Quadro clínico da gota: tudo que você precisa saber

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Pessoal, hoje vamos falar sobre o quadro clínico da gota, doença que vez ou outra vocês irão se deparar tanto no cenário de urgência (no diagnóstico diferencial da monoartrite aguda) quanto no contexto ambulatorial para manejo do paciente com hiperuricemia. 

Historicamente, a doença já tem sua importância, conforme demonstra a imagem abaixo do artista James Gillray, de 1799.

Imagem do artista James Gillray, de 1799.  Quadro clínico da gota
Legenda: imagem do artista James Gillray, de 1799. Fonte: https://www.britishmuseum.org/collection/image/46839001

De modo geral, a gota (ou artrite gotosa) precisa ser entendida como uma doença predominantemente metabólica, caracterizada por acúmulos/depósitos de cristais de ácido úrico (mais especificamente o monourato de sódio) nas articulações, gerando importante grau de inflamação local.

Epidemiologicamente, os dados mundiais sugerem uma prevalência em torno de 4% da população, com aumento de sua incidência nas últimas décadas, notadamente associado aos hábitos de vida (sedentarismo e excessos alimentares). 

A gota acomete mais homens de meia-idade (em torno da 4ª década de vida). Na mulher jovem, o estrogênio exerce um papel “protetor” (já que promove maior fração excretora de urato). 

Durante e após a menopausa, os níveis de ácido úrico séricos se elevam, alcançando valores próximos aos dos homens, aumentando, portanto, a incidência da doença.

Os principais momentos que compõem a história natural da gota são: Hiperuricemia assintomática; Gota intermitente aguda; Período intercrítico; Gota tofácea crônica. Vamos falar brevemente sobre os principais aspectos clínicos de cada um deles.

Hiperuricemia assintomática

Bom, pessoal, aqui basicamente o paciente tem elevação na concentração sérica de urato (acima de 6,8 mg/dl), porém sem sintomas. 

Chamo a atenção de vocês para este perfil de pacientes pois diversas outras doenças estão associadas, como síndrome metabólica, hipertensão arterial, sedentarismo, coronariopatias, insuficiência renal, entre outras. 

Aqui, nossa atuação no controle dos fatores de risco cardiovascular é fundamental! Este é o paciente de ambulatório, na Unidade Básica de Saúde (UBS), que devemos insistir nas orientações sobre perda de peso, dieta e atividade física.

Crise de gota (gota intermitente aguda)

Trata-se de um quadro tipicamente monoarticular (cerca de 80% dos casos), com intensa inflamação, caracterizada por: dor intensa, vermelhidão, calor local, edema e incapacidade funcional. 

Em geral, a intensidade máxima da crise (pico da inflamação) é alcançada em 12 a 24 horas. Neste momento, galera, alguns pacientes referem inclusive intensa dor local mesmo ao estímulo leve, como o contato do lençol da cama com a articulação, tamanha inflamação envolvida! 

O quadro tem duração de dias, podendo ser acompanhado em alguns casos por descamação subsequente da pele sobre a região acometida. As crises mais comumente ocorrem à noite e no início da manhã. 

A articulação certamente mais acometida é a primeira metatarsofalangeana do hálux, sendo este quadro de artrite chamado de podagra. 

Em até 20% dos casos, o acometimento na crise pode ser poliarticular (embora seja mais comum nos casos tardios da gota não tratada, com múltiplas recorrências). 

A poliartrite pode ser migratória ou simultânea e ocorre mais frequentemente em pacientes com doenças mieloproliferativas ou em transplantados que fazem uso de ciclosporina/ tacrolimus.

Período intercrítico

Atenção! Aqui o paciente é assintomático após a resolução da crise de gota, mesmo após toda aquela inflamação intensa mencionada anteriormente!!!

Mas por que está sendo dada tanta ênfase neste período da doença? Simples, esta é uma importante pista sugestiva para o diagnóstico etiológico de gota como causa da artrite. Nas demais causas de artrite, é infrequente a ocorrência de um intervalo assintomático.  

Fica a dica: ocorrência de intervalo assintomático após quadro agudo de artrite é muito sugestivo de gota!

Gota tofácea crônica

O chamado “tofo gotoso” caracteriza-se por coleções de ácido úrico/urato em forma sólida, com inflamação crônica associada e alterações destrutivas nos tecidos ao redor. 

Os tofos são visíveis, palpáveis, indolores e são encontrados em orelhas ou tecidos/partes moles como tendões, bursas e superfícies digitais. Nas deposições mais superficiais sob a pele, pode-se visualizar coloração amarelada ou branca dos tofos. 

Este também não é classicamente o paciente que irá te procurar em cenário de urgência, sendo encontrado mais comumente no ambulatório de clínica médica, quando deverá ser enfatizado o pilar de tratamento não farmacológico e/ou farmacológico da hiperuricemia.

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Referências

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  1. https://www.uptodate.com/contents/pathophysiology-of-gout?search=gota&source=search_result&selectedTitle=4~150&usage_type=default&display_rank=4
  1. FitzGerald, John D et al. “2020 American College of Rheumatology Guideline for the Management of Gout.” Arthritis care & research vol. 72,6 (2020): 744-760. doi:10.1002/acr.24180
  1. Richette P, Doherty M, Pascual E, et al2016 updated EULAR evidence-based recommendations for the management of goutAnnals of the Rheumatic Diseases 2017;76:29-42.

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