Lesão traumática de bexiga: o que devo fazer?

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Fala, galera. Tudo bem com vocês? Mais um tema cirúrgico aqui no blog. Dessa vez, vamos falar sobre lesão traumática de bexiga que, apesar da baixa incidência nos traumas contusos, vez ou outra aparece nas provas de residência. 

O objetivo é que vocês saibam reconhecer e manejar essa lesão no departamento de emergência sem estresse e com segurança.

Grande parte das lesões traumáticas de bexiga são decorrentes de traumas automobilísticos, principalmente em pacientes com a bexiga cheia. Sabe essa história de não viajar segurando a urina? Pois bem, é verdade!. 

Como suspeitar de lesão traumática de bexiga?

A clínica difere se a lesão da bexiga for intra ou extraperitoneal, mas dentre os sintomas, temos:

  • hematúria macroscópica (a associação com fratura pélvica aumenta a suspeita);
  • sensibilidade suprapúbica;
  • incapacidade ou dificuldade para urinar.
Figura 1: Hematúria macroscópica.
Figura 1: Hematúria macroscópica. Disponível aqui

O diagnóstico pode ser confirmado com a realização de cistografia ou no intraoperatório, quando o paciente tem indicação de laparotomia imediata por outros motivos. 

O tratamento nem sempre é cirúrgico

De forma simplificada, antes de tratarmos a lesão, precisamos saber se ela é intra ou extraperitoneal, simples ou complexa. Sendo que as lesões extraperitoneais são as mais comuns e ocorrem geralmente no contexto de fratura pélvica! 

 Figura 2: A) Lesão extraperitoneal da bexiga; B) Lesão intraperitoneal da bexiga.. Disponível: José Cury, et al. Trauma geniturinário. Urologia Fundamental. Capítulo 34, Pág. 303. (lesão traumática de bexiga)
 Figura 2: A) Lesão extraperitoneal da bexiga; B) Lesão intraperitoneal da bexiga.. Disponível: José Cury, et al. Trauma geniturinário. Urologia Fundamental. Capítulo 34, Pág. 303. 

Quando a lesão é extraperitoneal e simples, ela pode ser tratada de forma não cirúrgica, apenas com a sondagem vesical de demora por duas a três semanas. 

Quando estivermos diante de uma lesão intraperitoneal ou extraperitoneal complexa, o reparo cirúrgico está indicado. 

Por complexa, podemos incluir: 

  • fratura pélvica aberta com osso exposto dentro do lúmen da bexiga; 
  • lesão retal/vaginal concomitante; 
  • lesão no pescoço da bexiga; 
  • hematúria persistente como consequência da lesão vesical com coágulos interferindo na drenagem vesical adequada.

A exploração cirúrgica da ruptura extraperitoneal é realizada mediante incisão suprapúbica longitudinal. Deve se fazer o reparo da ruptura por via transvesical após abertura da bexiga na cúpula. 

Já em relação à ruptura intraperitoneal, deve ser realizada uma incisão longitudinal mediana, inspeção da cavidade abdominal e, se necessário, ampliar a lesão para melhor acesso a todas as paredes da bexiga. Lembrando que a videolaparoscopia pode ser utilizada para o tratamento das lesões!

Independentemente do tratamento (conservador ou cirúrgico), a realização de cistografia de controle é recomendada para avaliar a cicatrização. 

Tempo é sinônimo de complicação!

As complicações são geralmente secundárias ao diagnóstico tardio da lesão vesical, de modo que o extravasamento de urina pode provocar íleo paralítico, peritonite e até mesmo sepse. Em relação a anatomia, lesões de colo vesical podem cursar com incontinência urinária, fístula persistente ou estenose.

Curtiu saber mais sobre a lesão traumática de bexiga?

Esperamos ter esclarecido as dúvidas em torno da lesão traumática de bexiga e qual é o manejo correto dessa condição. Aqui, no nosso blog, disponibilizamos uma série de conteúdos sobre Medicina de Emergência e residência médica para contribuir com sua preparação.

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Referências:

  1. Bryan Voelzke. Traumatic and iatrogenic bladder injury. Disponível em: aqui 
  2. José Cury, et al. Trauma geniturinário. Urologia Fundamental. Capítulo 34, Pág. 303. Disponível em aqui.

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MatheusCarvalho Silva

Matheus Carvalho Silva

Matheus Carvalho Silva, nascido em 1993, em Coronel Fabriciano (MG), se formou em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência em Cirurgia Geral na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).