Fala, galera! Vamos rever pontos importantes sobre onfalocele? De onde vem? Como se apresenta? Como é a abordagem? E a pergunta clássica – como diferenciar de gastrosquise? Vamos embarcar juntos nesse assunto fascinante!
Saudades da embriologia? Lágrimas à parte, aqui conseguimos entender o porquê do defeito.
No desenvolvimento normal, por volta da sexta semana de gestação, o intestino médio se projeta para o interior do cordão umbilical, mas por volta da décima semana retorna à cavidade abdominal. Olha só:
Quando há, portanto, “falha” nesse retorno, ocorre a formação do saco onfalocélico, que é revestido por peritônio e âmnio.
Aqui já temos a principal característica da onfalocele: defeito na parede abdominal anterior, na região da base do cordão umbilical, que permite a protrusão de órgãos intra-abdominais (geralmente intestino, mas pode incluir fígado, estômago…). Mas que, diferentemente de outros defeitos , como a gastrosquise, é coberta por uma membrana. Olha aqui um spoiler da diferença entre as duas!
A prevalência varia na literatura, mas aproximadamente 3 a 4 casos para cada 10.000 nascimentos. Alguns fatores parecem aumentar o risco de onfalocele como:
Outro ponto importante é a associação da onfalocele com outras malformações, que varia na literatura (35% a 80%). Essas outras são principalmente gastrointestinais (como atresia anal, por exemplo), cardíacas e genitourinárias.
Podem ser isoladas, mas é sabido que há uma maior associação da onfalocele com anomalias cromossômicas (como trissomia 13, 18 e 21) e síndromes genéticas (por exemplo, a síndrome de Beckwith-Wiedemann). Aqui então conseguimos já dar outro spoiler: a gastrosquise, diferentemente da onfalocele, não costuma ter associação com outras malformações!
Como já vimos, a apresentação clínica consiste, portanto, em um saco herniário, que é coberto por membrana, e que contém órgãos abdominais. Esse saco onfalalocélico pode variar de tamanho, desde “pequeno” até “gigante”. Vale destacar que cerca de 80% dos casos das onfaloceles apresentam além do intestino, parte do fígado dentro da bolsa.
E quando o fígado não está no saco herniário, há maior risco de o feto apresentar aneuploidias e outras síndromes (>60%). Curioso, né?
O saco onfalocélico é delicado; em 7-15% pode haver ruptura ainda na gestação ou no nascimento, expondo os órgãos. E nesses casos, aumentam-se os riscos de infecção e de complicações. E se há rompimento, temos que nos atentar a outras diferenças que não a membrana para diferenciar da gastrosquise.
Gente, é super possível e desejável (por mudar prognóstico) que o diagnóstico seja feito ainda no período pré-natal.
Dessa forma, a ultrassonografia é a principal forma de identificar a onfalocele in utero, em geral a partir do 12º trimestre. O exame mostra – defeito na linha média, herniação de alças intestinais e/ou fígado para dentro de um saco na base do cordão umbilical.
Essa identificação, por ser precoce, permite melhor planejamento perinatal, incluindo escolha de local de parto (serviço terciário) e envolvimento de diferentes especialistas.
Além disso, é a partir do diagnóstico pelo USG, que podem ser considerados outros exames ainda no pré-natal para melhor investigação fetal, como exames genéticos fetais (avaliação de aneuploidia,teste genético para Beckwith-Wiedemann) e ecocardiograma fetal, por exemplo.
Se não identificado no pré-natal, ao nascimento o diagnóstico clínico é evidente. Mas não esquecer que temos que solicitar outros exames para investigar malformações associadas que, inclusive, acabam sendo as principais definidoras de morbidade e mortalidade.
Pessoal, eis a importância do diagnóstico pré-natal – já estarmos preparados desde a sala de parto. A abordagem inicial logo após o nascimento da onfalocele consiste em:
E o foco máximo será a estabilização do paciente, com monitorização intensiva, acesso para fluidos e antibioticoterapia.
Quanto à conduta cirúrgica, outro grande pilar do tratamento, a abordagem é mais individualizada, já que depende do tamanho do defeito, das condições clínicas do recém-nascido e das anomalias associadas.
Só para termos uma ideia geral, pessoal…basicamente a abordagem pode ser o fechamento cirúrgico primário, se possível, ou o fechamento cirúrgico em estágios. Quando o saco herniário é maior, usa-se um “silo” ou material sintético para cobrir e proteger as vísceras, promovendo uma redução gradual do conteúdo, para que seja possível a cirurgia com a intenção do fechamento da parede.
Em algumas situações (por exemplo, em recém-nascidos muito instáveis), pode-se utilizar agentes tópicos que estimulam a epitelização do saco, para posteriormente efetuar o reparo definitivo.
Tão importante quanto o tratamento inicial é o seguimento a longo prazo. Mesmo em bebês com onfalocele isolada, temos que acompanhar de perto e de forma global com especial atenção a necessidade de eventuais intervenções cirúrgicas adicionais.
Pessoal, gastrosquise também é um defeito da parede abdominal, mas com fisiopatologia diferente, o que leva às diferenças entre as duas. Alguns dados ajudam na diferenciação:
Pessoal, a onfalocele é portanto um desafio, com atenção desde o diagnóstico pré-natal até o acompanhamento de longo prazo. Espero que tenham aproveitado para relembrar os principais pontos! Até a próxima!
Stephenson CD, Lockwood CJ, MacKenzie AP. Gastroschisis. UpToDate. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/gastroschisis.
Stephenson CD, Lockwood CJ, MacKenzie AP. Omphalocele: Prenatal diagnosis and pregnancy management. UpToDate. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/omphalocele-prenatal-diagnosis-and-pregnancy-management.
OSÓRIO, Fernanda. Manejo da onfalocele e da gastrosquise no recém-nascido. 2018. Disponível em: ttps://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/02/879756/manejo-da-onfalocele-e-da-gastrosquise-no-recem-nascido-fernanda-osrio.pdf.
Kliegman RM, St. Geme JW III, Blum NJ, Shah SS, Tasker RC. Nelson Tratado de Pediatria. 22ª ed. Elsevier; 2024.
Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Onfalocele [Internet]. Disponível em: https://www.cdc.gov/birth-defects/es/about/onfalocele.html.
Formada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Extensão universitária em Biologia Molecular pela Brown University. Bolsista do Projeto Pesquisadores do Futuro da FCMSCSP. Residência em Pediatria.