O reconhecimento e manejo rápido do choque na emergência são cruciais para o desfecho dos pacientes. Para otimizar esse cenário na prática médica, foi desenvolvido o Protocolo RUSH (Rapid Ultrasound for Shock and Hypotension), que emprega a ultrassonografia à beira-leito (POCUS) para avaliar rapidamente as causas do choque.
O atraso no diagnóstico está diretamente relacionado ao aumento da mortalidade, tornando essencial a implementação de protocolos que agilizem a avaliação inicial. Este protocolo tem se mostrado uma ferramenta valiosa na abordagem sistemática da instabilidade hemodinâmica.
O RUSH é um protocolo sistemático que utiliza ultrassom para avaliação imediata dos pacientes com instabilidade hemodinâmica ou choque. O objetivo principal é identificar rapidamente causas potencialmente reversíveis, permitindo o direcionamento terapêutico adequado sem perda de tempo.
Desenvolvido especificamente para situações de urgência, o protocolo é focado, objetivo e pode ser realizado em poucos minutos por qualquer médico treinado em POCUS. A metodologia é organizada para examinar os principais sistemas que podem causar choque de forma sistemática e eficiente.
O protocolo é dividido em três etapas fundamentais, organizadas didaticamente como avaliação da “Bomba”, do “Tanque” e dos “Vasos”. Cada etapa tem objetivos específicos e fornece informações cruciais para o manejo do paciente.
Janelas utilizadas:
Objetivos principais:
Observação importante: Uma fração de ejeção visivelmente reduzida (<30%) sugere choque cardiogênico, enquanto um VD dilatado com septum retificado aponta para embolia pulmonar ou hipertensão pulmonar.
Janelas utilizadas:
Objetivos principais:
Valores de referência importantes:
Estruturas avaliadas:
Objetivos principais:
Técnica de avaliação: A compressão venosa é realizada pressionando a veia femoral com o transdutor. Se não houver colapso completo, deve-se suspeitar de TVP. É importante lembrar que a TVP em membro inferior pode indicar embolia pulmonar como causa do choque.
PACIENTE EM CHOQUE
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PROTOCOLO RUSH
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┌─────────────────┬─────────────────┬─────────────────┐
│ BOMBA │ TANQUE │ VASOS │
├─────────────────┼─────────────────┼─────────────────┤
│ Função cardíaca │ Estado volêmico │ Aorta abdominal │
│ Derrame pericár │ Pneumotórax │ TVP femoral │
│ Sobrecarga VD │ Edema pulmonar │ │
└─────────────────┴─────────────────┴─────────────────┘
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INTEGRAÇÃO DOS ACHADOS
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┌─────────────────┬─────────────────┬─────────────────┬─────────────────┐
│ CARDIOGÊNICO │ HIPOVOLÊMICO │ OBSTRUTIVO │ DISTRIBUTIVO │
├─────────────────┼─────────────────┼─────────────────┼─────────────────┤
│ FE reduzida │ VCI colabada │ VD dilatado │ Função hiperdin │
│ VCI dilatada │ Câmaras pequenas│ VCI dilatada │ VCI variável │
│ Linhas B │ Líquido livre │ TVP presente │ Aorta normal │
└─────────────────┴─────────────────┴─────────────────┴─────────────────┘
Benefício | Descrição |
Rapidez | Realizado em 3-5 minutos à beira-leito, fornecendo informações imediatas sem necessidade de transporte |
Eficiência | Reduz tempo entre diagnóstico e tratamento adequado, impactando diretamente na sobrevida |
Versatilidade | Adaptável ao contexto individual, útil tanto no pronto-socorro quanto na UTI |
Custo-efetividade | Evita exames caros e demorados, direcionando a investigação de forma assertiva |
Os seguintes pontos são fundamentais para dominar o protocolo:
Sobre a VCI:
Sobre pneumotórax:
Sobre tamponamento:
Sobre embolia pulmonar:
PACIENTE COM INSTABILIDADE HEMODINÂMICA
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INICIAR PROTOCOLO RUSH
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1. AVALIAR “BOMBA” (Coração)
├─ Função reduzida? → CHOQUE CARDIOGÊNICO
├─ Derrame pericárdico? → TAMPONAMENTO
└─ VD dilatado? → SUSPEITAR TEP
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2. AVALIAR “TANQUE” (Volemia/Pulmões)
├─ VCI colabada? → HIPOVOLEMIA
├─ Ausência deslizamento pleural? → PNEUMOTÓRAX
└─ Linhas B difusas? → EDEMA PULMONAR
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3. AVALIAR “VASOS” (Grandes vasos)
├─ Aorta >3cm? → ANEURISMA/DISSECÇÃO
└─ TVP presente? → SUSPEITAR TEP
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INTEGRAR ACHADOS + CONTEXTO CLÍNICO
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DEFINIR TIPO DE CHOQUE E CONDUTA
O domínio do Protocolo RUSH representa um avanço significativo na capacidade de avaliação rápida e tomada de decisão na emergência médica. Este protocolo oferece uma abordagem sistemática e eficiente que pode impactar diretamente no prognóstico dos pacientes críticos.
A eficácia do RUSH está na sua simplicidade e objetividade: em poucos minutos, fornece informações valiosas que direcionam completamente o manejo clínico. Por essa razão, tem ganhado cada vez mais aceitação nas emergências em todo o mundo.
Revisem esses conceitos, pratiquem sempre que possível e consolidem esse conhecimento para aplicação tanto na prática clínica quanto em provas de residência. O protocolo RUSH pode ser o diferencial necessário para um atendimento de excelência!
E não deixe de conferir mais conteúdos sobre prática médica no nosso blog. Grande abraço, e até a próxima!
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.