As aderências, ou bridas, são as principais causas de complicações de cirurgias abdominais ou pélvicas. Ao contrário de outras complicações, como as infecções ou as deiscências de anastomoses, as bridas se apresentam na radiografia abdominal como um risco permanente no pós-operatório.
O principal risco associado às bridas é a obstrução intestinal de alças delgadas, responsáveis por cerca de 60% a 70% dos casos e um dos principais motivos de cirurgias de emergência.
As bridas podem ocorrer menos comumente por uma condição congênita e mais frequentemente a partir de manipulações cirúrgicas e condições inflamatórias prévias, a exemplo da doença inflamatória pélvica e de um processo inflamatório proveniente do trato gastrointestinal, como a apendicite e a diverticulite. A obstrução intestinal pode ser dividida em:
Os sintomas da obstrução intestinal dependem do nível e do grau de obstrução. Porém, os mais comuns são as dores abdominais, principalmente cólicas, náuseas e/ou vômitos, constipação e distensão.
Na obstrução alta (ao nível do delgado), que é tratada neste texto, predominam os sintomas de náuseas e/ou vômitos, com pouca distensão ou constipação intestinal.
Para o diagnóstico, é importante focar em quatro aspectos: determinar se há realmente obstrução, localizar o ponto obstrutivo, encontrar a causa e procurar por complicações, como o estrangulamento ou a perfuração de alças.
Tradicionalmente, a radiografia do abdome é o primeiro exame solicitado para o diagnóstico por imagem na suspeita de obstrução do intestino delgado.
No entanto, os estudos apresentam resultados conflitantes em relação à validade do uso: alguns relatam que, em 80-90% das vezes, a radiografia abdominal simples pode ser capaz de diagnosticar a obstrução; outros alcançaram sucesso em apenas 30-70% dos casos.
No estudo por radiografia abdominal de modo geral, são utilizadas pelo menos duas posições: a anteroposterior de pé (ortostática) e a anteroposterior em decúbito dorsal (radiografia simples).
No raio-x de abdome, o trato gastrointestinal possui densidade radiológica semelhante às partes moles e não é habitualmente visível. A luz possibilita avaliar o contraste fornecido pelo gás existente no interior das alças, que possui uma densidade inferior daquele presente nas partes moles.
A aparência normal desse segmento no raio-x total do abdome é definida pela ausência ou pela presença de pequenas quantidades de gás em até 4 alças não distendidas (diâmetro de 2,5 cm) do intestino delgado.
A dilatação das alças é definida quando as alças apresentam diâmetro de 3 cm ou mais. Porém, alguns autores preferem medidas mais conservadoras, a partir de 2,5 cm.
A principal ocorrência na radiografia abdominal é a dilatação do intestino delgado proximal ao sítio obstrutivo, com as alças distais a esse ponto de calibre normal ou colabadas.
Nessa condição, o intestino delgado está dilatado desproporcionalmente ao cólon. Quando a obstrução é proximal, o estômago pode estar igualmente distendido.
O gás no reto pode estar ausente, porém é algo que pode ocorrer em alguns pacientes normais e com obstrução colônica, tornando-se um achado de menor importância na avaliação dos pacientes com essa patologia.
Na radiografia, também é possível observar gás em configuração perpendicular ao eixo longo do intestino em faixas de baixa atenuação (“strech sign”). Esse sinal ocorre pela presença de pequenas quantidades de gás separadas pelas válvulas coniventes em alças preenchidas principalmente por líquido.
Outra condição é a paucidade ou abdome sem a presença de gás, algo que pode representar várias patologias, porém a causa de maior gravidade é a obstrução intestinal do delgado com ou sem isquemia.
Isso acontece pelo preenchimento das alças por fluido em vez de gás. A ausência de gás nos casos de obstrução do delgado pode indicar obstrução de alto grau ou complicada com obstrução em alça fechada.
Um sinal possível é o colar de pérolas. Nele, observa-se uma linha ou uma fileira de bolhas de ar orientadas de maneira oblíqua. Isso representa uma pequena quantidade de ar aprisionada entre as válvulas coniventes ao longo da parede superior de alças intestinais dilatadas e preenchidas por líquido.
O efeito de menisco do fluido circundante dá ao ar aprisionado uma aparência ovoide ou arredondada. Portanto, é um sinal que depende da combinação da presença de ar, das alças intestinais preenchidas por líquido e de uma atividade peristáltica aumentada das alças.
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Paraense apaixonada pela radiologia. Formada pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Residência em Radiologia e Diagnóstico por Imagem na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Adora a culinária paraense, novas tecnologias e a arte de ensinar.