Miocardiopatia dilatada: tudo que você precisa saber

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A miocardiopatia dilatada é uma das principais causas de insuficiência cardíaca no mundo
A miocardiopatia dilatada é uma das principais causas de insuficiência cardíaca no mundo

Fala, pessoal! Hoje vamos fazer uma breve revisão sobre a miocardiopatia dilatada, que é uma das principais causas de insuficiência cardíaca no mundo. Então, se liga no texto e boa leitura!

A cardiomiopatia dilatada (CMD) corresponde a cerca de 90% dos casos de cardiomiopatia e é definida pela dilatação e prejuízo da contração do ventrículo esquerdo (VE) identificados através do ecocardiograma. Possui diversas etiologias, podendo ser:

  • idiopática;
  • familiar/genética;
  • viral;
  • imune;
  • alcoólica/tóxica. 

Além disso, pode ser classificada como primária ou secundária.

Bora lá?

Classificação

Cardiomiopatia Dilatada Primária 

Caracterizada por aumento e disfunção sistólica do  VE. Cursa com insuficiência cardíaca progressiva, arritmias (principalmente se fração de ejeção reduzida), distúrbios de condução, predisposição a fenômenos tromboembólicos e aumento no risco de morte súbita. Porém, pode ter início abrupto, tendo como principal diagnóstico diferencial a miocardite. 

É uma das principais causas de transplante cardíaco e insuficiência cardíaca e tem sua fisiopatologia pouco esclarecida. A faixa etária de acometimento, no geralm é dos 18 aos 50 anos, sendo mais frequente em negros e no sexo masculino

Cerca de 35% dos casos são associados à transmissão genética, sendo a maioria esporádica, e o prognóstico se relaciona ao grau de disfunção ventricular e à sintomatologia, principalmente atrelada aos sintomas congestivos, tromboembólicos e às arritmias, sendo que, após início dos sintomas, a mortalidade em 5 anos pode variar de 25 a 50%. 

A suspeita clínica pode ocorrer em pacientes assintomáticos que apresentam aumento de área cardíaca na radiografia de tórax ou ainda em pacientes com 2 ou mais familiares com CMD e/ou história de morte súbita antes dos 35 anos em familiar de primeiro grau. Vamos ver alguns subtipos da forma primária: 

  • Forma esporádica: etiologia multifatorial (fatores genéticos associados aos epigenéticos) e de clínica heterogênea. Pode-se associar à infecção viral, principalmente pelo grupo coxsackie B, em que a reação antígeno-anticorpo gera necrose celular e, combinado à lesão viral direta através de proteases (apoptose celular), levariam à injúria miocárdica. Também podem ocorrer alterações genéticas, como no gene da distrofia situada no cromossomo X. 
  • Forma genética/familiar: representam cerca de 20-35% dos casos, sendo que a transmissão autossômica dominante é a principal via de transmissão. Na infância, está relacionada a defeitos mitocondriais, genes recessivos ou doenças ligadas ao X. Sua fisiopatologia pode estar relacionada ao aumento das metaloproteinases miocárdicas, cursando com alterações estruturais e funcionais das arteríolas coronarianas. Pode ser uma doença isolada ou associada à doença do sistema de condução que, por sua vez, aumenta a mortalidade, já que a alteração na condução é mais proeminente do que a alteração estrutural cardíaca. Na doença ligada ao X, que ocorre em adolescentes e adultos jovens, a CPK apresenta níveis elevados, mostrando doença esquelética associada. Outra forma seria a síndrome de Barth, que afeta somente meninos, possui transmissão recessiva e se apresenta com quadro de IC, miopatia esquelética, neutropenia e atraso do desenvolvimento neuropsicomotor. No ecocardiograma, além dos achados típicos de CMD, apresenta fibroelastose endocárdica.
  • Forma primária adquirida: é a cardiomiopatia periparto que acomete mulheres sem cardiopatia prévia, sem etiologia aparente Caracteriza-se pelo desenvolvimento de sintomas de IC no último mês de gestação ou em cinco meses após o parto. Tem como fatores de risco a raça negra, obesidade, cesárea prévia, multiparidade, idade materna avançada, gemelaridade e doença hipertensiva da gestação. A fisiopatologia ainda não é bem caracterizada, tendo como hipóteses miocardite, resposta imune anormal à gestação, citocina ativadas por estresse e tocólise prolongada. No ecocardiograma, apresenta FE inferior a 45% e fração de encurtamento inferior a 30% ou dimensão diastólica final do VE maior que 2,7 cm/m2.

Cardiomiopatia Dilatada Secundária

É a forma que ocorre como consequência de alguma outra doença, tais como: HAS, doença arterial coronariana, história pregressa de abuso de álcool por mais de 5 anos. Se relaciona principalmente com: 

  • deficiência de tiamina (doença cardíaca do beribéri);
  • taquiarritmias;
  • cor pulmonale;
  • doenças sistêmicas congênitas ou do pericárdio.

Diagnóstico da miocardiopatia dilatada 

Agora que já caracterizamos melhor a miocardiopatia dilatada, vamos para o principal ponto: o diagnóstico. A partir da suspeita clínica, relacionada à presença de sintomatologia, deve-se iniciar a investigação através de ECG, RX de tórax e ecocardiograma. 

O ECG pode mostrar distúrbios de condução, extrassístoles ventriculares (ESV) e taquicardia ventricular não sustentada (TVNS). 

A radiografia mostra aumento da área cardíaca às custas do VE e sinais de congestão pulmonar. 

A ecocardiografia permite avaliar o grau de dilatação das câmaras cardíacas, estimar a função ventricular e identificar possíveis valvopatias e trombos intracavitários. Os achados ecocardiográficos como FE reduzida e padrão restritivo durante enchimento ventricular aumentam em 3 vezes a mortalidade. 

Se surgir a hipótese de etiologia primária, deve-se fazer o rastreio não-invasivo em familiares.

No caso das CMD primária, o diagnóstico se baseia nos critérios do Grupo Europeu de Pesquisa em CMD Familiar: FE inferior a 45% e/ou porcentagem de variação do diâmetro ventricular menor que 25%, além de diâmetro diastólico ventricular maior que 117% do valor esperado para a idade e superfície corporal obtidos por ecocardiografia, cintilografia ou angiografia. Devem ser excluídos HAS, DAC, história pregressa de abuso de álcool por mais de 5 anos, taquiarritmias, cor pulmonale e doenças sistêmicas congênitas ou do pericárdio.

Tratamento da miocardiopatia dilatada

Depois de ler tudo isso, chegou a hora de ver como é feito o tratamento, o qual se baseia no manejo apropriado da insuficiência cardíaca (IC), bem como das arritmias. No caso da doença cardíaca por beribéri, deve ser feita também a reposição de tiamina, inicialmente endovenosa na dose de ataque de 100 mg e após, transicionar para via oral e manter dose de manutenção de 25 mg/dia por 1-2 semanas. 

É importante lembrar que o uso crônico de furosemida em altas doses (mais de 80 mg/dia) pode causar deficiência de tiamina, com chance de ser um agravante da insuficiência cardíaca.

Sobre a miocardiopatia dilatada, é isso!

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Referências

Consolim-Colombo,F. et al. Título: Tratado de Cardiologia SOCESP, quarta edição, editora Manole

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HellenSanches Pitaluga

Hellen Sanches Pitaluga

Meu nome é Hellen Sanches Pitaluga e sou natural de Goiânia. Sou formada pela Universidade de Ribeirão Preto desde 2019. Residência em Clínica Médica no Complexo Hospitalar Prefeito Edivaldo Orsi da Rede Mário Gatti em Campinas, São Paulo. Amo clínica médica e sua diversidade, mas quando se trata da cardiologia o há um pouco mais de amor.