já relacionados aos recém-nascidos, temos principalmente uma imaturidade do sistema imunológico, tanto humoral quanto celular. A passagem de anticorpos maternos acontece de forma mais intensa após as 32 semanas, o que já nos indica que a prematuridade é um fator de risco importante para a meningite neonatal. De forma semelhante, os linfócitos T e os leucócitos polimorfonucleares têm sua função menos eficiente nos recém-nascidos em comparação ao adulto, tornando-os mais suscetíveis.

Os fatores de risco relacionados ao ambiente são aqueles que dizem respeito mais às UTIs neonatais, ou seja, tudo que é feito com o nosso bebê durante a sua internação que possa aumentar a probabilidade do quadro de sepse e meningite neonatal. Temos o uso de cateteres, equipamentos de inalação, má higienização e exposição à equipe de saúde, pais e outras pessoas que possam ser carreadoras de microrganismos patogênicos. 

Por último, temos os relacionados aos microrganismos. Mas o que isso quer dizer? Alguns subgrupos de bactérias são mais comuns na patogenia da meningite neonatal e são eles:

  • EGB sorotipo III;
  • E. coli cepa K1;
  • Listeria monocytogenes sorotipo IVb.

Quais são os sintomas da meningite neonatal?

Se vocês já estão afiados em neonatologia, sabem como vai ser o nosso quadro clínico, certo? Inespecífico! Os recém-nascidos com meningite neonatal podem apresentar desde sintomas gerais como um ou outro mais direcionado. 

Teremos um bebê com vômitos, sucção débil, febre, irritabilidade, apneia, diarreia, dificuldade de progressão de dieta e, nos casos mais específicos, convulsões e abaulamento de fontanela. A rigidez de nuca presente, normalmente, nos casos de meningite em crianças maiores, só estará presente em aproximadamente 10% dos bebês, então não contem com isso para fazer o diagnóstico. 

E o que fazer diante de um RN com um quadro suspeito de meningite neonatal? A primeira coisa é uma investigação completa com hemograma, PCR, hemocultura, exame de imagem e o principal: coleta de LCR. A análise de líquor é imprescindível para identificarmos se existe mesmo um quadro de meningite neonatal vigente e qual o microrganismo responsável. 

Vamos investigar nosso recém-nascido?

A punção lombar é indicada para todos os bebês com suspeita de sepse, em vigência de bacteremia ou naqueles que não apresentam melhora do quadro infeccioso após o início do tratamento antibiótico. Porém, ao receber o resultado desse exame, vocês precisam bater o olho e já identificar se é ou não, sem precisar aguardar as culturas. Como fazer isso? Temos alterações sugestivas de meningite bacteriana e vamos passá-las agora para vocês. 

O importante a se saber é que diante de um líquor alterado nessas condições, teremos um aumento na proteinorraquia, um aumento de leucócitos com predomínio de polimorfonucleares e uma queda nos valores de glicorraquia. Mas cuidado aqui, pois alguns bebês podem apresentar meningite sem qualquer uma dessas alterações. Então, o que conta mesmo é a cultura positiva, nosso padrão-ouro. 

E os exames de imagem? Vamos solicitá-los buscando alguma alteração estrutural já instalada. O de mais fácil acesso será o USTF, mas também podemos lançar mão de RNM. Dentre as alterações mais comuns vistas nas imagens, temos:

  • sinais de ventriculite;
  • sulcos ecogênicos;
  • parênquima com alteração de ecogenicidade;
  • áreas com coleção;
  • dilatação ventricular;
  • múltiplos cistos intraparenquimatosos.

Na RNM, as alterações mais comuns são:

  • espessamento da leptomeninge;
  • empiema;
  • infarto;
  • hidrocefalia;
  • abscessos.

Algumas das alterações acima podem ser relacionadas a microrganismos específicos, como ventriculomegalia, mais comum em meningites por E. coli; infarto cerebral, como alteração mais ligada a quadros por EGB; e abscessos em infecções por serratia. 

Hidrocefalia
Hidrocefalia. Fonte: Shutterstock.
Abscesso cerebral.
Abscesso cerebral. Fonte: Shutterstock.

E o tratamento, como vai ser?

Hora de começar o tratamento do nosso recém-nascido com meningite neonatal. Primeiramente: suporte, certo? Suporte ventilatório, drogas vasoativas (se necessárias), manutenção de temperatura, hidratação, correção de distúrbios metabólicos, monitorização e o pilar principal disso tudo: os antibióticos

O início rápido é importantíssimo para reduzir a morbimortalidade, e vamos iniciá-lo de forma empírica para, guiados pela cultura de LCR, direcioná-lo após. Em casos de meningite precoce, indica-se começar com ampicilina + gentamicina ou cefotaxima. Já na tardia, ampi + genta + vanco ou vanco + cefotaxima. Uma vez com os resultados das culturas em mãos, podemos alterar a terapia antibiótica para algo mais específico. A duração do tratamento vai depender do microrganismo isolado e se há presença de complicações. 

Para os quadros de meningite neonatal não complicadas:

  • EGB, Listeria, S. pneumoniae ? 14 dias;
  • Pseudomonas, Gram-negativos, S. aureus ? 21 dias.

Na presença de complicações, o tratamento pode ser mais longo, como, por exemplo, 4-6 semanas se houver presença de abscesso cerebral. Outro ponto importante é o acompanhamento através dos exames de imagem e exame neurológico, devido ao elevado índice de sequelas que essa patologia pode deixar. Hidrocefalia, encefalomalácia, atrofia cortical, atrofia de substância branca, paralisia cerebral, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e paralisia de nervos cranianos são algumas delas a longo prazo. 

Galera, tema longo, mas que agora vocês estão afiados, né? Agora, pode cair questão de meningite neonatal em qualquer prova que sabemos que vocês vão arrasar! Falando em provas, os editais estão aí e sabemos que São Paulo adora uma prova prática, né? 

Já deram uma olhada nos nossos artigos sobre isso? Que tal saber direitinho como é uma prova prática nos principais hospitais paulistas? Se já leram todos os nossos conteúdos, convidamos vocês a participarem do nosso CRMedway, curso voltado exclusivamente para esse momento tão tenso, mas muito esperado. 

Vem com a gente pro único lugar possível. Até a próxima!

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CarolinaSausmikat

Carolina Sausmikat

Carioca, nascida na cidade do Rio de Janeiro em 1989, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2014. Pediatra pelo Hospital Municipal Souza Aguiar (concluído em 2017) e Neonatologista pela Unicamp (concluído em 2020). Só com a educação construiremos um futuro melhor.