Descubra quais são os riscos do anticoncepcional hormonal combinado!

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Chegou a hora de falar sobre os riscos do anticoncepcional hormonal combinado. Este assunto é muito importante, principalmente, porque diz respeito à saúde e à qualidade de vida das mulheres. 

A seguir, você vai entender quais são os mitos acerca do uso do anticoncepcional hormonal e os reais riscos da utilização dessa medicação. Assim, você aprofunda seu estudo e faz atendimentos mais precisos!

Quem tem medo do anticoncepcional hormonal combinado?

Muitas mulheres têm medo do uso do anticoncepcional hormonal combinado. Por isso, é importante saber quais informações são apenas mitos e quais são riscos reais. Antes de tudo, vale lembrar que os anticoncepcionais hormonais são eficazes como contraceptivos porque apresentam falhas apenas para 3 a cada 1.000 mulheres. 

Além disso, para todos os riscos do anticoncepcional combinado que iremos abordar, a gestação é um agravante. Dessa forma, vale reforçar que o uso de contraceptivos traz menos riscos que a gravidez. Caso a paciente não deseje uma gestação, realizar o uso é melhor que não realizá-lo.

O primeiro contraceptivo hormonal foi lançado há mais de 60 anos e é modernizado ao longo dos anos. Na época do lançamento, ele tinha uma quantidade hormonal muito alta. 

Ao longo dos anos, por meio de pesquisas, ficou claro que os efeitos colaterais são dose-dependente. Sendo assim, buscou-se uma menor dose para gerar menores riscos e manter o efeito de contracepção. Por isso, atualmente, existem pílulas de baixa dosagem hormonal, com doses inferiores a 50 mcg de estrogênio.

Por aqui, o foco será apenas nos riscos do anticoncepcional hormonal combinado, ou seja, aquele método que apresenta dois tipos de hormônios na formulação: estrogênio e progesterona. Esse método contém várias apresentações com diferentes vias de administração, podendo ser: 

  • via oral (pílulas);
  • via transdérmica (adesivo);
  • via intramuscular (injeção mensal);
  • anel vaginal.

Mitos do uso de contraceptivos?

Entre os anseios da população ao uso do contraceptivo hormonal, alguns não apresentam evidência na literatura e são mitos. Porém, outros medos são riscos e efeitos colaterais do uso do anticoncepcional hormonal combinado. Veja alguns pontos discutidos frequentemente.

Ganho de peso

Este é o efeito colateral mais temido por todas as usuárias de métodos contraceptivos. Entretanto, nenhum estudo comprovou mudança significativa de peso após início do uso de métodos hormonais combinados.

Vida sexual 

Este é o aspecto mais controverso e que apresenta resultados discordantes na literatura. Com o uso de contraceptivos hormonais combinados, há um bloqueio do ciclo hormonal natural das mulheres. Afinal, a progesterona utilizada bloqueia o pico de LH que induz à ovulação na metade do ciclo. 

Sendo assim, esses anticoncepcionais anovulatórios podem levar a uma supressão de hormônios androgênios (testosterona) produzidos no ovário, que seriam estimulados pela produção de LH. Quais são os hormônios mais relacionados à libido e ao desejo sexual? Sim, os próprios androgênios! Por isso, é possível dizer que os anticoncepcionais orais ou quaisquer outros métodos anovulatórios podem interferir na libido.

Contudo, tudo é muito mais complexo e depende de múltiplos fatores (hormonais, psicológicos, sociais, educacionais). Por exemplo: apesar de todos os efeitos colaterais do uso de anticoncepcional, algumas mulheres relatam aumento da libido devido à maior segurança em ter relações sexuais sem a preocupação com a gestação indesejada.

Modificações do padrão menstrual

O sangramento não programado, popularmente conhecido como sangramento de escape, é o efeito colateral mais frequente. Esse padrão pode acontecer por uso inadequado do método, atrofia endometrial, tipo de medicação e regime de uso da paciente.

Pílulas com menor dose de estrogênio propiciam maior quantidade de escapes do que pílulas de maior dosagem. Além disso, o menor tempo de pausa aumenta a chance de sangramentos não programados. É importante saber que esse padrão de sangramento não significa diminuição da eficácia contraceptiva. 

Em outros casos, o sangramento não ocorre, e a paciente pode permanecer em amenorreia (ausência de sangramento). Geralmente, esse último ocorre porque as baixas doses da pílula não permitem que o endométrio se prolifere, impedindo o sangramento de privação hormonal que ocorre na pausa do método contraceptivo. 

Porém, essa “amenorreia induzida pela pílula” também não promove problemas com a eficácia do método. Caso a usuária não se incomode, pode seguir com a utilização sem problemas.

Retorno à fertilidade

Outra dúvida bastante frequente das pacientes é sobre o retorno à fertilidade após descontinuação do método contraceptivo. No caso dos contraceptivos hormonais combinados, o tempo não é elevado, sendo que o período médio para retorno de ciclos ovulatórios é de 30 a 90 dias. 

Além disso, após um ano sem anticoncepcional, a taxa de gravidez é idêntica à população que não usava os métodos. Sendo assim, é possível dizer que os anticoncepcionais hormonais combinados não interferem na fertilidade futura das pacientes.

Riscos do anticoncepcional hormonal combinado

Estes foram os riscos do anticoncepcional hormonal combinado que a população teme, mas não apresentam evidência científica e comprovação. A partir de agora, vamos falar sobre os riscos reais do uso desses contraceptivos.

Tromboembolismo venoso (TEV)

No surgimento dos contraceptivos hormonais, notou-se uma relação entre o uso e os riscos de trombose. Por meio de estudos científicos, concluiu-se que o risco estava relacionado à dose do componente estrogênico. Nesse momento, foram criados os contraceptivos de baixa dosagem hormonal.

A taxa de TEV em mulheres jovens é baixa, em 1 a cada 10.000 por ano. Em usuárias de contraceptivo hormonal combinado, essa taxa aumenta em 3 ou 4 a cada 10.000 por ano. Esse risco é maior nos primeiros meses de uso e consideravelmente menor que o observado na gravidez e no período pós-parto precoce (de 5 a 6 a cada 10.000 mulheres por ano). 

O risco absoluto é maior entre mulheres com condições associadas, como trombofilia, tabagismo, obesidade, hipertensão, diabetes, idade avançada e imobilização pós-cirúrgica. Para prescrição, é fundamental atentar-se a esses fatores de risco que contraindicam o uso do método. 

Infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral

A redução no conteúdo de estrogênio, desde o surgimento dos contraceptivos hormonais combinados, aumentou a segurança do uso. Então, os eventos trombóticos arteriais (infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral) são raros entre as usuárias desse método. 

O risco absoluto de acidente vascular cerebral em uma mulher jovem é baixo, de 5 a 10 por 100.000 mulheres por ano. Ele dobra em mulheres que usam contraceptivo hormonal combinado, mas se mantém como um risco baixo (aumenta de 0,01% para 0,02%). 

No entanto, é importante lembrar e reforçar que os riscos absolutos de eventos trombóticos arteriais são menores com o uso de contraceptivo hormonal do que durante a gravidez ou o período pós-parto, assim como os riscos de tromboembolismo venoso.

Risco de câncer ginecológico

Outro grande medo relacionado ao uso hormonal é o risco de desenvolver câncer. Por outro lado, esse não é um dos riscos do anticoncepcional hormonal combinado, pois o medicamento não aumenta o risco geral de câncer. 

Duas pesquisas avaliaram os riscos e os benefícios do uso de contraceptivos hormonais combinados relacionados ao câncer a longo prazo. Os estudos eram o Royal College of General Practitioners’ Oral Contraception Study, que observou 46.000 mulheres, e o UK Biobank Study, que analisou 256.661 mulheres. 

Nesses estudos, notou-se que o uso de contraceptivos hormonais combinados foi associado à proteção contra câncer de ovário, endométrio e colorretal. Já o risco de câncer de mama e colo do útero aumentou temporariamente com o uso atual de contraceptivos hormonais combinados, mas essa associação desapareceu em dois ou cinco anos após a descontinuação. 

Portanto, foi superada pelos efeitos oncoprotetores acima, que persistiram por mais de 30 anos em ambos os estudos. É importante ponderar que, nesse caso, fala-se de pacientes sem histórico de câncer. Para mulheres com histórico pessoal de câncer de mama, os contraceptivos hormonais combinados não são recomendados. 

No entanto, mulheres com genes de suscetibilidade ao câncer de mama (como BRCA) ou histórico familiar de câncer de mama podem usar contraceptivos orais combinados (COCs) com segurança.

Como evitar os riscos do anticoncepcional oral combinado? 

Caso uma mulher queira usar um contraceptivo hormonal combinado, é importante receber avaliação médica para saber se não há contraindicação. A World Healthy Organization (WHO) criou critérios de elegibilidade para uso de métodos contraceptivos, de acordo com as características individuais, os antecedentes pessoais e as comorbidades vigentes. 

Sendo assim, foram categorizados todos os métodos contraceptivos segundo a elegibilidade para uso em quatro categorias:

  • categoria 1: pessoa apresenta uma condição para a qual não há restrição de uso do método anticoncepcional;
  • categoria 2: pessoa apresenta uma condição em que as vantagens de usar o método superam o risco teórico ou comprovado. Ou seja, o uso é permitido;
  • categoria 3: pessoa apresenta uma condição em que os riscos teóricos ou comprovados superam as vantagens de usar o método. Ou seja, deve-se evitar o uso e preferir outros métodos;
  • categoria 4: pessoa apresenta uma condição de saúde inaceitável para uso do método, sendo de alto risco.

Por meio desses critérios de elegibilidade, é possível adequar o melhor método para cada tipo de pessoa, minimizando os riscos do anticoncepcional hormonal combinado. 

Com base nos dados da WHO, algumas das contraindicações (categorias 3 e 4) para uso de métodos contraceptivos hormonais combinados são:

  • idade maior ou igual a 35 anos e fumo de 15 ou mais cigarros por dia;
  • dois ou mais fatores de risco para doença cardiovascular arterial (como idade avançada, tabagismo, diabetes e hipertensão);
  • hipertensão arterial descompensada;
  • histórico de tromboembolismo sem tratamento atual ou evento tromboembólico recente;
  • mutações trombogênicas conhecidas (trombofilias);
  • doença cardíaca isquêmica;
  • histórico de acidente vascular cerebral;
  • doença cardíaca valvular complicada (hipertensão pulmonar, risco de fibrilação atrial e história de endocardite bacteriana subaguda);
  • história pessoal de câncer de mama;
  • doenças hepáticas (cirrose, adenoma hepatocelular ou hepatoma maligno);
  • enxaqueca com aura.

Portanto, os métodos contraceptivos hormonais apresentam riscos relacionados ao uso. Porém, algumas mulheres têm maior propensão a complicações com o uso do anticoncepcional hormonal combinado. Esses riscos podem ser contornados por meio de uma consulta médica e escolha do método contraceptivo mais adequado, individualizando o uso.

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Depois de saber mais sobre os riscos do anticoncepcional hormonal combinado, lembre-se da importância de uma anamnese muito bem feita. Com ela e com um exame físico minucioso, independentemente da queixa, o manejo do paciente é mais completo. 

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KarinaPeres

Karina Peres

Graduação em Medicina pela UNIFESP/EPM, Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pela UNIFESP/EPM, Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO, Residência Médica em Endoscopia Ginecológica pela UNIFESP/EPM.