A overdose de serotonina é uma condição pouco diagnosticada, justamente por ser pouco reconhecida. Além disso, contrariamente ao que se pensa, ela não ocorre só pela toxicidade de medicamentos serotoninérgicos, mas também em usos habituais.
Aprenda como reconhecer o padrão de apresentação dessa condição e veja qual é o manejo inicial recomendado com a leitura deste texto.
Você deve estar se perguntando por que um hormônio conhecido por trazer felicidade pode ser potencialmente fatal em uma dose elevada. Isso ocorre porque o neurotransmissor serotonina (5-HT) apresenta ação central e periférica.
Dessa forma, a ação no sistema nervoso central é modular à atenção, ao comportamento, à termorregulação e à cognição. Por outro lado, no sistema nervoso periférico, a atuação está relacionada à vasoconstrição, à broncoconstrição, à agregação plaquetária e à motilidade gastrointestinal.
O que realmente importa é que o excesso de serotonina nesses receptores causa um desbalanço nas funções, hiperativado-as e podendo causar um espectro de sintomas, que variam de leves a potencialmente ameaçadores à vida.
A overdose de serotonina pode ser fruto de uma iatrogenia, ou seja, resultado adverso de um tratamento prescrito por médico. Você lembra que os inibidores da recaptação seletiva de serotonina (IRSS) representam o padrão-ouro para o início do tratamento da depressão?
A maioria das síndromes serotoninérgicas é precipitada com o uso de uma ou mais classes responsáveis por aumentar a disponibilidade desse neurotransmissor na fenda sináptica, principalmente quando há:
Abaixo, estão as medicações mais relacionadas a esse evento adverso:
Função | Exemplos |
Inibidor seletivo de recaptação de serotonina (sertralina), inibidores da MAO (fenelzina), inibidor de recaptação de serotonina e norepinefrina (venlafaxina), lítio, antidepressivo tricíclico (amitriptilina). | |
Opioides analgésicos | Fentanil, tramadol. |
Antieméticos | Ondansetrona, metoclopramida |
Antibióticos | Linezolida |
Antimigranosos | Sumatriptano |
Medicação para tosse e resfriado | Dextrometorfano |
Drogas de abuso | Ecstasy, LSD, cocaína. |
Miscelânia | Azul de metileno, erva-de-são-joão. |
Primeiro, acompanhe um caso: A.C.R, 21 anos, com antecedente de depressão e ansiedade, chega ao PS com queixa de febre e sudorese. Você pega a ficha e a chama. Durante a anamnese, ela nega tosse, disúria, dor abdominal, manchas na pele ou viagem recente.
Ela relata que faz tratamento com antidepressivo e, hoje, o psiquiatra adicionou uma nova medicação. A paciente mostra-se agitada e inquieta. SSVV: PA 150/95, STO2 100% aa. Dextro de 112 mg/dl. Teste para gravidez negativa (urina).
Qual é a apresentação clínica da síndrome? Será que há algum exame para confirmar o diagnóstico? Em um quadro de intoxicação, presencia-se uma perda da modulação das funções exercidas com exacerbação. Dessa forma, há:
Alterações do estado mental | Instabilidade autonômica | Anormalidades neuromusculares |
Agitação | Taquicardia | Clônus |
Pressão para falar | Diarreia, hipertensão/hipotensão | Hiperreflexia desproporcionada crural-cranial |
Coma | Diaforese, pupilas midriáticas | Tremores, convulsão |
Olhando para essa tabela, perceba que os sintomas são muito inespecíficos e, juntamente a isso, o diagnóstico de síndrome serotoninérgica é clínico. É possível usar os critérios de Hunter, associados a um dos critérios abaixo, diante de um paciente com introdução/aumento da dose/interação recente de medicação serotoninérgica:
Os critérios de Hunter apresentam sensibilidade de 84% e especificidade de 97% para a condição. Agora, só um adendo:
O clônus é um movimento involuntário e rítmico, causado por lesão no neurônio motor inferior. Esse sinal é a chave do exame físico para pensar em intoxicação por serotonina.
Ao deparar-se com um paciente apresentando alteração do estado mental, taquicardia e diaforética, a primeira conduta é colocá-lo na sala de emergência para aplicar M.O.V.
Monitorize, providencie oferta de O2 se for necessário e obtenha o acesso venoso. O objetivo é dar suporte e alívio aos sintomas. Logo, as providências são:
Agora que você conhece a overdose de serotonina, vale conferir outros conteúdos sobre métodos contraceptivos no nosso blog para mandar bem no plantão. Se quiser colocar tudo em prática, o PSMedway é ideal. Com nosso curso de Medicina de Emergência, você domina seus atendimentos!
Nascido em 1990, em Cuiabá-MT, formado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 2020. Experiência como oficial médico temporário no 37° Batalhão de infantaria leve. Residência em Medicina de Emergência na Universidade de São Paulo (USP - SP). Amante da adrenalina se interessa por resgate aeromédico, usg-point of care e medicina de áreas remotas.