O que é lúpus: tudo que você precisa saber

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Fala galerinha, tudo bem? Estamos de volta com mais um tema da Clínica Médica para conversarmos! E a bola da vez é: lúpus eritematoso sistêmico, o famoso LES! Aquela doença que, assim que entramos na faculdade, começamos a ouvir sobre, sem nunca entender de fato o que é ela, não é mesmo? Afinal… “tudo pode ser lúpus!”.

Mas, fique tranquilo: nosso objetivo aqui hoje é justamente entregar tudo que você precisa saber sobre “o que é lúpus”!

Esse é o primeiro de uma série de textos em que falaremos sobre lúpus: o que ele é, quais seus sinais e sintomas, como fazer seu diagnóstico e, finalmente, como ele será tratado. Então, animem-se, queridos alunos. Ao final dessa jornada, saberemos, juntos, mais sobre essa patologia que foi descoberta há mais de 800 anos.

Lobo
Eurasian wolf in white winter habitat,. Beautiful winter forest. Wild animals in nature environment. European forest animal. Canis lupus lupus. Fonte: Reprodução

Mas, o que um lobo faz nesse texto?

Etimologicamente, o nome “lúpus eritematoso” deriva do latim e do grego e, é a tradução livre de “lobo vermelho”. E, então, você pergunta: “o que um lobo vermelho tem a ver com lúpus?”. 

A referência é ao rash malar que a maioria dos pacientes com LES apresentam: essa cor avermelhada em formato de borboleta tão característica das fotos que vemos nos livros de medicina também!

Sem mais delongas…

O que é lúpus? O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença autoimune sistêmica, ou seja, temos a agressão imunomediada por autoanticorpos e imunocomplexos a órgãos e tecidos! E esses “órgãos e tecidos” podem ser os mais variados possíveis, viu?

Por isso, você já deve ter ouvido falar que “lúpus pode tudo!”, porque, na realidade, é assim mesmo! Mas, é claro que existem as alterações mais comuns do LES e o “paciente típico”… No caso, “A” paciente.

O LES é uma doença que acomete, em predominância, mulheres em idade fértil, negras. Como vimos, é uma patologia que acontece com a presença de autoanticorpos e tem como “condição sine qua non” a positividade do FAN, o famoso fator anti-núcleo (que veremos com mais detalhes mais adiante, ok?). 

E, apesar de pode acometer virtualmente qualquer órgão ou tecido, é extremamente rara a ausência de sintomas cutâneos e/ou articulares.

Fisiopatologicamente…

O lúpus, como toda boa doença reumatológica, depende de dois grandes pilares: predisposição genética mais gatilhos ambientais!

Existem mais de 100 loci genéticos nos quais mutações aumentam o risco do desenvolvimento de LES. O locus mais frequente para essas mutações é na topografia associada com a expressão do MHC, aquelas moléculas de superfície celular que estudamos lá no ciclo básico e que têm a ver com a diferenciação de tecidos self e não-self.

Já viram que aqui mora grande parte do problema, né? Se o corpo não consegue distinguir, de forma correta, o que é próprio de si ou não, a chance de atacar algo pertencente é alta! E é isso o que acontece em uma doença autoimune como o LES. 

E, ainda no campo da genética, temos comprovação de associação com o cromossomo X (e, por isso, ele acomete mais mulheres): homens XXY (síndrome de Klinefelter) apresentam risco aumentado de desenvolvimento de LES, enquanto mulheres X0 (síndrome de Turner), risco diminuído.

Mas, essa influência não para por aí. Também temos interferência direta do hormônio estrogênio no sistema imune, postergando a apoptose de linfócitos B e T autorreativos. Assim, a incidência de LES é aumentada no menacme, em pacientes com menarca precoce e em pacientes tratadas com reposição hormonal e diminuída em idade pré e pós-fértil.

E os fatores ambientais?

Sabemos que a luz solar, a exposição à luz ultravioleta aumenta a expressão de antígenos nas células da epiderme… Essa sobrecarga de autoantígenos estimula a formação de linfócitos autorreativos e, consequentemente, a produção de autoanticorpos. Ou seja…

USE FILTRO SOLAR!

Além de prevenir várias outras alterações dermatológicas (inclusive neoplasias!), o filtro solar no lúpus ajuda a prevenir o flare, a ativação da doença. Assim, como médicos e médicas (além de usar), devemos prescrever para todos!

Mas, a luz UV não é o único fator ambiental capaz de induzir o lúpus. A exposição a alguns tipos de vírus e bactérias, além do tabagismo, também parecem aumentar o risco de seu desenvolvimento. 

Isso fica nítido, por exemplo, quando uma paciente portadora de lúpus é infectada por alguma bactéria, como em uma pneumonia adquirida na comunidade: não raro, ela irá desenvolver um flare do lúpus! Isso porque infecções sistêmicas favorecem a formação de autoanticorpos e linfócitos autorreativos.

E a prevalência?

A prevalência de LES é, respectivamente:

  • 70:100.000 na população geral.
  • 400:100.000 em mulheres negras.
  • maior em áreas urbanas que rurais (provavelmente pela exposição a gatilhos ambientais diferentes).
  • 85% dos casos emergem antes dos 55 anos, com o pico entre 16-55 anos.

Por hoje é só!

Como dito, esse é o primeiro de uma série de textos que liberaremos sobre lúpus! Por isso, abre o olho e já coloca o Blog da Medway nos favoritos para não perder nenhum hein?

Mas, enquanto espera pelo próximo, aproveita e vai lá conferir tudo que temos de conteúdo já liberado para vocês! Se for para deixar uma indicação, vai aí tudo que você precisa saber sobre a Reumatologia – a mãe do lúpus eritematoso sistêmico!

Espero muito que vocês tenham gostado, nos vemos em breve para aprender um pouquinho mais sobre essa patologia tão instigante! Bora pro único lugar possível: PRA CIMA!

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LarissaMenezes

Larissa Menezes

Nascida em Franca/SP, em 92, formou-se em medicina pela PUC-Campinas, em 2018. Especialista em Clínica Médica pela UNICAMP e completamente apaixonada por essa área cheia de detalhes e interpretações. Filha de professora e de um ávido leitor, cresceu com muito amor pelo ensino também, unindo essa paixão à medicina.