Psiquiatria Forense: o que é, áreas de atuação e carreira para o médico

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A Psiquiatria Forense representa a interligação de duas grandes áreas do conhecimento: a Medicina e o Direito. Os profissionais trabalham a serviço da Justiça, atuando nas práticas relacionadas à saúde mental e às leis.

Essa é uma nova forma de agir para ajudar a sociedade e aplicar os conhecimentos sobre a mente humana. Porém, antes, é preciso saber como essa subespecialidade funciona. Para te ajudar a entender mais, trouxemos relatos de Emi Mori, psiquiatra forense formada pela USP. 

Ela participou do podcast Papo de Clínica — parceiro da Medway —, e trouxe uma explicação sobre essa especialidade, além de relatos da sua experiência no ramo. Confira na íntegra

Agora vamos nessa? Veja tudo sobre a Psiquiatria Forense e descubra quais são os pontos mais relevantes! 

O que é a Psiquiatria Forense?

A Psiquiatria Forense é uma subespecialidade da Psiquiatria que aplica os princípios da saúde mental em questões jurídicas. O especialista avalia o estado psíquico de indivíduos envolvidos em processos judiciais — sejam eles réus, vítimas ou partes de disputas civis — com o objetivo de oferecer pareceres técnicos que apoiem decisões mais justas.

Na prática, o psiquiatra forense atua como perito judicial, elaborando laudos médicos-legais e relatórios que auxiliam juízes e promotores a entender se uma pessoa tinha consciência de seus atos (capacidade de imputabilidade) ou se apresenta transtornos mentais que interfiram na responsabilidade penal.

“Na prática, o trabalho mais conhecido do psiquiatra forense é como perito. É a pessoa que o juiz confia e que vai ajudá-lo na condução de um caso em que haja uma pessoa com suspeita de transtorno mental”, comenta Emi. 

Conceitos Jurídicos Fundamentais

Para compreender a atuação do psiquiatra forense, é importante conhecer alguns termos jurídicos essenciais:

Inimputabilidade

Quando o indivíduo, devido a transtorno mental, não possui capacidade de entender o caráter ilícito de seu ato. Nesses casos, o juiz pode determinar medidas de segurança em vez de penas convencionais.

Semi-imputabilidade

Situação em que o réu possui discernimento parcialmente comprometido. O juiz pode reduzir a pena ou aplicar tratamento psiquiátrico.

Medida de Segurança

Prevista no Código Penal e no Código de Processo Penal (CPP), é uma sanção que substitui a pena privativa de liberdade, voltada à reabilitação de pessoas com transtornos mentais.

Periculosidade

Refere-se à probabilidade de o indivíduo voltar a cometer infrações em razão de doença mental. A avaliação desse risco é uma das tarefas mais complexas da Psiquiatria Forense.

Áreas de Atuação da Psiquiatria Forense

A especialidade é ampla e envolve diferentes contextos dentro e fora do ambiente criminal. Abaixo, as principais áreas de atuação, com foco didático e prático:

1. Avaliação de Insanidade Criminal

Determina se o réu tinha plena capacidade mental no momento do crime e se pode ser responsabilizado.

2. Competência para Julgamento

Analisa se o indivíduo entende o processo legal e pode participar da própria defesa.

3. Capacidade Civil

Avalia se uma pessoa possui autonomia para administrar seus bens e tomar decisões sobre a própria vida.

4. Avaliação de Dano Psíquico

Investiga se experiências traumáticas (como assédio ou violência) causaram sofrimento mental mensurável e passível de indenização.

5. Avaliação de Risco de Reincidência

Examinar a possibilidade de repetição de condutas violentas, auxiliando a Justiça na concessão de liberdade ou medidas protetivas.

6. Transtornos Psiquiátricos e Crimes

Relaciona doenças mentais com comportamentos delituosos, analisando o impacto dos transtornos na pena.

7. Psicopatologia no Sistema Prisional

Diagnostica e acompanha transtornos mentais em pessoas privadas de liberdade, favorecendo a reabilitação.

8. Mediação em Disputas Judiciais

Atua em casos familiares, como guarda e separações, em que questões psicológicas influenciam o processo.

9. Avaliação de Capacidade Laboral

Determina se o trabalhador está apto para exercer atividades profissionais ou requer afastamento por motivos psiquiátricos.

10. Laudos Técnicos em Vítimas

Auxilia na comprovação de abuso físico, psicológico ou sexual, fornecendo subsídios técnicos aos tribunais.

Estrutura do Laudo Psiquiátrico-Forense

O laudo é o documento oficial emitido pelo psiquiatra forense. Ele deve conter:

  • Identificação e histórico do avaliado
  • Descrição dos exames e observações clínicas
  • Discussão técnica, com análise das evidências
  • Conclusão clara e fundamentada, respondendo aos quesitos formulados pelo juiz

Esse formato segue diretrizes do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Código de Processo Penal (CPP), garantindo rigor técnico e validade jurídica.

Como é a rotina do profissional da área?

O psiquiatra forense faz avaliações psicológicas para definir se o indivíduo está consciente de suas ações ou é inimputável, por exemplo.

Nas outras varas do Direito, a análise busca traçar perfis em disputas familiares, saber se uma pessoa está incapacitada para o trabalho e assim por diante.

A atuação do especialista no âmbito criminal pode ser motivada tanto por ordem judicial quanto por requerimento do próprio suspeito, como parte da estratégia de defesa em julgamentos e processos judiciais.

A Emi é perita criminal do IMESC (Instituto de Medicina Social e Criminologia do Estado de São Paulo). “Ali eu atendo réus e periciados que cometeram algum tipo de ato delitivo e  estão respondendo um processo, e que em algum momento, o juiz levanta a suspeita de que tenham transtorno mental que possa ter influenciado no crime. Eu sou chamada para avaliar e dar meu parecer”, explica Emi. 

O mercado de trabalho na área

O mercado é promissor e diversificado. O psiquiatra forense pode atuar:

  • Em instituições públicas, como o IML ou o IMESC;
  • Como perito judicial autônomo, nomeado em processos;
  • Em varas cíveis e criminais, colaborando com equipes multidisciplinares;
  • Como consultor técnico para escritórios de advocacia ou seguradoras.

Remuneração média

A remuneração de um psiquiatra criminal costuma ser bastante variável, já que depende das solicitações de laudos, para os autônomos, e da cidade, no caso de funcionários públicos.

Um psiquiatra ganha em torno de R$ 7.442,00 a R$ 16.416,00. A média é por volta de R$ 13.529,00. Apesar disso, o salário de um especialista forense depende do nível de experiência e do local de atuação do profissional.

Como se tornar psiquiatra forense?

Para seguir essa carreira, é necessário:

  1. Formar-se em Medicina;
  2. Concluir residência médica em Psiquiatria (3 anos, acesso direto);
  3. Realizar especialização em Psiquiatria Forense, reconhecida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP);
  4. Comprovar experiência de pelo menos cinco anos em perícias judiciais para obter o Certificado de Atuação na Área.

Especialização em Psiquiatria Forense

Depois de concluir a residência, você vai buscar a sua especialização em Psiquiatria Forense. A parte boa é que você não vai ter que enfrentar mais anos de residência para isso. Entretanto, precisa escolher um dos vários cursos de especialização que existem no mercado — prepare-se, pois o investimento pode ser alto.

Um exemplo é a especialização em Psiquiatria Forense do Hospital das Clínicas da FMUSP: com 490 horas de duração, o curso conta com aulas teóricas intercaladas com aulas práticas, apresentação de discussão de laudos reais e realização de perícias supervisionadas pelos professores.

O ideal é realizar um curso que realmente auxilie na preparação, pois, para receber o Certificado de Atuação na área de Psiquiatria Forense, é necessário ser aprovado na avaliação da Associação Brasileira de Psiquiatria. Você ainda precisa comprovar experiência de cinco anos de prática em perícias judiciais.

“A psiquiatria forense coloca um desafio a mais: lidar com os casos que o psiquiatra lida, mas com uma relação com o âmbito jurídico”, comenta Emi.

Especialize-se com a nossa ajuda!

A Psiquiatria Forense envolve a avaliação da condição psicológica e mental de pessoas, indo muito além dos crimes. É uma ótima oportunidade de atuar em um ramo diferenciado e com boas oportunidades. Para dar um passo à frente nessa caminhada, você pode contar com a nossa ajuda!

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Djon Machado

Djon Machado

Professor da Medway. Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com Residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Siga no Instagram: @djondamedway