5 questões de estudos epidemiológicos comentadas

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A gente já falou aqui no blog sobre a importância — e eficácia — do estudo por questões na hora da preparação para a residência médica. Seus benefícios se destacam principalmente quando os objetivos são memorização de conteúdos e ganho de expertise sobre as provas das diferentes instituições. Por isso, hoje trouxemos 5 questões de estudos epidemiológicos comentadas pra você testar seu conhecimento e ainda receber aquela ajudinha pra qualquer dúvida que surgir. 

Vem conferir as 5 questões de estudos epidemiológicos que separamos pra você! 

USP-RP 2018

Observe o gráfico abaixo. De acordo com os valores apresentados pode-se dizer que:

  1. A prevalência da doença foi maior na região Sul do Brasil
  2. O risco absoluto de se contrair meningite meningocócica foi o mesmo em todas as regiões do Brasil
  3. Na região Nordeste do Brasil o risco absoluto de se contrair a doença foi o menor em todo o país
  4. Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil a prevalência da doença foi semelhante

Comentário:

Leiam o gráfico! Leiam, releiam, releiam de novo, leiam de ponta cabeça, de lado, do avesso! Aqui, estamos diante de um gráfico de incidência, e esse é o ponto chave para acertar a questão de estudos epidemiológicos! A partir disso, vemos que a incidência é crescente entre as regiões NE, N, CO, SE e S. 

A – Incorreta. Não a prevalência, mas a incidência foi maior! Está errado pelo tipo de medida que o gráfico utiliza 

B – Incorreta. O risco absoluto, pelo gráfico, foi maior na região Sul e menor no Nordeste e não igual em todo o país.

C – Correta. O risco absoluto do Nordeste, ou seja, o risco de adoecer, foi o menor do país, conforme podemos ver no gráfico

D – Incorreta. A incidência da doença foi praticamente a mesma, porém não a prevalência, mais uma pegadinha!

Visão do aprovado: A troca entre prevalência e incidência poderia trazer problemas e dúvidas nessa questão de estudos epidemiológicos. Leia atentamente os gráficos e o que eles trazem de informação, qual a medida que estão utilizando, isso é primordial para matar uma questão que envolve gráficos e também tabelas! Muitas vezes o detalhe está na legenda.

Nível de dificuldade: Fácil

Gabarito: C

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IAMSPE 2020

Numa observação clínica, quando grupos ao serem comparados são diferentes em relação a todas as variáveis que determinam o resultado da associação, exceto naquela em estudo, apresenta-se um vício de

  1. aferição.
  2. confusão.
  3. erro aleatório.
  4. seleção.
  5. amostragem.

Comentário:

Imagine que você queira provar que pessoas que usam um determinado fator tem mais risco de desenvolver um desfecho, por exemplo, gluten e obesidade. E então você tem 2 grupos, sendo que um deles precisará comer glúten e o outro não (grupo controle). Além disso, você equipara todas as características dos grupos como gênero, idade, comorbidades, menos uma, a obesidade. Então, no grupo que come gluten, todos eram obesos, enquanto no seu grupo controle, nenhum era obeso. E então você conclui que provou a relação entre gluten e obesidade

Mas veja que existe aqui um viés fortíssimo de como você selecionou seus grupos, pois você induziu um desfecho, correto? O nome disso é viés de seleção, quando os pesquisadores selecionam os participantes de forma a provarem sua hipótese.

A – Incorreta. Viés de aferição é baseado no erro de medida de um aparelho que está descalibrado, ou a variabilidade entre os observadores, gerando um erro de medida.  

B – Incorreta. Viés de confusão seria um erro em estabelecer causa e efeito por haver mais de um fator interferindo, por exemplo, pessoas que fumam e tomam café tem maior propensão à úlcera gástrica, mas boa parte das pessoas que fumam também tomam café, então qual seria o fator determinante?

C – Incorreta. Erro aleatório é algo que faz parte da probabilística de qualquer estudo científico, mas nesse caso, não é o que está ocorrendo pelo explicado acima

D – Correta. Conforme explicado acima, alternativa correta

E – Incorreta. Erro de amostragem ocorre quando há uma diferença entre as características incluídas na pesquisa e as características da população real. Por exemplo, em uma população de baixa estatura, termos, em nosso projeto, apenas pessoas de estatura alta.

Visão do aprovado: A forma de quebrar o viés de seleção é pela randomização, por impossibilitar do pesquisador selecionar os grupos. Isso poderia ter sido cobrado nessa questão de estudos epidemiológicos como tem sido cobrado bastante nas provas.

Nível de dificuldade: Médio

Gabarito: D

USP 2020

A força isocinética foi medida em 200 homens e mulheres saudáveis de 45 a 78 anos de idade para examinar a relação entre força muscular, idade e composição corporal. O pico de torque foi medido a 60 e 240 graus/s no joelho e a 60 e 180 graus/s no cotovelo usando o dinamômetro Cybex II®. A massa isenta de gordura (MIG) foi estimada por pesagem hidrostática em todos os sujeitos, e a mesma massa muscular (MM) foi determinada em 141 indivíduos a partir da excreção de creatinina urinária. Observou-se que a MIG e MM foram menores no grupo dos mais velhos (p<0,001). A força de todos os grupos musculares foi menor em mulheres e nos mais velhos (p<0,006), mas quando ajustada para MIG ou MM, estas diferenças não se mostraram significantes. Estes dados sugerem que o MM é um principal determinante das diferenças relacionadas à idade e sexo na força muscular esquelética. (Journal of Applied Physiology 7 (2), 644-50) Qual das medidas de associação a seguir pode ser utilizada neste tipo de estudo?

  1. Risco atribuível.
  2. Hazard ratio.
  3. Risco relativo.
  4. Razão de prevalência.

Comentário:

Temos duas formas de resolver a questão: direto pela medida de associação, mais difícil, e a partir do tipo de estudo. O que temos é um estudo onde foram avaliadas 200 pessoas de diversas idades e gêneros, sendo analisada a partir da estratificação. Apenas com isso, poderíamos pensar em coorte, transversal e caso-controle. O primeiro e o último estariam de certa forma eliminados por um detalhe: há, aqui, um grupo único! Houve avaliação de todos, sem comparação de grupos, mas de estratos dentro do mesmo grupo. Este, portanto, é um estudo transversal (cross-sectional). Agora ficou mais tranquilo de pensar! A medida de associação desse tipo de estudo é a razão da prevalência. 

Nível de dificuldade: Médio

Gabarito: D

Unicamp 2019

Um estudo comparou as taxas de incidência de câncer de cólon em mulheres adultas em 10 países e as respectivas médias anuais de consumo de carne vermelha no ano de 2015. O DESENHO DO ESTUDO É:

  1. Coorte para detectar incidência de câncer entre as mulheres de risco.
  2. Caso controle para se detectar fatores de risco de câncer de cólon.
  3. Ecológico para se detectar correlações statísticas.
  4. Estudo de caso de grupos de mulheres acometidas pela doença.

Comentário: 

Nesta questão de estudos epidemiológicos, observamos que o objetivo do pesquisador é comparar taxas de incidência de câncer de cólon em 10 países diferentes. Para transformar essa informação em classificação do tipo de estudo, vamos responder às perguntas do delineamento:

– Esse estudo é observacional ou intervencionista?

– A análise é individual ou agregada?

– O olhar é transversal ou longitudinal?

O enunciado deixou claro que o estudo é multicêntrico para avaliar as taxas de incidência em diferentes países do planeta, mostrando que é uma análise agregada. Além disso, observamos que o estudo é observacional, já que não houve intervenções, e também transversal, já que não houve seguimento das pacientes que participaram. Com essas informações, fica mais fácil analisarmos as alternativas em busca da resposta correta:

A – Incorreta. Para ser um estudo do tipo coorte, seria necessário que esse estudo fizesse acompanhamento longitudinal das pacientes. Não é o que ocorre.

B – Incorreta. O estudo não foi realizado encontrando pessoas doentes e buscando quais seriam os possíveis fatores de risco associados ao surgimento da doença. Não foi, portanto, um estudo do tipo caso-controle.

C – Correta. O estudo ecológico reúne exatamente as características que observamos na descrição acima. Inclusive, quando a questão fala sobre análise de grupos populacionais de CEP`s diferentes, esse estudo costuma ser do tipo ecológico.

D – Incorreta. O relato de caso das mulheres acometidas pela doença não seria indicado, pois o objetivo dos relatos é descrever uma situação, enquanto nosso enunciado pede um estudo que compare as taxas de incidência.

Visão do aprovado: Vocês já devem ter percebido que as questões de estudos epidemiológicos da UNICAMP tem comandos bem diretos, que costumam aparecer inclusive em caixa alta ao final do enunciado. E questões como essa que nos pedem classificação do desenho do estudo podem ser respondidas com mais facilidade se aplicarmos os filtros para delineamento de estudo da Medway. Então, não esqueçam:

– Esse estudo é observacional ou intervencionista?

– A análise é individual ou agregada?

– O olhar é transversal ou longitudinal?

Comecem respondendo essas perguntas e as coisas ficarão mais simples.

Nível de dificuldade: Fácil

Gabarito: C

UERJ 2017

O modelo de estudo necessário para responder a uma questão clínica é determinado pelo tipo de enfoque clínico-epidemiológico. Considerando o estudo de coorte, o enfoque deve ser:

  1. Etiológico.
  2. Preventivo.
  3. Terapêutico.
  4. Diagnóstico.

Comentário:

Fala, pessoal! Questão sobre estudo de coorte. A banca quer saber qual deve ser o enfoque desse tipo de estudo. Mas como assim? A palavra ‘enfoque’ é no sentido de o que se quer descobrir. Em outras palavras, em que o estudo foca. Mas atenção, não é que as outras alternativas não possam ser observadas no estudo de coorte. Apenas não são o foco principal desse tipo de estudo.

Primeiro relembrando sobre os estudos de coorte. São estudos longitudinais, individuais e observacionais. Eles partem da exposição para o desfecho. Ou seja, o pesquisador seleciona indivíduos que possuam ou não a exposição e observa se eles adquirem ou não o desfecho. Esta é sua característica central. São estudos que conseguem medir o risco de uma exposição gerar um desfecho.

Vamos ver cada alternativa.

A – Correta. Vejamos. Se o coorte consegue medir o risco de uma exposição gerar um desfecho, significa que ele consegue identificar a etiologia/causa (exposição) de uma doença (desfecho). E é exatamente isso. Os estudos de coorte são muito utilizados para identificar fatores de risco para determinada doença.

B – Incorreta. Indiretamente até podemos falar que os estudos de coorte auxiliam na análise da prevenção, pois sabendo os fatores de risco de uma doença podemos compreender onde agir. Porém, não é o foco principal. Essa é apenas uma consequência final. Não há um delineamento de estudo que foque especificamente na prevenção.

C – Incorreta. Um tipo de estudo que foca mais na terapêutica seria os ensaios clínicos, que fazem uma intervenção na forma de tratamento para verificar se um medicamento é eficaz ou não.

D – Incorreta. Mais uma coisa que os estudos de coorte podem indiretamente auxiliar, já que compreender as causas de uma doença pode auxiliar no diagnóstico. Porém, não é o foco principal. Não há um delineamento de estudo que foque especificamente no diagnóstico.

Visão do aprovado: Essa questão de estudos epidemiológicos trouxe uma abordagem diferente deste foco (classificação de estudos). No geral as bancas pedem mais que o aluno identifique qual o delineamento do estudo ou assinale a alternativa que tem uma explicação correta de cada tipo de estudo. 

Nível de dificuldade: Fácil

Gabarito: A

E aí, o que achou das questões de estudos epidemiológicos comentadas?

Acertou todas as questões de estudos epidemiológicos comentadas? Precisa relembrar algum conceito? Ao estudar por questões, você descobre quais são os assuntos que realmente domina e quais requerem mais atenção durante o seu preparo para as provas de residência médica.

Quer mais questões comentadas? Confira este vídeo com ainda mais questões com a professora Marina Pereira, que faz parte do time de Medicina Preventiva da Medway:

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É isso galera! Até a próxima!

MicaelHamra

Micael Hamra

Nascido em 1991, médico desde 2015, formado pela Faculdade de Medicina de Catanduva (FAMECA) e com Residência em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) finalizada em 2018. "Nunca quis seguir o fluxo. Sempre acreditei que existe uma fórmula do sucesso para cada um de nós. Se puder conquistar sua mente, poderá conquistar o mundo." Siga no Instagram: @mica.medway