Optar por uma especialidade médica não é apenas uma decisão de carreira, mas se trata de uma resposta às carências da população e às tendências do sistema de saúde. O crescimento do número de vagas de residência médica em determinadas áreas está diretamente ligado às transformações sociais, às novas demandas dos pacientes e às necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com o último estudo da Demografia Médica no Brasil, entre 2018 e 2024, algumas residências médicas ganharam destaque por seu crescimento expressivo no número de vagas oferecidas, refletindo tanto a evolução da ciência médica quanto as prioridades emergentes da saúde pública.
Além disso, as mudanças em políticas públicas e as inovações tecnológicas têm impulsionado a expansão de especialidades antes menos exploradas. Veja agora as especialidades que mais cresceram no período citado!
A Medicina Intensiva é, de longe, a especialidade que mais se destacou em termos de crescimento proporcional, com um aumento de 242,7% no número de vagas de residência médica.
Isso se deve, em grande parte, à pandemia de Covid-19, que escancarou a escassez de profissionais especializados em cuidar de pacientes em estado crítico.
Essa especialidade, que agora é de acesso direto, se tornou mais acessível para médicos recém-formados, sem a necessidade de um pré-requisito como a Clínica Médica.
A requisição por profissionais especializados em unidades de terapia intensiva (UTI) deve continuar em alta, motivada pelo envelhecimento populacional e pelo aumento das doenças crônicas.
O crescimento da Medicina de Emergência foi de impressionantes 191,3% no período analisado. Com a superlotação dos prontos-socorros e o aumento de casos de traumas, infartos e outras condições agudas, a especialidade se tornou indispensável para garantir um atendimento eficaz e reduzir as taxas de mortalidade nas emergências.
Os investimentos em serviços de urgência e emergência no Brasil, como o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), contribuíram para a valorização da área, incentivando a abertura de novas vagas de residência médica.
A Nutrologia é uma especialidade que ganhou grande destaque devido às frequentes preocupações com obesidade, distúrbios alimentares e doenças metabólicas, como o diabetes.
O crescimento de 83,3% no número de vagas de residência médica reflete uma tendência mundial de valorização da Medicina Preventiva.
Profissionais dessa área trabalham tanto na prevenção quanto no tratamento de doenças relacionadas à alimentação, promovendo hábitos saudáveis e auxiliando pacientes em processos de emagrecimento, ganho de massa muscular ou controle de doenças graves.
A Genética Médica também teve um aumento relevante de 80%. Com o avanço da medicina personalizada, essa especialidade vem se destacando no diagnóstico precoce de problemas genéticos e no aconselhamento genético para famílias com histórico de doenças hereditárias.
O futuro dessa área promete ser ainda mais promissor, com o desenvolvimento de novas tecnologias, como a edição genética por CRISPR e os testes genéticos de predisposição a diferentes patologias.
Com um aumento admirável de 75,8% nas vagas, a Medicina de Família e Comunidade se consolidou como uma das principais especialidades em crescimento no Brasil.
Essa área é essencial no fortalecimento da atenção primária à saúde, atuando na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças em um contexto mais humanizado e próximo das famílias.
O aumento está alinhado com as diretrizes do SUS, que prioriza a promoção da saúde e a prevenção de doenças, além de ser um passo importante para reduzir as internações hospitalares dispensáveis.
Com o envelhecimento da população e a alta prevalência de doenças cardiovasculares, a procura por cirurgiões cardiovasculares cresceu consideravelmente, resultando em um aumento de 63,2% nas vagas de residência médica.
Essa especialidade exige habilidades avançadas para procedimentos como cirurgias de revascularização miocárdica, implantes de válvulas cardíacas e correção de malformações congênitas. A atualização constante é imprescindível para acompanhar os avanços tecnológicos na área.
A Medicina Nuclear apresentou um aumento de 50%, refletindo a expansão do uso de tecnologias de última geração para o diagnóstico e o tratamento de doenças, principalmente uma das mais temidas: o câncer.
Técnicas como a tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT) e a terapia com iodo radioativo tornaram-se mais acessíveis, ampliando a necessidade de profissionais especializados.
A Medicina Nuclear desempenha igualmente um papel importante em tratamentos minimamente invasivos, sendo fundamental para monitorar pacientes em diversas especialidades.
O aumento de 44,8% no número de vagas de residência médica em Medicina Física e Reabilitação está diretamente relacionado à necessidade recorrente de reabilitação de pacientes com sequelas de traumas, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e doenças neuromusculares.
Essa especialidade se revela valiosa para ajudar pacientes a recuperar a funcionalidade e melhorar sua qualidade de vida, oferecendo tratamentos que vão desde a fisioterapia até a prescrição de dispositivos ortopédicos.
Com a incidência atual de alergias respiratórias, alimentares e doenças autoimunes, a Alergia e Imunologia teve um aumento de 50% nas vagas.
A poluição, as mudanças no estilo de vida e as alterações climáticas são fatores que favorecem essa demanda.
Essa especialidade se torna cada vez mais importante no contexto atual, oferecendo tratamentos personalizados que visam melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
O crescimento de 33,9% nas vagas de residência médica em Hematologia e Hemoterapia se deve, em parte, ao avanço das terapias celulares e ao aumento da demanda por tratamentos relacionados ao sangue, como transfusões e transplantes de medula óssea.
A especialidade desempenha um papel chave no tratamento de doenças como anemias graves, leucemias e linfomas.
Para os médicos que estão planejando o futuro de suas carreiras, essas tendências representam não apenas oportunidades de crescimento, mas também a chance de contribuir com áreas de grande impacto na saúde pública.
Afinal, escolher uma residência não é apenas uma decisão pessoal — trata-se de uma forma de atender às necessidades reais do sistema de saúde e ajudar a moldar o futuro da Medicina no Brasil.
O aumento do número de vagas de residência médica nessas especialidades é, enfim, um reflexo das transformações na saúde brasileira e das novas demandas da população.
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Professor da Medway. Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com Residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Siga no Instagram: @djondamedway