Tratamento medicamentoso para Covid-19: o que vale a pena até agora?

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Salve, salve meus queridos! Há quase 2 anos, estamos enfrentando a pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2. Muitos foram os tratamentos propostos, mas poucos demonstraram real efetividade contra esse vírus! Assim sendo, o post de hoje revisará o tratamento medicamentoso que tem eficácia contra a COVID-19. Por isso, siga comigo para ficarmos mais atualizados sobre essa pandemia! 

Observação: não vamos revisar o diagnóstico ou os modos de ventilação mecânica para pacientes com Covid-19, visto que terá um post para esses assuntos ?. 

Definindo a severidade da doença

Antes de falarmos do tratamento medicamentoso pra COVID-19, precisamos relembrar a classificação da severidade da doença, visto que a depender da classificação, a conduta terapêutica muda.

  • Assintomáticos: são aqueles pacientes que têm teste positivo para SARS-CoV-2 (exemplo: Swab nasal), mas que não expressam nenhum sintoma decorrente da infecção. 
  • Doença leve: são aqueles pacientes com algum teste positivo para SARS-CoV-2 e que apresentam sintomas leves, como febre, tosse e alterações do paladar e olfato, porém sem referir dispneia.
  • Doença moderada: são aqueles pacientes infectados com SARS-CoV-2, que apresentam acometimento no trato respiratório inferior, mas apresentam saturação periférica de oxigênio (SaO2) maior ou igual a 94% em ar ambiente.
  • Doença severa: representado pelos pacientes com infecção por SARS-CoV-2, que apresentam SaO2 < 94%, frequência respiratória > 30 incursões por minuto e/ou infiltrado pulmonar com acometimento > 50% do parênquima. 
  • Doença crítica: classificação designada para os pacientes que apresentam insuficiência respiratória, choque hemodinâmico e/ou disfunção de múltiplos órgãos. 

Tratamento medicamentoso pra COVID-19: tratamentos específicos

Corticoide

O uso de corticoides é recomendado a todos os pacientes que estejam recebendo oxigênio suplementar, seja em baixo fluxo (exemplo: cateter nasal de oxigênio) ou mesmo em suporte ventilatório com ventilação mecânica ou ECMO.

O corticoide mais estudado nessa população foi a dexametasona na dose de 6 mg uma vez por dia (via oral ou intravenosa) durante 10 dias OU até o paciente receber alta hospitalar. Se a dexametasona não estiver disponível no seu serviço, pode-se optar pelas doses equivalentes de outros corticoides, como, por exemplo: 

  • Hidrocortisona 150 mg/dia;
  • Metilprednisolona 32 mg/dia; 
  • Prednisona 40 mg/dia;

Mas lembre-se de que o uso dos corticoides demonstraram redução da mortalidade naqueles pacientes que estavam usando oxigênio suplementar! Para aqueles que não estavam, o uso desses medicamentos aumentou a mortalidade. Vale ressaltar também que devemos monitorar a glicemia capilar desses pacientes que estão internados, visto que hiperglicemia é um efeito colateral dos glicocorticoides

Baricitinib 

O baricitinib é um inibidor seletivo reversível das enzimas JAK1 e JAK2, que atuam basicamente na sinalização intracelular para a ativação da resposta inflamatória. Assim, esse remédio atua na redução da resposta inflamatória por reduzir essa sinalização intracelular. É um medicamento muito utilizado no tratamento de artrite reumatoide refratária ao tratamento convencional

No contexto do SARS-CoV-2, o uso do baricitinib é uma opção terapêutica para aqueles pacientes que estão utilizando dispositivos de alto fluxo de oxigênio (exemplo: cateter nasal de alto-fluxo) ou para aqueles que estão usando oxigênio suplementar em dispositivos de baixo fluxo, mas que vem necessitando do aumento de suporte ventilatório apesar do uso de dexametasona. 

É reservado para aqueles dentro de 96 horas de internação hospitalar ou após 24-48h de admissão em unidade de terapia intensiva. Vale ressaltar que os pacientes candidatos a baricitinib devem ser imunocompetentes. A dose de baricitinib é de 4 mg via oral ou por sonda nasoentérica uma vez por dia durante 14 dias. Para aqueles pacientes com função renal abaixo de 15 mL/min, o uso desse medicamento não é recomendado

Tocilizumab

O tocilizumab atua no bloqueio dos receptores do IL-6, reduzindo a progressão da cascata inflamatória. Esse medicamento é reservado aos pacientes que já estão utilizando corticoide e não estão apresentando melhora clínica e laboratorial (redução dos marcadores inflamatórios) dentro de 96h da internação hospitalar ou após 24 a 48h da admissão em unidade de terapia intensiva. 

Esse medicamento também é reservado para os pacientes imunocompetentes e que não apresentam neutrófilos < 1000 cels/mm3, plaquetas < 50.000 e ALT > 10x o limite superior de normalidade. A vantagem do tocilizumab é a posologia: 8 mg/kg via intravenosa em dose única. E uma ressalva importante: NÃO podemos utilizar tocilizumab e baricitinib juntos! 

Remdesivir

É um análogo de nucleotídeos que possui atividade in vitro contra o SARS-CoV-2, porém na prática não é muito bem isso.

Há muitas divergências sobre o uso desse medicamento em pacientes gravemente enfermos ou mesmo em pacientes que não necessitam de oxigênio suplementar, mas que têm alto risco para progressão grave de doença

Então, o que se recomenda atualmente de tratamento medicamentoso pra COVID-19?

Em pacientes utilizando dispositivos de baixo fluxo de oxigênio, é recomendado o uso de corticoide e remdesivir, se este último estiver disponível. A dose é de 200 mg IV no primeiro dia, seguidos de 100 mg uma vez por dia por mais 4 dias. 

Em pacientes que não necessitem de oxigênio suplementar, MAS possuem alto risco clínico e laboratorial para doença severa, é recomendado o uso de remdesivir. 

E quais são os pacientes de alto risco?

Critérios laboratoriais: 

  • D-dímero > 1000 mg/mL;
  • PCR > 100 mg/L;
  • DHL > 245 U/L;
  • Troponina > 2x o limite superior de normalidade;
  • Ferritina > 500 mcg/L;
  • CPK > 2x o limite superior de normalidade;
  • Linfócitos absolutos < 800 células/microlitro. 

Comorbidades preexistentes (pelo menos 1): 

  • neoplasia maligna;
  • doença cerebrovascular e cardiovascular;
  • doença renal crônica;
  • doença Pulmonar Obstrutiva Crônica/pneumopatias intersticiais;
  • diabetes mellitus tipo 1 ou 2;
  • infecção por HIV;
  • obesidade (IMC > 30 Kg/m²);
  • tabagismo;
  • anemia falciforme/Talassemias;
  • transplante de órgão sólido;
  • uso de imunossupressores.

Curtiu saber mais sobre tratamento medicamentoso pra COVID-19?

É isso, meus queridos! Espero que com o post de hoje, vocês fiquem mais experientes em tratamento medicamentoso pra COVID-19! Caso vocês ainda não dominem o plantão de pronto-socorro 100%, fica aqui uma sugestão: temos um material que pode te ajudar com isso, que é o nosso Guia de Prescrições. Com ele, você vai estar muito mais preparado para atuar em qualquer sala de emergência do Brasil.

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Gabriel Martinez