Intoxicações exógenas são causas recorrentes no PS com graus variados de gravidade e a cocaína está entre as principais substâncias responsáveis pela síndrome simpatomimética, uma das manifestações de intoxicação exógena.
A cocaína, as anfetaminas e os derivados das anfetaminas, além de descongestionantes nasais e cafeínas, são chamados simpaticomiméticos e têm como efeito a estimulação do sistema nervoso central, dentre outras consequências fisiológicas adrenérgicas.
Os agentes simpatomiméticos promovem estimulação da atividade simpática através de: aumento de liberação de catecolaminas, bloqueio da recaptação e interferência no metabolismo de estimulação direta de receptores adrenérgicos B1 e A1.
Os principais efeitos clínicos dos simpatomiméticos são:
A apresentação clínica irá depender da dose, via de administração e tempo de apresentação após o uso de drogas.
Em todo paciente com síndrome simpatomimética devemos suspeitar de intoxicação por cocaína e crack. A presença de pó nas narinas, lesões na mucosa nasal e queimaduras nos dedos são fortes indicativos.
Como citado no começo do texto, a morte por overdose aguda de cocaína é significativamente maior em dias com temperaturas superiores a 31 graus, possivelmente como resultado da capacidade prejudicada do indivíduo de se esfriar em temperaturas mais quentes.
A diaforese profunda associada à cocaína pode estar ausente ou limitada em ambientes mais frios, ou se o paciente estiver excessivamente desidratado.
As ações tomadas durante estas primeiras etapas do atendimento são cruciais. Como a etiologia da condição do paciente muitas vezes não é clara, a prioridade inicial é reconhecer e tratar o delírio e a agitação que ameaçam a vida.
Os pacientes, geralmente, estão inconscientes ou não cooperativos, logo, é importante tentar obter histórico com familiares e paramédicos.
A avaliação inicial deve focar em complicações rapidamente fatais, especificamente hipertermia, emergências hipertensivas e arritmias cardíacas.
Logo, se atente a esses itens:
A hipertermia deve ser tratada com arrefecimento rápido, pois os pacientes que sustentam temperaturas elevadas, acima de 41 °C por mais de 20 minutos, ficam suscetíveis a evoluir com falência múltipla de órgãos.
O manejo da hipertermia se baseia em dois pilares: resfriamento e monitorização.
O resfriamento é realizado com infusão rápida de cristaloide, já a monitorização ocorre por sonda retal e exames laboratoriais.
Os exames, além de auxiliarem no controle da hipertermia, podem direcionar o tratamento e a realização de outros mais específicos. Em intoxicações, exames complementares indicados incluem:
Tenha em mente: o tratamento empírico começa antes dos resultados laboratoriais. Além disso, em conjunto com a avaliação inicial e estabilização, é preciso impedir a absorção sistêmica do tóxico no organismo é primordial.
Para escolha da medida de descontaminação , tudo irá depender da via de exposição. As principais medidas de descontaminação são:
Apesar das medidas de descontaminação, os pacientes podem aparecer ao pronto-socorro com mais de duas horas de exposição ou com tempo de exposição incerto.
Esse grupo é ainda mais relevante a identificação a substância exógena para o manejo adequado. Alguns compostos vão ser eliminados naturalmente pelo corpo, outros, se eliminados por via urinária ou hepática irão causar prejuízos.
Dessa forma, existem métodos externos para isso, como a alcalinização hepática, métodos dialíticos e emulsão intravenosa de lípides.
Por fim, o tratamento também irá variar de acordo com os sintomas. Por exemplo: se houver agitação ou convulsão, usaremos diazepam. Em caso de hipertensão, devemos evitar betabloqueadores, pois eles provocam hipertensão paradoxal e aumentam a vasoconstrição coronariana. Para tratar taquicardia, precisaremos de lidocaína e bicarbonato de sódio.
Angina: nitratos, bloqueador canal cálcio
Casos de IAM: conduta padrão (exceto quanto aos beta-bloqueadores)
Pacientes com intoxicação aguda leve ou moderada devem ser mantidos em observação entre 6-8 horas. Em caso de dor torácica, obter marcadores de necrose seriados antes da alta, e hipertermia ou sintomas neurológicos realizar observação prolongada.
Esperamos ter esclarecido as dúvidas em torno da síndrome sinpatomimética e qual é o manejo correto dessa condição. Aqui, no nosso blog, disponibilizamos uma série de conteúdos sobre Medicina de Emergência e residência médica para contribuir com sua preparação.
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VELASCO, I.; BRANDÃO NETO, R; SOUZA, H.; MARINO, L.; MARCHINI, J; ALENCAR, J. MEDICINA DE EMERGÊNCIA: ABORDAGEM PRÁTICA. MANOLE. 2020
WALLS, R., HOCKBERGER, R., GAUSCHE-HILL, M. Rosen Medicina de Emergência: Conceitos e Prática Médica. GEN Guanabara Koogan. 2019.
Formação em Medicina na Universidade Nove de Julho pelo FIES. Pesquisa no Instituto do Coração de São Paulo da Faculdade de Medicina da USP.