Quadro clínico e tratamento das cardiopatias congênitas

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Você sabe como ocorre cardiopatias congênitas tratamento? Hoje em dia, já existem técnicas de correção cirúrgica intrauterina e muitos outros procedimentos dessas condições. Confira tudo sobre o assunto, a seguir.

Quadro clínico e tratamento das cardiopatias congênitas

No Brasil, a incidência das cardiopatias congênitas gira em torno de 8 a cada 1.000 nascidos vivos, o que representa uma média de 30.000 novos casos por ano. Em pelo menos 50% dos casos, a evolução costuma ser benigna. Em alguns, a anormalidade estrutural pode até regredir espontaneamente com o passar dos anos.

Por outro lado, alguns pacientes necessitam de tratamento intervencionista ou cirúrgico ainda no primeiro ano de vida. O ideal seria que essas anormalidades congênitas pudessem ser detectadas o mais precocemente possível.

Para isso, existe a ecocardiografia fetal, que faz uma avaliação intrauterina morfológica e funcional do coração do feto, preferencialmente após a 18ª semana de gestação.

Quando uma das seguintes alterações são detectadas (estenose aórtica crítica, estenose pulmonar crítica ou atresia da valva pulmonar e hipoplasia do coração esquerdo com comunicação interatrial restritiva), o feto pode ser submetido à intervenção ainda no período intrauterino, entre a 22ª e a 30ª semana de gestação (preferencialmente entre a 25ª e 26ª a semana).

Diante de pacientes cardiopatas, a primeira coisa a fazer é classificá-la em cianogênica ou acianogênica, definindo se o suprimento de sangue pulmonar/sistêmico pulmonar depende ou não da patência do canal arterial.

Manifestação clínica e abordagem terapêutica

A manifestação clínica, a gravidade e a abordagem terapêutica variam conforme a classificação. Os sinais e os sintomas de uma cardiopatia congênita limitam-se à cianose, à síndrome de baixo débito, à insuficiência cardíaca congestiva, ao sopro cardíaco e à arritmia.

A cianose do bebê cardiopata é central, ou seja, o arroxeamento pode ser notado na boca, na língua, nas mucosas centrais e nos capilares periféricos.

Essa cianose não melhora com o teste da hiperóxia (PO2 arterial < 150 mmHg mesmo sob FiO2 > 21%) e não se associa a desconforto respiratório (a menos que o bebê tenha algum acometimento pulmonar concomitante). Nas cardiopatias congênitas com manifestação “tardia”, o lactente vai apresentar sinais e sintomas inespecíficos, de baixa aceitação alimentar:

  • baixo ganho de peso;
  • desconforto respiratório, especialmente aos esforços;
  • palidez ou cianose cutânea;
  • transpiração excessiva;
  • oligúria;
  • hepatomegalia;
  • cardiomegalia.

Qual é o grande problema da insuficiência cardíaca nessa criança? O baixo limiar para descompensação. De uma hora para outra, ela pode fazer um choque cardiogênico crítico. Então, quando esperar que cada cardiopatia se apresente?

Manifestação de cardiopatia congênita

As cardiopatias graves, como transposição de grandes artérias, estenose pulmonar ou aórtica crítica, atresia pulmonar ou aórtica, manifestam-se precocemente, nos primeiros três dias de vida.

As famosas cardiopatias dependentes de canal, como a coartação crítica de aorta, costumam se manifestar a partir do quarto dia de vida, quando o canal arterial fecha.

Quando os sinais e os sintomas clínicos aparecem na terceira semana de vida (época em que ocorre uma queda mais importante da resistência vascular pulmonar), geralmente, eles estão relacionados a PCA, CIV, DSAV.

Por fim, algumas cardiopatias evoluem de forma benigna, podendo passar despercebidas até a vida adulta. Nesses casos, geralmente, elas não despendem de terapia específica.

Comunicação Interatrial

Traçado todo esse panorama geral, é necessário reforçar alguns pontos da cardiopatia congênita mais prevalente, a comunicação interatrial (CIA), que costuma ocorrer em cerca de 30% dos casos.

A CIA pode ser do tipo ostium secundum (disparado, o tipo mais comum), ostium primum, tipo seio venoso e tipo seio coronário. Independentemente do tipo, é classificada conforme o tamanho: pequena (< 6 mm), moderada (6-10 mm) e grande (> 10 mm).

Pacientes com CIA < 6 mm costumam ser assintomáticos: não há nenhuma intervenção a ser feita. Quando o defeito é > 6 mm, a criança pode manifestar sintomas de aumento do fluxo pulmonar e da pressão venocapilar pulmonar, tais como:

  • taquidispneia aos médios esforços;
  • limitação aos esforços;
  • pneumonias de repetição e baixo ganho de peso (pelo esforço causado pela taquidispneia).

A ausculta cardíaca bem feita pode apontar um desdobramento fixo de B2 (que não muda conforme a fase da respiração), um sopro sistólico ejetivo no foco pulmonar ou um sopro diastólico nos casos mais graves (que se comportam como uma estenose tricúspide relativa).

Nesses casos sintomáticos, pode-se considerar a terapia medicamentosa com diuréticos e vasodilatadores sistêmicos na tentativa de se diminuir a pressão na aorta e, consequentemente, o volume de sangue shuntado do átrio esquerdo para o átrio direito e para a artéria pulmonar.

O fechamento percutâneo só está indicado nos pacientes sintomáticos que tenham sinais de repercussão hemodinâmica e nos assintomáticos que tenham fluxo pulmonar 1,5x maior que o fluxo sistêmico.

Quando encaminhar o paciente ao especialista?

No tratamento de cardiopatias congênitas, quais casos podem ser seguidos com o pediatra geral e quais precisam ser referenciados ao cardiologista pediátrico? Isso varia de acordo com os seguintes fatores:

  • todo defeito diferente do ostium primum precisa ser referenciado, enquanto é função do pediatra geral conduzir o ostium secundum;
  • das CIAs do tipo ostium secundum, 62% fecham espontaneamente ou se reduzem a menos de 3 mm, sem repercussão, até os 4-5 anos de idade;
  • CIAs com < 4 mm têm 70% de chance de regredir, na velocidade de 1 mm/ano, em média;
  • CIAs com > 10 mm nunca fecham espontaneamente, ou seja, a criança precisa ser encaminhada ao especialista.

No tratamento das cardiopatias congênitas, os casos que precisam de intervenção podem ser operados cirurgicamente, via aberta ou de forma menos invasiva, com a colocação de um implante percutâneo no defeito. Essa via percutânea de abordagem é coberta pelo SUS atualmente.

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