Residência em Cirurgia do Aparelho Digestivo: saiba tudo sobre essa subespecialidade

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A Gastroenterologia é uma área médica repleta de possibilidades de atuação. Uma delas é a Cirurgia do Aparelho Digestivo, uma subespecialidade complexa, mas com uma rotina muito interessante. 

Apesar de o nome ser intuitivo, há muitos detalhes por trás dessa subespecialidade. Ela trabalha com todas as patologias do sistema digestório. Você também pode se especializar ainda mais se tiver interesse. 

Que tal saber o que é Cirurgia do Aparelho Digestivo, conhecer o mercado de trabalho e conferir os relatos de uma entrevista feita com o Arthur Arabi, especialista na área formado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e professor da Medway? Você encontra todos os detalhes a seguir!

O que é Cirurgia do Aparelho Digestivo?

Ao trabalhar com Cirurgia do Aparelho Digestivo, o médico se dedica ao tratamento cirúrgico das mais diversas patologias que se desenvolvem no aparelho digestivo humano.

Com exceção da cavidade oral, o profissional realiza cirurgias no esôfago, no estômago, no intestino delgado, no intestino grosso, no fígado, na vesícula biliar e no pâncreas. Trata-se de uma ampla região do organismo, por isso, é necessário ter conhecimento específico e direcionado sobre doenças e intervenções.

O médico dessa área é denominado gastrocirurgião. Além das técnicas cirúrgicas, ele precisa dominar o atendimento ao paciente, que procura explicações didáticas para os problemas e acompanhamento humanizado para se recuperar rapidamente.

Para atuar nessa área, o médico deve realizar uma residência médica em uma instituição credenciada pelo MEC ou pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva. Depois de finalizá-la, ele também pode se associar ao CBCB para se dedicar a pesquisas, novas práticas e formação continuada.  

Como é a rotina do cirurgião do aparelho digestivo?

A rotina do cirurgião do aparelho digestivo é intensa. Em geral, as intervenções são delicadas, mas há a contribuição da tecnologia, tornando-as menos invasivas. Apesar de a responsabilidade da cirurgia, não há necessidade de realizar carga horária grande de plantões, o que ameniza o dia a dia.

“O dia a dia do cirurgião do aparelho digestivo é um dia a dia que se baseia em dois cenários de atuação, basicamente: tanto o cenário de consultório, clínica mesmo, quanto o cenário, claro, do centro cirúrgico. A gente precisa realmente fazer o nosso consultório, conhecer os nossos pacientes, conhecer as histórias deles, chegar em diagnósticos, fazer investigação diagnóstica, tudo para chegar no nosso momento cirúrgico de tratar as principais doenças, as doenças mais prevalentes do aparelho digestivo”, relata Artur.

O médico também realiza exames, diagnósticos e tratamentos caso acompanhe o paciente desde o início do tratamento. Mesmo que o encaminhamento tenha sido feito por outro especialista, há casos de maior complexidade que necessitam desse contato.

No entanto, nem toda cirurgia do aparelho digestivo é tão complexa. Alguns exemplos são as cirurgias ambulatoriais ou as que precisam de um período de curta internação, sem alta incidência de complicações pós-operatórias, como as hernioplastias hiatais laparoscópicas e as colecistectomias laparoscópicas.

“Com relação às cirurgias, são cirurgias especialmente de menor complexidade. As mais comuns, as mais prevalentes, vão ser cirurgia de hérnia, de vesícula, às vezes alguma intersecção com a colopatologia, uma cirurgia de hemorróida, as cirurgias que a gente chama de orificiais, que são cirurgias anais. Mas o dia a dia, o que a gente chama de pão com manteiga, café com leite, do cirurgião do aparelho digestivo, acaba sendo realmente cirurgia de hérnia e cirurgia de vesícula, claro, além do consultório”, explica Artur.

Já as cirurgias oncológicas e os transplantes de órgãos são ideais para quem deseja uma rotina mais movimentada e se interessa pelas áreas de produção científica, clínica e laboratorial. É um trabalho mais desafiador, pois trata pacientes em estado crítico e com pós-operatórios mais prolongados. 

Como é o mercado de trabalho?

Atualmente, segundo o relatório Demografia Médica de 2025, existem 3.732 gastrocirurgiões no Brasil. Mais de 50% desse total se encontra na região Sudeste, o que a torna mais concorrida para estudo e trabalho.

Porém, isso não deve ser uma motivação para sair da região. Com dedicação e estudo constante, você pode atualizar seus conhecimentos para atender melhor, se destacar e construir uma carreira de sucesso em qualquer local do país.

A atuação do gastrocirurgião não se limita ao centro cirúrgico. Também é possível trabalhar com exames endoscópicos e outros atendimentos em consultórios e plantões. A agenda para exames costuma ser cheia para alcançar um bom rendimento, pois boa parte é coberta por planos de saúde.

Além disso, é possível seguir exclusivamente pela carreira acadêmica ou em conjunto com as operações. Tornar-se tutor na residência médica é uma forma de se destacar no ramo e contribuir para o crescimento e o desenvolvimento de novos profissionais.

Quanto ganha um gastrocirurgião?

Para se dar bem na área de Cirurgia do Aparelho Digestivo, é preciso pesar o que traz mais satisfação pessoal e equilibrar com o retorno financeiro. A concorrência em cidades pequenas e no interior é menor, mas nada impede um bom trabalho nas cidades maiores.

De acordo com o site Salário.com, a remuneração desse profissional é, em média, R$ 10.802,11 em jornadas de 25 horas semanais. Entretanto, as constantes especializações podem aumentar as chances de maior rendimento.

Quais habilidades são importantes para um cirurgião do aparelho digestivo?

Além do conhecimento técnico, o cirurgião do aparelho digestivo precisa desenvolver um conjunto amplo de habilidades que vão muito além da sala de cirurgia. A versatilidade é uma das principais características esperadas, já que a atuação envolve tanto o atendimento clínico quanto o trabalho manual e técnico nas operações.

“Acho que é uma especialidade, assim como todas as especialidades cirúrgicas, que exige uma certa versatilidade, porque como você tem que fazer tanto parte de clínica quanto de consultório, você acaba tendo que ter, vamos dizer assim, duas pessoas diferentes. Então você tem que ter uma capacidade de conduzir a história clínica, o atendimento de consultório, deixar o paciente à vontade e, claro, você tem que ter também muita habilidade manual, física e treinamento”, comenta Artur.

A prática constante e a dedicação são mais valorizadas do que o talento nato. O treino constante é o que garante segurança e bons resultados ao paciente.

“Acho que muito mais do que talento é treinamento, repetição e o tanto de esforço que você coloca dentro da sua profissão, especialmente na parte manual cirúrgica, para ter os resultados.”

Outro ponto essencial é a forma como o profissional lida com as complicações, inevitáveis na prática médica, exigindo maturidade e responsabilidade.

Por fim, o controle emocional também se mostra indispensável na condução de procedimentos de alta complexidade e nas tomadas de decisão sob pressão.

“A área exige também um certo controle emocional muito grande, porque você está lidando com coisas que são muito importantes e vitais como saúde, mas em procedimentos cirúrgicos. Você tem que ter a tranquilidade para operar bem, mas também a certeza da responsabilidade que você tem em mãos. Saber relaxar, mas também saber a responsabilidade que você está levando”, comenta Artur.

A residência em Cirurgia do Aparelho Digestivo

A residência médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo tem duração de dois anos e pré-requisito em Cirurgia Geral (com duração de 3 anos).

O programa, com 60 horas semanais, é considerado intenso, pois o residente encara várias noites sem dormir e fica em contato com muitos pacientes antes de ter a chance de começar a operar.

Ele passa pelo pré e pós-operatório na enfermaria. No primeiro ano, fica subordinado ao residente do segundo ano, visto como uma espécie de chefe de serviço. No geral, a rotina da semana se divide entre enfermaria, centro cirúrgico, ambulatório, plantões e reuniões.

“É uma rotina de fato cansativa, são dois anos de residência. Geralmente o primeiro ano é pior que o segundo, porque tem mais plantões, mais carga horária, apesar de que isso vai mudar bastante de um lugar para outro, da instituição que você está cursando ou não”, explica Artur sobre a rotina da residência.

O programa básico tem duração de dois anos, mas o residente pode acrescentar dois anos a mais caso queira se especializar em cirurgias de alta complexidade: oncológica do aparelho digestivo, bariátrica e transplantes de órgãos.

“É aprendizado cirúrgico mesmo. Você aprende a operar as cirurgias mais importantes, tanto as cirurgias arroz com feijão — como cirurgia de hérnia, de vesícula, de hemorróida —, mas também procedimentos grandes, parte de tumor, parte de oncologia”, comenta Artur.

Diferença entre Gastroenterologia e Cirurgia do Aparelho Digestivo

Apesar de complementares, a Gastroenterologia e a Cirurgia do Aparelho Digestivo são diferentes. Enquanto a primeira é uma especialidade clínica, focada no diagnóstico e tratamento não cirúrgico das doenças do sistema digestivo (como gastrite, refluxo, hepatites), a segunda é uma especialidade cirúrgica, voltada para intervenções em casos como câncer de estômago, hérnias, colelitíase e doenças do intestino.

A residência em gastroenterologia exige como pré-requisito a residência em clínica médica, enquanto a de cirurgia do aparelho digestivo exige formação em cirurgia geral.

Conheça outras especialidades com a gente!

A Cirurgia do Aparelho Digestivo é apenas uma das subespecialidades para seguir depois da graduação. Para conhecer outras opções, continue acompanhando os conteúdos do nosso blog. Se já estiver decidido que quer seguir em alguma das subespecialidades cirúrgicas conheça nosso curso Extensivo R+ de Cirurgia!

Daniel Haber Feijo

Daniel Haber Feijo

Professor da Medway. Formado pela Universidade do Estado do Pará, com Residência em Cirurgia Geral pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP). Siga no Instagram: @danielhaber.medway