Marburg: surto na Guiné Equatorial

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Recentemente, foi detectado um surto do vírus Marburg na Guiné Equatorial, país da África Central que faz fronteira com Camarões e Gabão. Hoje, vamos entender mais sobre o assunto e explicar o que exatamente o vírus causa. 

O que é Marburg? 

Você já deve estar se perguntando: “Mar… o quê?”

Marburg é um filovírus, da família Filoviridae. Sim, a mesma família do famigerado vírus Ebola. Assim como seu primo, o Marburg também causa febre hemorrágica e tem alta letalidade. Sua primeira aparição ocorreu antes mesmo do Ebola, em 1967. O Ebola foi descoberto em 1976.

Seu nome vem da cidade onde ocorreu o primeiro surto: Marburgo, na Alemanha. Surtos simultâneos ocorreram em laboratórios na Alemanha e na Iugoslávia, com a equipe dos laboratórios que estavam trabalhando com amostras de macaco-verde importados de Uganda. 

E vejam que Uganda fica no outro extremo da África Central, mais próximo do Oceano Índico, fazendo fronteira com Quênia e Ruanda.

Transmissão

Todos os casos descritos fora da África Central ocorreram ou por contaminação em laboratório ou em pessoas com viagens recentes para países da África Central.

O provável reservatório natural do vírus são os morcegos-da-fruta, ou raposa-voadora. Há registro de dois casos em Uganda em 2008 que desenvolveram a doença após contato com fezes de morcego, mas ainda não se sabe ao certo. 

Sabe-se também que a transmissão ocorre entre primatas não humanos, e também de macacos para humanos, como ocorreu no primeiro surto.

Após a transmissão de animal para humanos, o vírus pode ser transmitido de pessoa a pessoa. 

A transmissão se dá por contato na pele lesionada ou mucosas com sangue e fluídos corporais de pessoas com a doença ou que morreram pela doença. Também é possível se contaminar com objetos com fluídos corporais contaminados.

Sintomas de Marburg

Após contágio, há um período de incubação de 2 a 21 dias, com início repentino dos sintomas, sendo eles: 

  • febre;
  • calafrios; 
  • dor de cabeça;
  • mialgia; 
  • náusea e vômitos; 
  • dor no peito; 
  • dor de garganta; 
  • dor abdominal; 
  • diarreia. 

Além disso, no quinto dia, pode surgir rash maculopapular.

Os sintomas vão piorando progressivamente, podendo evoluir com icterícia, falência hepática, inflamação do pâncreas, perda de peso importante, delírio, choque, hemorragia massiva e disfunção de múltiplos órgãos. A letalidade varia de 23% a 90%.

O diagnóstico clínico é muito difícil, pois os sintomas iniciais são bastante inespecíficos e semelhantes a outras doenças, como a malária. A correlação epidemiológica é importantíssima, e a confirmação diagnóstica é feita por ELISA, PCR ou IgM.

Tratamento do Marburg 

Não existe tratamento ou vacinação para o vírus Marburg. A única opção é o suporte clínico. Felizmente, é uma doença rara.

Notificação

Nunca se esqueça de perguntar sobre viagens recentes e sobre histórico laboral. Como vimos, todo caso é proveniente da África Central ou por contágio em laboratório.

Na detecção de um caso suspeito, deve ser feito o isolamento do doente imediatamente e a notificação imediata nas três esferas administrativas (municipal, estadual e federal), por se tratar de doença grave, letal e fora de circulação.

Surto, epidemia ou pandemia?

O caso do Marburg na Guiné Equatorial é um surto. Os surtos são considerados uma ocorrência epidêmica. Os casos estão relacionados entre si, atingindo uma área geográfica delimitada.

Epidemia é a elevação progressivamente crescente, inesperada e descontrolada dos casos novos de determinada doença, ultrapassando valores acima do limiar epidêmico preestabelecido.

A pandemia é uma série de epidemias que atingem simultaneamente diversos países ou nações.

Mas há risco de se tornar uma pandemia?

O modo de transmissão é por contato direto, como já comentamos. É uma doença que ocorre em regiões mais isoladas do mundo. O risco de uma disseminação mundial é muito baixa.

Comparem com Covid-19, que tem transmissão por via aérea e surgiu na China, um país extremamente povoado e populoso, e com grande deslocamento de pessoas.

Enquanto isso, só podemos acompanhar as notícias, nos munir de informação, e torcer para que o surto seja controlado.

Até a próxima, galera!

Referências

https://www.cdc.gov/vhf/marburg/index.html

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LucasFrancisco Cestari

Lucas Francisco Cestari

Paulista, nascido em Araraquara (Aracoara, dos índios guaianá, Morada do Sol) em 1990. Formado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo em 2016, com residência em Medicina de Família e Comunidade pelo HC-FMRP-USP, concluído em 2019. Especialização em Preceptoria em MFC pelo UNA-SUS/UFCSPA em 2018/2019. Experiência como preceptor no programa de residência em MFC do HC-FMRP-USP. Só o conhecimento liberta.