Líquido amniótico: qual é a sua importância na gestação?

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E aí pessoal, tudo bem? Se você já presenciou um atendimento clínico em Obstetrícia durante a vida acadêmica ou resolveu se aprofundar sobre o assunto, muito provavelmente ouviu falar sobre líquido amniótico ou alguma alteração a respeito do seu aumento ou diminuição, estou certo? 

Independentemente da resposta anterior ser sim ou não, hoje estamos aqui para te explicar todos os detalhes sobre esse líquido tão famoso, que forma o que chamam de “bolsa das águas”, responsável por envolver o feto dentro do útero materno.

O que é líquido amniótico?

O líquido amniótico, que preenche o saco amniótico, “bolsa das águas” ou simplesmente “bolsa”, consiste em um fluido de aspecto transparente-amarelado que é produzido pela placenta para envolver e proteger o feto no ambiente intrauterino durante toda a gestação

A bolsa das águas, por sua vez, que envolve o bebê no útero, é formada por duas membranas e preenchida pelo líquido amniótico. 

O conteúdo do líquido amniótico contém propriedades antibióticas, e por isso confere ao feto proteção contra infecções. Além disso, protege o cordão umbilical de alterações mecânicas que poderiam comprimir e impedir a passagem de oxigênio e nutrientes. 

Ele também favorece o desenvolvimento do sistema respiratório e gastrointestinal do concepto, facilita a motilidade, a variação de posição, mantém a temperatura intrauterina, fortalece a musculatura e promove o bem-estar fetal. 

A quantidade de líquido amniótico na bolsa das águas pode ser determinada pelo exame de ultrassonografia, através de medição dos bolsões de líquidos entre a parede uterina e o bebê, gerando o cálculo do Índice de Líquido Amniótico (ILA), que em condições normais deve variar entre 5 – 8 e 18 – 25 centímetros. 

Anatomia

O âmnio e córion são anexos embrionários formados pela ectoderme e pela mesoderme parietal. O âmnio é uma membrana que envolve o embrião e determina uma cavidade conhecida como cavidade amniótica, popularmente chamada bolsa das águas, que funciona como uma separação entre o embrião do meio circulante. 

A cavidade amniótica é preenchida pelo líquido amniótico. O córion é o anexo embrionário mais externo, que recobre todos os outros anexos e participa da formação da placenta.

 

O desenvolvimento do embrião no útero

Como funciona esse mecanismo na gestação? 

Durante a gestação, o feto flutua dentro da bolsa amniótica repleta de fluido, a qual está ligada ao órgão placentário através do cordão umbilical. 

Este líquido que preenche a cavidade amniótica é renovado a cada duas horas, e é excretado pelos rins maternos depois de ser absorvido pelo sistema gastrointestinal fetal e ter ultrapassado a barreira placentária. 

O início da produção do líquido amniótico se dá a partir do 12º dia após a fecundação, pelo organismo materno, sendo basicamente um ultrafiltrado do plasma materno. 

No entanto, a partir do segundo trimestre da gestação, mais precisamente em torno das 16 à 20 semanas, os rins do sistema urinário fetal passam a funcionar com maior avidez, e o líquido amniótico passa a ser constituído principalmente por urina do feto e suas secreções pulmonares. 

O volume máximo de líquido amniótico é atingido em torno de 32 semanas de gestação. 

A drenagem do líquido na cavidade ou “bolsa das águas” se dá pela deglutição e absorção intestinal do feto – fato que explica alguns distúrbios da quantidade de líquido, que podem estar relacionados a patologias e malformações do concepto, que serão discutidas mais adiante. 

Como medir o índice de líquido amniótico?

A medida do ILA (índice de líquido amniótico) é feita a partir da avaliação por meio do ultrassom. Durante a avaliação, divide-se o útero em materno em quatro quadrantes e se observa a quantidade de líquido presente em cada um deles, devendo-se medir, em centímetros, a distância entre o feto e a borda do âmnio. 

A soma da medida de cada um desses bolsões é o ILA, enquanto que a maior medida é utilizada como um parâmetro único, o Maior Bolsão Vertical. Olhe a imagem abaixo que representa essa medição de forma esquemática:

Figura: Esquema demonstrando forma de medição do índice de líquido amniótico (ILA).

Imagem 5
Fonte: Radiol Bras 2005;38(5):338 

Alterações do volume do líquido amniótico

A principal causa para a diminuição do volume do líquido amniótico são a oligúria/anúria fetal ou a perda de fluidos devido a ruptura de membranas ou amniorrexe. Enquanto isso, os principais responsáveis pelo aumento do volume do líquido amniótico são a diminuição da deglutição fetal e o aumento da sua excreção urinária. 

Baixo volume de líquido ou oligoâmnio

A manifestação do oligoâmnio pode se apresentar através de queixas maternas ou achados em consulta/exame médico. A gestante pode referir diminuição dos movimentos do bebê ou perda de líquido via vaginal. 

Em consulta, pode-se perceber a diminuição da medida da altura uterina. Além disso, o médico pode avaliar o volume de líquido em exame de imagem, como a ultrassonografia, que se mostrará reduzido.

Essa condição é chamada de oligoâmnio e é classicamente definida como índice de líquido amniótico (ILA) abaixo de 5 cm – ou 50mm – ou a > 2 cm no maior bolsão vertical, medida avaliada através da ultrassonografia obstétrica. 

O oligoâmnio pode estar relacionado a quadros de insuficiência placentária, com restrição do crescimento fetal, malformações congênitas do bebê (disgenesia renal é uma delas), pressão alta na gestação, doenças autoimunes (como lúpus), uso de medicamentos ou gestações prolongadas.

Alto volume de líquido ou polidrâmnio

O polidrâmnio é caracterizado por um volume maior de líquido (acima de 25 cm – ou 250mm). Uma queixa comum da gestante com polidramnia é a falta de ar. O médico no pronto atendimento, por sua vez, constata uma altura uterina acima do esperado para aquela idade gestacional. 

As causas para polidramnia podem ser maternas, fetais e placentárias, e incluem: alterações do sistema nervoso e infecções fetais; atresia de esôfago ou atresia duodenal; hidropsia fetal imune; diabetes materno, entre outros. 

Atenção aqui para a diabetes mellitus gestacional! Essa é uma das principais causas de polidrâmnio, especialmente quando identificamos macrossomia fetal associada! 

Nas gestantes diabéticas, a hiperglicemia fetal leva a uma diurese hiperosmolar, o que leva a um aumento da produção urinária pelo feto intra útero, levando a maior produção de líquido amniótico. 

Como saber se a bolsa das águas se rompeu? 

Identificar o rompimento da bolsa amniótica, a chamada amniorrexe, pode ser uma tarefa desafiadora em alguns casos. Contudo, no dia a dia do pronto-atendimento de Obstetrícia, a maior parte das gestantes se queixam de uma uma perda de líquido por via vaginal, como se tivesse feito “xixi na calça”. 

Na maioria das vezes, a perda consiste na saída de um líquido claro, abundante, inodoro ou com odor leve (tipicamente com cheiro de água sanitária) e temperatura quente pela vagina, que chega a escorrer pelas pernas. Algumas mulheres relatam, inclusive, que escutam um som sutil de ruptura, como um “ploc”, no momento em que a bolsa se rompe. 

A ruptura da bolsa amniótica pode ocorrer durante uma contração ou de maneira esporádica; a perda de líquido pode ser em grande quantidade numa única vez, ou perdas repetidas em menores quantidades. 

Nomenclaturas

A ruptura das membranas corioamnióticas, ou amniorrexe, recebe diferentes nomenclaturas, a depender do momento em que acontece: 

Quando ocorre antes do início do trabalho de parto é chamada de Amniorrexe prematura. 

  • Amniorrexe prematura pré-termo: ruptura das membranas antes da 37ª semana de gestação;
  • Amniorrexe prematura termo: ruptura das membranas após a 37ª semana de gestação.

Quando ocorre após o início do trabalho de parto, se divide em:

  • Amniorrexe precoce: ocorre já na fase ativa do trabalho de parto, porém com dilatação cervical inferior a 6 cm;
  • Amniorrexe oportuna: ocorre com dilatação cervical entre 6 e 8 cm;
  • Amniorrexe tardia: ocorre em dilatação cervical acima de 8 cm.

Existe também a Amniotomia, que é a rotura artificial das membranas corioamnióticas por meio de instrumentos adequados para o procedimento, não sendo realizada de rotina, apenas quando indicada – por exemplo, no caso de distócias funcionais em que desejamos acelerar o trabalho de parto. 

Em ocasiões mais raras, existe a chance de que a bolsa das águas não se rompa e o bebê nasça envolto por ela, banhado em líquido, em um parto chamado “empelicado”. Existe uma crença popular antiga que considera tal feito como um sinal de sorte. 

Figura: Parto “empelicado”, no qual o bebê nasce ainda envolto pela membrana amniótica, que não se rompeu durante o parto
Figura: Parto “empelicado”, no qual o bebê nasce ainda envolto pela membrana amniótica, que não se rompeu durante o parto. Fonte: Asia Wire (https://bit.ly/3J55CT2)

E agora, você consegue entender a importância do líquido amniótico durante a gestação? 

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GabrielCasseb

Gabriel Casseb

Médico formado pela Universidade São Francisco, em Bragança Paulista-SP. Residência em Ginecologia e Obstetrícia pela Faculdade de Medicina do ABC. Experiência no time de produção de GO da Medway, felizardo descobrindo todos os dias o prazer em adquirir e compartilhar novos conhecimentos.