Como anda a proporção de vagas de residência médica para médicos formados? Esse é um assunto importante, e que tem dado o que falar. Isso porque, de acordo com estatísticas da Demografia Médica 2023, há uma defasagem expressiva nesse número.
Mas há uma explicação por trás dos dados, e é sobre isso que vamos falar hoje. Afinal, entender melhor por que isso acontece é importante para quem está para se formar e já começa a se preparar para os próximos processos seletivos que acontecerão em breve.
Então, vamos direto ao ponto? A seguir, você confere mais detalhes para entender todo esse cenário e descobre algumas soluções para o problema.
Quando se compara a oferta nacional de vagas para R1 de um determinado ano com o número de profissionais graduados no ano anterior, que estariam aptos a iniciar sua residência médica, é possível perceber um certo desencontro entre a quantidade de postos disponíveis e o número de formandos. Muitos cursos de Medicina foram abertos no Brasil, e é por isso que as vagas de residência médica não são suficientes para receber todos esses médicos recém-formados.
O documento Demografia Médica 2023 mostra, em uma análise, que a defasagem entre o número de médicos graduados em 2018 e a quantidade de vagas para residência em 2019 foi de 6.240 postos. Nos anos anteriores, os números se mostraram igualmente preocupantes.
Mais tarde, entre os anos de 2019 e 2020, o número foi ainda maior: uma defasagem de 10.563 vagas. Por fim, considerando as 41.805 vagas de residência ofertadas em 2022, se não houver um aumento dos postos disponibilizados, em um curto período de tempo a defasagem de vagas tende a crescer exponencialmente.
Entretanto, é importante lembrar que a prática médica em nosso país não exige uma especialização. Ou seja, o graduado pode exercer a profissão como médico especialista, e é por isso que a “universalização” dos programas de residência é um conceito que não funciona mais: não há uma vaga de residência para cada recém-formado.
Além disso, vale lembrar que muitos médicos decidem não cursar a residência assim que saem da faculdade. Essa decisão é tomada algum tempo depois, ou então o profissional decide investir em outro tipo de especialização.
Outra questão que faz parte do estudo sobre vagas de residência médica são aquelas ocupadas e não ocupadas, autorizadas pela CNRM. É uma estimativa, apenas, mas complementa a visão sobre a defasagem e suas justificativas.
Os dados pesquisados mostram que apesar do aumento do número de vagas autorizadas nos quatro anos observados (2018 a 2021), a não ocupação delas também cresceu no mesmo período. Para se ter uma ideia, em 2018, 15,7% das vagas não foram preenchidas.
Em 2020 e 2021, as taxas dobraram: em 2020, a porcentagem passou a ser de 28,1%. Já em 2021, a ociosidade atingiu 31,8% do total de vagas liberadas.
Contudo, não há uma determinação comum sobre como conceituar e mensurar as vagas ociosas dos programas de residências. O entendimento que se tem é que a não ocupação pode estar relacionada a uma série de motivos.
Por exemplo, a falta de bolsas para residentes, a ausência de preceptores nas instituições, e falhas administrativas em geral dentro de hospitais e universidades. É indispensável considerar também que alguns médicos simplesmente desistem do programa mesmo após a aprovação.
Sem dizer as especialidades que têm uma procura baixa: algumas nem mesmo apresentam cálculo de concorrência, o que significa que não houve nenhum inscrito.
Vale lembrar também que em 2020 e 2021, a pandemia da Covid-19 impactou muito o setor da educação, e as vagas de residência também sofreram um número maior de desistências e não ocupação.
Outro ponto importante é que os dados divulgados agora não podem ser comparados com o estudo de Demografia Médica anterior a este, lançado em 2020. O MEC implementou uma série de mudanças em processos e análises de informações das vagas disponibilizadas e preenchidas.
Mas e então, como solucionar o problema da defasagem? O levantamento da pesquisa apresenta algumas soluções, que embora não tenham previsão para serem colocadas em prática, poderão ser ajustadas e executadas nos próximos anos:
1. Tornar compatíveis as ofertas de vagas residência com o crescimento de médicos recém-formados que demandam especialização no futuro, de maneira proporcional.
2. Diminuir a desigualdade regional na disponibilização de vagas de residência médica e na atuação de residentes, para que a distribuição de especialistas pelo país fique mais justa.
3. Readequação da distribuição de vagas de residência médica entre as especialidades. É fundamental considerar áreas e serviços que são estratégicos para que o SUS continue a ser mantido de forma sustentável, além de avaliar necessidades de saúde de acordo com perfis demográficos e epidemiológicos, além de analisar aspectos do mercado de trabalho para a Medicina.
4. Acompanhar o impacto das leis para residência médica e de programas do governo que incentivam a oferta de vagas e a disponibilização de bolsas para residentes.
5. Enfrentar os desafios que não permite o preenchimento total e a ocupação das vagas dos programas de residência médica que são devidamente autorizadas.
É um bom plano, concorda? Entretanto, esse será um longo caminho a ser percorrido. É por isso que a conscientização sobre o tema é tão importante: pense bastante sobre a especialidade na qual quer atuar, dedique-se, estude as oportunidades do mercado de trabalho e não faça parte das estatísticas de vagas ociosas.
Por fim, toda a análise médica demográfica é essencial para que se projete e planeje a quantidade de especialistas que ocuparão o sistema de saúde brasileiro. Até porque, hoje vemos que alguns estados têm um número muito maior de médicos em comparação a outros, com demanda em especial para certas especialidades com pouca procura no geral.
E então, gostou de entender mais sobre o aumento da defasagem de ocupação das vagas de residência médica em relação ao número de médicos formados? Esse é um tema que, com certeza, continuará a ser analisado nos anos seguintes, então continue de olho e se mantenha informado.
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Paranaense, nascido em Curitiba em 1991. Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2016, com residência em Ginecologia e Obstetrícia na UNICAMP, concluída em 2019. Especialização em Ginecologia Endócrina e Reprodução Humana pela USP-RP em 2019 até 2020. Tem experiência como fellow em Reprodução Humana pela clínica NeoVita, em São Paulo (SP). Nada vem de graça, os resultados refletem a sua dedicação! Siga no Instagram: @dr.marcelomontenegro