Hiperplasia prostática benigna: diagnóstico e tratamento

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Fala, galera! Como vocês estão? Mais um tema cirúrgico aqui no blog, que provavelmente todo mundo já ouviu falar algo sobre: hiperplasia prostática benigna.

O objetivo deste texto é que até o final da leitura você saiba quando suspeitar, quando indicar tratamento medicamentoso ou cirúrgico, quais as complicações da HPB e como orientar o paciente na alta. Bora?

O que é hiperplasia prostática benigna?

A hiperplasia prostática benigna (HPB) é um problema que pode impactar negativamente a qualidade de vida e que usualmente necessita de intervenção médica. Ela resulta do aumento do número total de células glandulares e estromais na zona de transição da próstata e, a depender da evolução, pode gerar bastante dor de cabeça no setor de emergência. 

A prevalência da HPB aumenta conforme a idade e na maioria das vezes é assintomática. Em outros casos, relaciona-se a sintomas de trato urinário baixo (STUI/LUTS) devido à obstrução ao nível do colo vesical. As queixas incluem: 

  • aumento da frequência urinária, especialmente no período noturno; 
  • dificuldade para iniciar a micção; 
  • jato urinário fraco/intermitente; 
  • sensação de esvaziamento incompleto da bexiga. 

É importante ressaltar que HPB não é fator de risco para câncer de próstata.

Confira as diferenças entre uma próstata normal e uma hiperplasia prostática benigna.
Figura 1 – Próstata normal x hiperplasia prostática benigna.
Fonte: Cleveland Urology.

Como é o exame e diagnóstico de HPB?

No exame físico, é importante realizar o toque retal, geralmente ignorado por muitos. A presença de assimetria e nódulos deve levantar a suspeita de neoplasia. 

O diagnóstico de HPB não requer uma confirmação histológica, deixando a biópsia reservada para casos suspeitos de malignidade. Apesar de parecer contraditório, o volume prostático não tem relação com a intensidade dos sintomas obstrutivos.

Confira uma figura do toque retal, atrelado à hiperplasia prostática benigna.
Figura 2 – Toque retal.
Fonte: UpToDate.

Então, juntando o fator idade, os sintomas apresentados e o exame físico, você não terá dúvida em levantar a hipótese de uma HPB, mesmo sem um exame de imagem. “Ah, mas HPB é para atendimento ambulatorial. No setor de emergência, não preciso me preocupar, certo?” Errado! 

A HPB pode trazer complicações comuns de serem encontradas no pronto-socorro. Dentre elas, podemos destacar:

  • Retenção urinária aguda (RUA), sendo a sondagem vesical difícil para quem não tem experiência (tema abordado em outro artigo aqui do blog), por vezes originando insuficiência renal pós-renal;
  • Infecção urinária e prostatite, por vezes decorrente da presença de urina residual por dificuldade de esvaziamento;
  • Hematúria, que, por sua vez, leva à necessidade de excluir outras afecções urológicas, sendo necessário em um primeiro momento manter a SVD em irrigação e considerar a realização de USG de rins e vias urinárias/cistoscopia.

Qual é o tratamento de hiperplasia prostática benigna?

“Mas e agora? Devo tratar todo mundo? Se sim, como tratar?” A resposta é não. Só devemos tratar pacientes sintomáticos. 

As opções terapêuticas incluem: 

  1. Observação e acompanhamento anual (watchful waiting): para pacientes com sintomas leves, sem complicações ou que não querem iniciar o tratamento; 
  2. Terapia farmacológica: uso de bloqueadores alfa-1-adrenérgicos (ex.: tansulosina 0,4-0,8 mg 1 x ao dia), inibidores da alfa-5-redutase (ex.: finasterida 5 mg 1x ao dia; dutasterida 0,5 mg 1 x ao dia) ou terapia combinada;
  3. Tratamento cirúrgico: para pacientes com sintomas graves (retenção urinária refratária, infecções recorrentes do trato urinário, recorrentes cálculos na bexiga ou hematúria macroscópica, aumento do volume de urina residual, hidronefrose com comprometimento da função renal) ou refratários ao tratamento clínico, sendo a ressecção transuretral de próstata a técnica mais empregada.

Confira a ressecção transuretral da próstata, atrelada à hiperplasia prostática benigna.
Figura 3 – Ressecção transuretral de próstata.
Fonte: Dr. Tim Nathan Urology.

Quais são as indicações de tratamento?

Certo! Então, você já consegue diagnosticar, prever as complicações e indicar ou não o tratamento da HPB, mas ainda falta um ponto importante: como orientar o paciente na alta? 

Algumas medidas comportamentais podem ser indicadas, como:

  • reduzir a quantidade de fluidos antes de dormir; 
  • limitar a ingestão de álcool e cafeína; 
  • evitar antialérgicos e descongestionantes; 
  • dupla micção (após esvaziar a bexiga, esperar um momento, relaxar e tentar urinar novamente). 

Além disso, sempre destacar os sinais de alarme (RUA, hematúria, sinais de infecção urinária) para que ele retorne ao serviço diante deles.

E quando devo referenciar ao especialista?

  • Sintomas graves ou dor;
  • Homens < 45 anos;
  • Anormalidades ao toque retal;
  • Hematúria;
  • Elevação de antígeno prostático específico (PSA);
  • Incontinência;
  • Doença neurológica que conhecidamente gera LUTS;
  • Retenção urinária;
  • Suspeita de outra doença urológica.

Apesar de carregar o termo “benigno” no nome, a hiperplasia nem sempre é benigna para o paciente e para o plantonista. Sendo assim, releiam este e outros textos do blog sempre que necessário e tenho certeza de que vocês se garantirão melhor nas provas e no mercado de trabalho. 

Espero que tenham curtido. Até a próxima!

Referências

McVary, Kevin T. Clinical manifestations and diagnostic evaluation of benign prostatic hyperplasia. UpToDate, 4 out. 2021. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnostic-evaluation-of-benign-prostatic-hyperplasia. Acesso em: 2 dez. 2021.

McVary, Kevin T. Epidemiology and pathophysiology of benign prostatic hyperplasia. UpToDate, 19 jan. 2021. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/epidemiology-and-pathophysiology-of-benign-prostatic-hyperplasia. Acesso em: 2 dez. 2021.

McVary, Kevin T. Medical treatment of benign prostatic hyperplasia. UpToDate, 18 nov. 2021. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/medical-treatment-of-benign-prostatic-hyperplasia. Acesso em: 2 dez. 2021.

McVary, Kevin T. Surgical treatment of benign prostatic hyperplasia (BPH). UpToDate, 22 out. 2021. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/surgical-treatment-of-benign-prostatic-hyperplasia-bph. Acesso em: 2 dez. 2021.

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MatheusCarvalho Silva

Matheus Carvalho Silva

Matheus Carvalho Silva, nascido em 1993, em Coronel Fabriciano (MG), se formou em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência em Cirurgia Geral na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).