Reprodução assistida: o que é, funcionamento e a carreira nesta área

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Imagine uma pessoa que dedicou anos da sua vida para construir sua carreira, alcançar a tão sonhada estabilidade financeira e, agora, sente que está no momento certo de concretizar o sonho de expandir a sua família. Mas, por algum motivo, surge uma barreira inesperada… Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a infertilidade afeta 1 a cada 6 indivíduos no mundo. Destaque-se que reverter a infertilidade depende de uma criteriosa avaliação médica — mas ela possui soluções cada vez mais eficazes por meio da reprodução assistida.

Se você é um profissional da área da saúde ou um estudante de Medicina, provavelmente já se perguntou como seria se especializar e atuar nessa área, que não apenas abre portas para uma carreira de grande impacto e reconhecimento, como também pode ajudar pacientes a conquistarem o sonho de ter um filho.

Nesse artigo, vamos abordar o tema, desde o cenário da infertilidade no Brasil até os meios de se tornar um especialista no assunto e profissional no ramo. Então, se está buscando uma oportunidade na área ou se é apenas um estudante curioso sobre o assunto, continue a leitura!

O que é a reprodução assistida?

A reprodução assistida é um conjunto de tratamentos da Medicina que ajudam pessoas com dificuldades para engravidar naturalmente. As técnicas vão desde a indução da ovulação, que se dá apenas com o uso de medicamentos, até métodos mais complexos, como a fertilização in vitro (FIV).

A Medicina Reprodutiva teve grandes avanços desde a descoberta deste último método e o nascimento do primeiro bebê fruto de uma FIV, permitindo que pessoas com diferentes diagnósticos de infertilidade possam engravidar.

Existem várias técnicas de reprodução assistida. As principais delas estão listadas a seguir!

Relação sexual programada (RSP)

Também conhecida como coito programado, é uma técnica de baixo risco que se dá com a estimulação ovariana, com medicamentos hormonais, monitoramento do ciclo menstrual, indução da ovulação, com uma dose de hCG e a recomendação de relações sexuais, sem o uso de preservativos, principalmente durante o período fértil.

Inseminação intrauterina (IIU)

A inseminação intrauterina é a introdução de espermatozoides previamente preparados diretamente no útero, durante o período fértil.

Quando a gravidez ocorre de forma natural, os espermatozoides precisam percorrer o caminho uterino até atingir as trompas, onde serão fecundados. A inseminação intrauterina facilita esse caminho aumentando, assim, as chances de ocorrer uma gravidez.

Fertilização in vitro (FIV)

A fertilização in vitro é um pouco mais complexa. Neste caso, a fecundação de óvulos e espermatozoides se dá em laboratórios. Somente depois ocorre a transferência do embrião para o útero.

Injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI)

Essa técnica já é mais indicada para casos graves de infertilidade masculina. Nela, são selecionados os óvulos e os espermatozoides de melhor qualidade. Depois de selecionados, o espermatozoide é injetado no óvulo com uma agulha microscópica e tem sua evolução observada no óvulo até que o embrião possa ser transferido, com segurança, para o útero.

Critérios e limites para aplicação da reprodução assistida

Todas as técnicas mencionadas são regulamentadas no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que estabelece critérios éticos e limites para sua aplicação. Alguns dos parâmetros estabelecidos pelo CFM:

  • Idade: 50 anos é a idade máxima para pessoas candidatas à gestação;
  • Consentimento: é necessário o consentimento livre e esclarecido de todos os envolvidos;
  • Seleção: as técnicas não podem ser aplicadas na intenção de selecionar o sexo ou qualquer outra característica da criança;
  • Embriões: para mulheres de até 37 anos, somente 2 embriões podem ser transferidos. Acima de 37 anos, até 3;
  • Gravidez múltipla: ocorrendo uma gravidez múltipla, é proibido qualquer procedimento que busque uma redução embrionária;
  • União homoafetiva: nesse tipo de união, é permitido que o embrião de uma mulher seja transferido para o útero de sua parceira;
  • Clínicas: são responsáveis pelos registros das gestações, do fechamento delas e pelo registro permanente dos exames. Devem realizar o controle de doenças, o descarte adequado para material biológico humano, dentre outras atividades;
  • Doações: não podem ter fins comerciais ou lucrativos. Os doadores não podem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa, exceto em caso de parentesco de até quarto grau.
  • Cedente temporária: conhecida popularmente como barriga de aluguel, deve ter pelo menos um filho vivo e deve ser familiar de um dos parceiros em até quarto grau;
  • Post mortem: é permitida a reprodução assistida post mortem somente com autorização de acordo com a legislação vigente.

Infertilidade: dados e cenário atual no Brasil

A infertilidade é um problema global que afeta cerca de 15% dos casais em idade reprodutiva, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Somente no Brasil, são cerca de 8 milhões de pessoas inférteis, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).

As principais causas feminina de infertilidade são:

  • Alterações hormonais;
  • Problemas tubários, uterinos ou de ovulação;
  • Idade avançada;
  • Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs);
  • Doenças crônicas;
  • Uso de medicamentos, principalmente de antidepressivos.

Entre as causas masculinas de infertilidade estão:

  • Varicocele;
  • Infecções;
  • Obstrução do canal por onde passam os espermatozoides;
  • Doenças sexualmente transmissíveis (DSTs);
  • Tumores;
  • Alterações hormonais ou genéticas.

Além disso, fatores como estresse, má alimentação, obesidade, tabagismo, consumo de álcool e uso de drogas ilícitas também podem influenciar. O tratamento sempre será de acordo com a causa do problema.

Como cada vez mais pessoas têm optado pela gravidez após os 35 anos de idade, a busca por profissionais da área tem aumentado. Segundo pesquisa realizada pela Redirection International, a medicina reprodutiva no país deve crescer, em média, 23% até o ano de 2026.

Como funciona a reprodução assistida na prática?

O procedimento pode variar de acordo com a técnica utilizada, mas as etapas, em geral, costumam ser as seguintes:

  • Avaliação inicial feita por um especialista, com exames hormonais, ultrassom e espermograma;
  • Estimulação ovariana, com o uso de medicamentos induzindo a produção de óvulos;
  • Coleta de óvulos e espermatozoides, que é feita por punção, em pessoas do sexo feminino e pela masturbação, em pessoas do sexo masculino;
  • Fertilização em laboratório;
  • Seleção dos melhores embriões e transferência para o útero;
  • Teste de gravidez, realizado em torno de 12 dias após a transferência.

Cada caso é único, e o médico especialista deve personalizar o tratamento de acordo com as necessidades dos envolvidos.

Quanto custa um tratamento de reprodução assistida?

Os valores variam de acordo com a clínica e a equipe médica, o procedimento escolhido e os exames complementares. No Brasil, os preços médios são:

  • Relação sexual programada (RSP): R$ 600,00 a R$ 1.500,00;
  • Inseminação intrauterina (IIU): R$ 2.500,00 a R$ 5.000,00;
  • Fertilização in vitro (FIV): R$ 15.000,00 a R$ 30.000,00, por ciclo.

É sempre válido lembrar que planos de saúde podem cobrir, em alguns casos, parte das despesas, mas a maior parte ainda é custeada pelos próprios pacientes.

Onde fazer tratamento de reprodução assistida pelo SUS?

O direito à reprodução assistida é constitucional e é um procedimento oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. O SUS oferece alguns procedimentos, mas a disponibilidade depende da região. 

Os principais centros são o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e o Hospital São Paulo da Universidade de São Paulo.

Entre as técnicas disponíveis estão:

  • Fertilização in vitro (FIV);
  • Inseminação artificial;
  • Indução da ovulação;
  • Coito programado;
  • Injeção intracitoplasmática de espermatozoide.

Para consegui-la, é necessário um encaminhamento pelos postos de saúde e são pouquíssimos os centros de reprodução humana assistida que oferecem o procedimento totalmente gratuito. No entanto, todos os 10 centros do SUS são considerados referência e atendem a todas as normas de segurança e qualidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Como se tornar médico especialista em reprodução assistida?

Para se tornar um médico especialista em reprodução assistida, é necessário:

  • Formação no curso de Medicina (6 anos de graduação).
  • Residência em Ginecologia e Obstetrícia (3 anos).
  • Especialização em Reprodução Humana (pós-graduação ou fellowship em clínicas especializadas).

Além disso, também é preciso estar sempre atualizado sobre as novas técnicas e diretrizes éticas da área.

Agora você conhece melhor a carreira em Reprodução Assistida!

A reprodução assistida é uma das áreas mais gratificantes e dinâmicas da Medicina, não apenas por ajudar pacientes a realizarem o sonho de ter filhos, mas também por possibilitar uma carreira de sucesso. Deseja se aprofundar ainda mais? Acesse sempre o blog da Medway e confira outros conteúdos exclusivos para médicos e estudantes.

Daniel Godoy Defavari

Daniel Godoy Defavari

Professor da Medway. Formado pela Universidade de Brasília (UNB), com residência em Ginecologia e Obstetrícia no HC-FMUSP. Ex-preceptor de Ginecologia do HC-FMUSP. Especialista em pré-natal de alto risco e Ginecologia endócrina. Siga no Instagram: @danielgodamedway