5 perguntas sobre Epidemiologia solucionadas com comentários

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O estudo guiado por questões é eficaz durante a preparação para as provas de residência médica. Para orientar nessa fase tão importante, trouxemos cinco perguntas sobre Epidemiologia comentadas detalhadamente.

Esse tipo de estudo proporciona diversos benefícios, em que se destacam principalmente a memorização de conteúdos e o ganho de expertise sobre as provas de diferentes processos seletivos.

Além disso, ao estudar questões de Epidemiologia com gabarito, fica mais fácil identificar as temáticas que precisam ser reforçadas. Dessa forma, a revisão é direcionada para os pontos que realmente são cobrados nas principais instituições.

A dica é utilizar as perguntas a seguir para treinar, como se fosse um simulado de Epidemiologia com gabarito. Ao finalizar, confira as respostas comentadas e compare com a sua linha de raciocínio.

Questão 1

FAMEMA 2016 (discursiva) – Um pesquisador idealizou um estudo do tipo “ensaio clínico randomizado placebo controlado” para verificar se um novo fio de sutura é melhor que outro determinado fio tradicional.

O pesquisador estabeleceu um valor de p = 0,03 para análises das variáveis estudadas, porém, os resultados demonstraram um valor de p = 0,07 para todas elas. Considerando somente essa significância aritmética, o novo fio de sutura deve substituir o fio tradicional? Justifique sua resposta.

Comentário

O p representa o valor probabilístico de um resultado se repetir ao acaso utilizando uma amostra com as mesmas características. Em geral, os estudos utilizam p = 0,05 como coorte, mas isso pode variar para mais ou menos a partir do que os pesquisadores consideram ou não adequado para o que está sendo estudado. Um p abaixo daquele que se utiliza como coorte é considerado significativo.

A questão da prova de Epidemiologia traz um estudo em que o pesquisador define o coorte como p = 0,03 e obtém p = 0,07. Sendo 0,07 maior que 0,03, o resultado não foi estatisticamente significativo, portanto, não há superioridade do tratamento em relação ao grupo-controle.

Assim, como resposta, pode-se afirmar que o novo fio de sutura não deve substituir o fio tradicional por não haver significância estatística quando ambos são comparados, pois o valor obtido (0,07) é superior ao de coorte (0,03).

Visão do aprovado: essa é uma das perguntas sobre Epidemiologia em que o foco conceitual é sobre o que é um p-valor e uma significância estatística. O esperado era saber que p-valores acima do coorte não indicam substituição de um tratamento ou técnica já utilizado. Caso o p-valor obtido fosse de 0,01 em vez de 0,07, haveria uma significância, e o novo fio deveria substituir o tradicional.

Nível de dificuldade: fácil.

Questão 2

UNICAMP 2016 (discursiva) – Em uma Unidade Básica responsável por uma população de baixo estrato socioeconômico, a equipe de saúde percebe aumento progressivo de obesidade infantil.

Em entrevistas abertas com mães de crianças obesas, foi perguntado sobre as dificuldades de oferecer alimentação saudável e atividades físicas. As respostas mais frequentes foram: a) custo restritivo de frutas, verduras e alimentos ricos em fibras, em relação aos outros alimentos, b) espaços públicos escassos e pouco seguros para atividade física infantil e c) pouco tempo disponível para fazer comida e acompanhar as crianças em atividades conjuntas (função da jornada de trabalho, tempo no sistema de transporte e distância do trabalho).

A equipe de saúde avaliou a necessidade de identificar o percentual de crianças com obesidade moradoras no território e alguns fatores associados, como sedentarismo, horas na TV e dieta hipercalórica. Cite o delineamento do estudo epidemiológico adequado para a questão de interesse e duas limitações deste estudo.

Comentário

Essa é uma das perguntas sobre Epidemiologia com delineamento de estudos em que a banca deu um cenário e perguntou tanto o delineamento mais adequado quanto duas limitações. Fizeram um estudo preliminar, no qual foram identificadas algumas dificuldades das mães em oferecer alimentação saudável e atividades físicas a crianças obesas.

Agora, querem realizar um estudo para identificar o percentual (ou a prevalência) de crianças que possuem obesidade e alguns fatores associados. São três motivos que fazem ir na direção de um estudo transversal:

1) querem identificar a prevalência da obesidade. Para isso, o mais adequado é um estudo transversal (que também pode ser chamado de estudo de prevalência);

2) não querem observar quais fatores levaram à ocorrência de obesidade, mas quais estão associados à obesidade no momento. Assim, o mais adequado é fazer um estudo transversal. Se quisessem identificar o risco de desenvolver obesidade ou a associação de ter esses fatores de risco no passado, valeria um estudo de coorte ou caso-controle;

3) se um estudo transversal dá conta de realizar todos os objetivos, é melhor optar por ele, já que é menos custoso e menos demorado que os estudos de caso-controle e coorte, por exemplo.

Entendido que o melhor é um estudo transversal, a próxima pergunta é sobre as limitações. Como se observa apenas os dados do momento no estudo transversal, não dá para avaliar risco, por isso ele possui baixo poder analítico. Como não se observa a obesidade se instalando, não dá para avaliar a incidência (casos novos), apenas a prevalência (número de casos).

Visão do aprovado: em questões sobre Epidemiologia discursivas, sempre fica aquela dúvida de como exatamente a banca quer que os candidatos escrevam. Esse exercício é um exemplo disso!

Você deve ter pensado em como a banca esperava que você adivinhasse as duas limitações que ela queria. Nesses casos, sempre indicamos pedir a ampliação do gabarito.

Nível de dificuldade: fácil.

Gabarito liberado pela banca: Delineamento: estudo transversal. Limitações: 1) baixo poder analítico. 2) não permite o cálculo da incidência, apenas determina a prevalência.

Questão 3

USP-RP 2018 – O estudo de uma doença em uma população revelou taxas anuais de incidência e prevalência (por mil habitantes), por idade, apresentadas na tabela abaixo. Imaginando que a situação epidemiológica não mudou muito nessa população, e a migração de doentes é insignificante, assinale a alternativa que melhor representa a duração média dessa doença.

Idade Incidência anual (por 1.000 habitantes) Prevalência (por 1.000 habitantes)
0 a 5 6 23
6 a 16 3 32
17 a 44 2 26
45 a 64 1 33
Mais de 65 0 36
Total 3 30

A. 10 anos.

B. 33 anos.

C. 13 anos.

D. 4,8 anos.

Comentário

Aparentemente confusa, esta questão pode ter levantado muitas dúvidas, como se faltassem dados ou o enunciado estivesse incompleto. É preciso calcular a duração da doença a partir da incidência e da prevalência.

Nesse caso, é o famoso “menos é mais”. Sendo a incidência um conceito mais ligado à agudização, enquanto a prevalência está relacionada à cronicidade, existe uma relação temporal entre ambas.

A prevalência aumenta à medida que mais casos são diagnosticados (incidência), ao mesmo tempo que outros se curam ou morrem a depender do desfecho da doença. Isso é representado pela linha “total” da tabela, que junta todas as faixas etárias.

Assim, é possível calcular a prevalência a partir da incidência multiplicada pela duração da doença ou a duração da doença a partir da divisão da prevalência e da incidência, como o enunciado pede. A partir dos valores da linha “total” da tabela, a conta seria: 30 / 3 = 10 anos de duração média.

Visão do aprovado: a tabela pode levar à confusão, pois traz diversos valores e faixas etárias. No fim, somente a linha de baixo interessava para a resolução da questão.

Nível de dificuldade: moderado.

Gabarito: alternativa A.

Questão 4

UNIFESP 2018 – A paciente V.R.F., 37 anos, realizou consulta no posto de saúde com suspeita de um possível tumor de mama. Foi indicada a biópsia. O resultado do anatomopatológico indicou tumor de estádio 2. A paciente J.S.S., 44 anos, com tumor de mama, recebeu o resultado de anatomopatológico de estágio 1. Assinale a alternativa CORRETA:

A. a variável do estágio de câncer de mama é qualitativa ordinal. Dessa forma, não se pode afirmar que o prognóstico da paciente V.R.F. seja duas vezes pior que o da paciente J.S.S.

B. a variável do estádio de câncer de mama é categórica nominal. Dessa forma, não se pode afirmar que o prognóstico da paciente V.R.F. seja duas vezes pior que o da paciente J.S.S.

C. a natureza da variável em questão é do tipo intervalar, portanto pode-se afirmar que o prognóstico da paciente V.R.F é duplamente mais agressivo que o da paciente J.S.S.

D. a variável do estádio de câncer de mama é quantitativa discreta. Assim, o prognóstico da paciente J.S.S. é melhor que o da paciente V.R.F.

E. não se pode afirmar nada a respeito da natureza da variável do estádio de câncer e, por conseguinte, a respeito do prognóstico das pacientes.

Comentário

Essa é uma das perguntas sobre Epidemiologia que traz algo do cotidiano: lidar com diagnósticos e informar prognóstico. Não satisfeita, ela também traz um conceito de estatística. Iniciando com os tipos de variáveis, há numéricas (quantitativas) e categóricas (qualitativas).

As variáveis numéricas são subdivididas em contínua, em que os números podem ser infinitamente divididos (2; 2,2; 2,22; 2,222; 2,2222…22), e discretas (1, 2, 3, 4, 5). Nas discretas, por serem números reais, 4 é o dobro de 2.

Já as variáveis categóricas são subdivididas em nominais (sim e não; vermelho e azul, roxo e laranja, oftalmo e ortop, clínica e otorrino) e ordinais, em que há uma ordem. As variáveis categóricas ordinais seriam: ruim, regular, bom e ótimo, por exemplo, podendo ser substituídas por 1, 2, 3, 4.

Veja que, da mesma forma que o regular não é duas vezes melhor que o ruim, nesse caso, dois não é o dobro de um. São exemplos de variáveis categóricas ordinais os diversos tipos de escalas, como de dor, tratamento de asma, DPOC, queimadura e estadiamento de tumor.

A. Correta. A escala de estadiamento de tumor é uma variável categórica/qualitativa ordinal, e não há relação numérica direta (uma ser duas vezes pior que a outra, por exemplo), apenas hierárquica, como uma ser pior que a outra, apenas, sem quantificação. Assim, o estágio dois não tem prognóstico duas vezes pior que o estágio um.

B. Incorreta. Não é uma categórica nominal, pois há estágios 1, 2, 3, 4, e 5, todos obedecendo uma ordem.

C. Incorreta. Intervalar seria uma forma mais rara de nominar variável numérica discreta, a qual não é o estadiamento de tumor.

D. Incorreta. Aqui, em vez de intervalar, chamou-se de quantitativa discreta, errado da mesma forma.

E. Incorreta. Pode-se afirmar, sim! Sempre que falarmos de estadiamento e escala, estaremos falando de variáveis categóricas ordinais.

Visão do aprovado: Mais uma das perguntas sobre Epidemiologia que podem cair na prova da vida por abordar a escala de BIRADS. Não dá para afirmar que um BIRADS 2 é 3x melhor que um BIRADS 6 quando não existe essa relação direta de quantificação, ou, por exemplo, queimadura do tipo 1, 2, 3, ao qual se refere não à porcentagem de corpo queimada, mas à profundidade. Essa é a ideia de escala e estadiamento, portanto, das variáveis categóricas ordinais.

Dificuldade: fácil

Gabarito: A

Questão 5

IAMSPE 2017 – Em uma maternidade de São Paulo, 125 mulheres com história de natimortos e 125 sem história de natimortos são selecionadas para estudo, cujo objetivo é verificar a existência de diferença na ocorrência ou não de natimortos em relação à exposição a um dado fator de risco. Esse estudo é denominado:

A. de coorte.

B. ecológico.

C. de caso-controle.

D. de prevalência.

E. experimental.

Comentário

Esta é mais uma pergunta da lista de exercícios de Epidemiologia resolvidos sobre os estudos epidemiológicos. Quando for necessário identificar o desenho do estudo, lembre-se sempre de aplicar nossa Ferramenta de Delineamento.

1) O estudo é observacional ou intervencionista?

Observacional, já que o investigador está ali no momento do desfecho, observando qual havia sido a exposição e se o desfecho foi desenvolvido. Não há nenhuma indicação de que tenha tido qualquer tipo de intervenção no campo. Aqui, já dá para fechar para: ecológico, série temporal, estudo transversal, coorte ou caso-controle.

2) O tipo de análise é individual ou agregada?

Individual, já que o investigador está olhando caso a caso, se tinha ou não a exposição e se desenvolveu ou não o desfecho. Aqui, já dá para fechar para transversal, coorte ou caso-controle.

3) O olhar é transversal ou longitudinal?

Longitudinal, já que os participantes foram observados tanto quanto à exposição (fatores de risco) quanto ao desfecho (história de natimorto). Aqui, dá para fechar para coorte e caso-controle. Como o estudo partiu do desfecho para a exposição, é um estudo de coorte. Veja cada alternativa:

A. Incorreta: os estudos de coorte partem da exposição para o desfecho. O pesquisador seleciona indivíduos que possuam ou não a exposição e observa se eles adquirem ou não o desfecho. No caso, para ser um coorte, teria que pegar mulheres com algum fator de risco e observar se elas têm ou não natimorto no futuro (inviável, pois natimortalidade é um desfecho raro). A banca tentou confundir já nessa primeira, pois o desfecho colocado foi “história de natimorto”. A ideia deles, provavelmente, era induzir a achar que isso era uma exposição, já que aconteceu no passado.

B. Incorreta: o estudo ecológico avalia desfechos a partir da análise de conglomerados (grupo de indivíduos). São estudos que não avaliam caso a caso, mas usam dados agrupados de uma população. Aqui, como se observa cada mulher e características, não poderia ser ecológico.

C. Correta: o que é determinante no caso controle é que a observação do pesquisador parte do desfecho para a exposição, o que ocorreu nesse exemplo.

D. Incorreta: estudo de prevalência é um sinônimo de estudo transversal, em que o pesquisador estuda determinadas características de uma população em um certo momento. Ou seja, ele não faz um seguimento para ver se a pessoa desenvolveu ou não uma doença. Aqui, como se observa o desfecho e os fatores de risco, não poderia ser um estudo transversal.

E. Incorreta: estudos experimentais, explicando de forma bem simplificada, são os estudos de laboratório.

Visão do aprovado: às vezes, é confuso identificar se está partindo da exposição ou do desfecho. A dica é que “partir do desfecho” significa que o pesquisador seleciona os participantes a partir do desfecho. No exemplo, ele escolheu pessoas que possuíam ou não história de natimortos e observou as exposições que ocorreram no passado.

Dificuldade: fácil

Gabarito: C

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DjonMachado

Djon Machado

Catarinense e médico desde 2015, Djon é formado pela UFSC, fez residência em Clínica Médica na Unicamp e faz parte do time de Medicina Preventiva da Medway. É fissurado por didática e pela criação de novas formas de enxergar a medicina. Siga no Instagram: @djondamedway