Você sabe o que é colecistite aguda? Essa condição é comum nos atendimentos de prontos-socorros e nos principais setores de emergência de hospitais. Entretanto, como o manejo funciona na prática?
Antes de entrarmos nesse assunto, vale mencionar que já desenvolvemos um artigo exclusivo no nosso blog falando sobre o que é colecistite aguda, quais são os sintomas e as especificidades.
Antes de explicarmos como o manejo da colecistite aguda funciona, é importante simularmos um quadro clínico. Imagine que você está no pronto-socorro de um hospital de referência e recebe uma paciente de 58 anos com a seguinte queixa: dor aguda e intensa no quadrante superior direito, iniciada há 8 horas.
O quadro é acompanhado de náuseas e febre. Os laboratoriais apresentam somente discreta leucocitose, com desvio à esquerda, “barrigograma” normal (TGO, TGP, GGT, FA, BT, frações, amilase e lipase) e ECG sem alterações.
A ultrassonografia (USG) realizada à beira-leito evidenciou espessamento da parede da vesícula biliar, com sombra acústica posterior e sinal de Murphy ultrassonográfico. Com essas informações, é possível identificar uma possível colecistite aguda.
A seguir, você confere o passo a passo de como fazer o manejo da colecistite aguda, uma condição clínica muito comum na vida acadêmica e na prática médica, de forma completa.
A primeira etapa do manejo da colecistite inclui diversas medidas gerais, como manter o paciente em jejum. Se vômitos, náuseas e distensão abdominal forem persistentes, é necessário passar uma sonda nasogástrica. Confira outras ações abaixo:
O UpToDate, plataforma com informações médicas, sugere administração rotineira a todos os pacientes com colecistite, com a continuação da terapia até que a vesícula biliar seja removida ou o quadro se remeta.
No entanto, os dados são conflitantes, e alguns optam por não utilizá-los em casos muito leves. Lembre-se que os principais patógenos cobertos são da família Enterobacteriaceae, incluindo bastonetes gram-negativos e anaeróbios.
Para pacientes que não apresentam complicações da colecistite, pode-se optar por cefalosporina de segunda geração. A cefalosporina de terceira geração e com ação específica contra anaeróbios, como metronidazol ou clindamicina, deve ser realizada em pacientes de maior risco, como idosos e diabéticos.
Na maioria dos serviços, ceftriaxona e metronidazol ou ciprofloxacino e metronidazol são prescritos para todos. Antibióticos de amplo espectro, como meropenem ou imipenem, devem ficar reservados às infecções mais graves e ameaçadoras, quando os outros esquemas falham.
Geralmente, a duração da antibioticoterapia é ajustada à situação clínica. Para pacientes submetidos à colecistectomia por colecistite não complicada, suspendem-se os antibióticos no dia seguinte à colecistectomia.
A colecistectomia, sendo a laparoscópica a padrão, é a terapia definitiva. Uma vez que a colecistite aguda já indica uma complicação relacionada à presença de cálculos, a probabilidade de complicações subsequentes e sintomas recorrentes é alta.
Ainda é importante recordar que a colecistectomia de emergência é indicada para a minoria dos casos: colecistite aguda complicada, incluindo gangrena/necrose da vesícula biliar, perfuração e colecistite enfisematosa.
Porém, mesmo para casos não complicados, a colecistectomia deve ser realizada precocemente, ou seja, durante a internação do evento agudo, preferencialmente nos três primeiros dias, segundo o livro Clínica Cirúrgica da USP.
Vale notar que esse número mágico de 3 dias não é um consenso. Vários autores e sociedades defendem a realização de colecistectomia em 3, 7 e 10 dias da admissão ou do início dos sintomas. Outra possibilidade é adiar a cirurgia por um período (por exemplo, 45 dias) para permitir que a inflamação diminua.
Esperamos ter esclarecido as dúvidas em torno do que é a colecistite aguda e qual é o manejo correto dessa condição. Aqui, no nosso blog, disponibilizamos uma série de conteúdos sobre Medicina de Emergência e residência médica para contribuir com sua preparação.
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Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.