Indicadores de saúde: quais são e para que servem

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No dinâmico cenário da medicina e da saúde pública, entender e interpretar dados é tão crucial quanto o próprio conhecimento clínico. É por isso que os indicadores de saúde são ferramentas indispensáveis para médicos e estudantes, servindo como a bússola que orienta o planejamento e a implementação de políticas públicas. 

Neste artigo, exploraremos os principais indicadores de saúde, com foco especial nos de morbimortalidade, detalhando suas definições e aplicações práticas na avaliação do bem-estar populacional.

Taxas Brutas e Ajustadas (ou Padronizadas)

• A Taxa Bruta é o resultado direto da aplicação da fórmula do indicador, sem nenhuma ponderação. É útil para observar a evolução de uma mesma população ao longo do tempo.

• A Taxa Ajustada (ou padronizada) ajusta o resultado para uma variável de interesse, como idade ou sexo. Isso é fundamental para comparar duas populações com características diferentes. Por exemplo, se compararmos a taxa de mortalidade bruta da Finlândia (10,3 por 1000 habitantes em 2020) com a do Brasil (6,9 por 1000 habitantes no mesmo ano), poderíamos erroneamente concluir que a Finlândia tem mais problemas de saúde. Contudo, a Finlândia está em uma fase avançada da transição demográfica, com uma população muito mais idosa. Assim, é preciso ajustar por faixa etária para uma comparação justa.

A Lógica dos Indicadores

Todo indicador mostra uma relação entre subconjuntos de uma população. Em sua essência, ele é composto por:

Numerador: O que queremos observar (o número de eventos ou casos).

Denominador: A população em risco de sofrer o evento (a população suscetível). Em saúde coletiva, buscamos avaliar um risco. Por exemplo, a mortalidade representa o risco de morrer em uma população.

Indicadores de Morbidade

Os indicadores de morbidade medem a frequência das doenças ou o adoecimento da população. Os mais cobrados em provas e cruciais para a prática são a Prevalência e a Incidência.

A prevalência expressa o número de casos de uma doença (ou evento) já existentes em uma população.

A incidência expressa o número de casos novos de uma doença em uma população.

Indicadores de Mortalidade

Os indicadores de mortalidade são igualmente cruciais e frequentemente abordados em avaliações. Os principais são: mortalidade geral, mortalidade materna, mortalidade infantil, mortalidade perinatal, natimortalidade e letalidade.

Principais Indicadores de mortalidade

Mortalidade proporcional

A mortalidade proporcional expressa a distribuição percentual de óbitos por uma determinada característica ou causa, em relação ao total de mortes em um período. As principais são o Índice de Swaroop-Uemura (ISU) e as curvas de Nelson e Moraes.

Índice de Swaroop-Uemura

Grupo 1
(ISU acima de 75%)
A grande maioria dos óbitos ocorrem
em maiores de 50 anos. Aqui se encontram a maioria dos países considerados desenvolvidos
Grupo 2
(ISU entre 50% e 74%)
Países com certo desenvolvimento econômico e organização regular
dos serviços de saúde
Grupo 3
(ISU entre 25% e 49%)
Países com menos desenvolvimento
em relação às questões econômicas
e de saúde
Grupo 4
(ISU abaixo de 25%)
Alta proporção de mortes entre pessoas jovens, o que indica alto grau de subdesenvolvimento

Curvas de Nelson e Moraes

Tipo I – Nível de saúde muito baixoCurva em “N invertido”Alta prevalência de causas externas e doenças infecto-contagiosas (afeta a população de 20 a 49 anos)
Tipo II – Nível de saúde baixoCurva em “L” ou “J invertido”Más condições sociais: desnutrição, saneamento inadequado, má assistência pré-natal, parto e nascimento
Tipo III – Nível de saúde regularCurva em “U”Começa  a ter uma tendência de mais idosos morrerem (natural), mas ainda há relativa mortalidade infantil
Tipo IV – Nível de saúde elevadoCurva em “J”Maior proporção de faixas etárias elevadas

Indicadores padronizados

Outros dois indicadores muito importantes (e que são cobrados nas provas de residência) são os Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade (DALY) e Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP).

DALY (Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade)
YLL = Número de mortes X expectativa de vida na idade ao morrer Years of life lost – anos de vida perdidos → avalia os óbitos precocesYLD = Número de casos X duração até remissão ou morte X peso da incapacidadeYears lived with disability – anos vividos com incapacidadeDALY mede o impacto de carga global de doença ocorrido por determinado diagnóstico
APVP (Anos potenciais de vida perdidos)Mensura o número de anos de vida que uma população deixa de viver, devido a uma morte precoce (anterior à expectativa de vida ao nascer)No Brasil, quais causas levam a um maior APVP? Causas externas, Doenças do aparelho circulatório, Neoplasias

Por que são importantes?

Muito além das provas de residência, os indicadores de saúde são a espinha dorsal da Medicina Preventiva e Social. Eles orientam decisões estratégicas no planejamento e na gestão dos sistemas de saúde, permitindo a avaliação de tendências, a identificação de problemas e a formulação de propostas de melhoria baseadas em evidências. Para o estudante e o médico, dominá-los significa ter a capacidade de ir além da clínica individual, impactando a saúde coletiva e contribuindo para um sistema de saúde mais eficiente e justo.

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Lucas Faria

Lucas Faria

Mineiro de Uberlândia, nascido em 1995, formado pela Universidade Federal de Uberlândia. Residência em Clínica Médica no Hospital de Clínicas da USP de Ribeirão Preto.