Fala, pessoal, tudo beleza? Hoje vamos conversar sobre o diagnóstico de gota. Para começarmos a tratar do assunto, vou trazer um caso clínico. Me acompanhem.
SJC, 67 anos, chega ao pronto-socorro se queixando de dor intensa no pé direito iniciada há 6h. Paciente previamente hipertenso e diabético, em uso de enalapril, anlodipino e metformina.
Ao exame físico, hiperemia de articulação da 1ª metatarsofalangiana direita, com intensa inflamação e dor local. Nega episódios anteriores.
Diante desse quadro, conseguimos levantar algumas hipóteses diagnósticas, dentre elas a artrite causada por gota.
O quadro de inflamação e dor em região de primeiro pododáctilo é bastante sugestivo desse diagnóstico. Mas será que podemos confirmá-lo apenas com a anamnese e o exame físico?
Primeiro, vamos lembrar como definimos gota: é uma artropatia inflamatória causada pela formação de cristais de ácido úrico (urato monossódico) nos tecidos articulares. Sendo assim, do que precisamos para confirmar um diagnóstico? Claro que precisamos ver o cristal na articulação!
O primeiro exame que iremos pedir no caso de crise aguda de gota será a artrocentese da articulação acometida, que é um exame a fresco do líquido sinovial. Aqui encontraremos, provavelmente, o cristal de urato monossódico em formato de agulha com birrefringência negativa.
Ao realizar a artrocentese em SJC, obtivemos o seguinte resultado:
Esse exame nos confirmará o diagnóstico em quadros agudos. Portanto, já temos o diagnóstico de Gota em SJC!
Além disso, o paciente pode apresentar alterações inespecíficas de inflamação, tais como: leucocitose, aumento de VHS e aumento de PCR.
Diferentemente dos casos crônicos, a dosagem de ácido úrico não terá valia aqui. Mas caso tenhamos a suspeita de gota oligossintomática, esse exame será essencial para instituirmos o tratamento. O valor de referência para a concentração sérica de ácido úrico é 2,5 a 7,5 mg/dL.
Para casos mais complicados de diagnosticar, o EULAR (Congresso Anual Europeu de Reumatologia), em 2015, liberou uma lista de critérios classificatórios para Gota, vamos entendê-los um pouco.
Pelo menos 1 episódio de edema, dor ou sensibilidade em uma articulação periférica ou bursa.
Presença de cristais de Urato monossódico em articulação sintomática.
– Envolvimento de tornozelo ou médio pé +1pt;
– Envolvimento da 1a metatarsofalangiana +2pt;
– Eritema sobre as articulações +1pt;
– Não consegue suportar o toque +2pt;
– Grande incapacidade de andar ou de utilizar a articulação afetada +3pt;
– Tempo de dor máxima <24h +1pt;
– Resolução do sintomas em < 14 dias +2pt;
– Resolução completa entre episódios sintomáticos +3pt;
– Drenagem ou nódulos subcutâneos semelhantes a giz sob a pele transparente, geralmente com vascularização sobrejacente, localizados em locais típicos: articulações, orelhas, bursa olecraniana, dedos e tendões +4pts;
– Urato sérico <4mg/dL -4pt;
– Urato sérico 4-6mg/dL 0pt;
– Urato sérico 6-8mg/dL +2pt;
– Urato sérico 8-10mg/dL +3pt;
– Urato sérico >= 10 +4pt;
– Ausência de cristais -4pt;
– Presença de cristais +4pt.
Quanto mais pontos o paciente apresentar, maior a probabilidade (ou certeza) do diagnóstico de Gota.
Além dos exames de sangue e articulares, podemos lançar mão de exames de imagem. Dentre eles, podemos citar alguns:
Tradução: Gout Disease = Gota; Normal joint = articulação normal; Swollen joint = edema articular; Uryc acid crystals = cristais de ácido úrico; Masses of uric acid = tofo de ácido úric
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Bons estudos!
Bianca Bolonhezi. Nascida em São Paulo/SP em 1996, formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina do ABC em 2020. Apaixonada pelo comportamento humano e seus desdobramentos. Uma ávida leitora que, no meio de tantos livros, se encantou pela educação.