Setembro Amarelo: questões de saúde mental que já caíram nas provas de residência médica

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O Setembro Amarelo é o mês de conscientização sobre a prevenção do suicídio, uma campanha que busca ampliar o diálogo sobre saúde mental, reduzir o estigma e fortalecer estratégias de cuidado. 

Para além da importância social e clínica, esse tema também aparece de forma recorrente nas provas de residência médica, sobretudo em áreas como Psiquiatria, Medicina de Família e Clínica Médica.

Compreender os fatores de risco, a avaliação do paciente em crise e as principais abordagens terapêuticas não só é fundamental para a prática médica, mas também pode ser decisivo no desempenho em processos seletivos.

Neste texto, reunimos questões de provas recentes que abordam saúde mental e suicídio, acompanhadas de comentários que ajudam a entender a lógica das bancas e os pontos-chave de cada tema.

Questões de saúde mental que já caíram nas provas de residência

Para ilustrar como o tema vem sendo explorado nos concursos, separamos questões recentes de residência médica que abordam saúde mental e comportamento suicida. 

Além de testarem conhecimentos fundamentais para a prática clínica, elas revelam os pontos mais valorizados pelas bancas. Confira abaixo:

SLMANDIC (2025) – questão 90

Qual das afirmações a seguir melhor reflete as características associadas ao risco aumentado de suicídio em indivíduos diagnosticados com transtorno depressivo maior? 

A) Indivíduos com transtorno depressivo maior geralmente não apresentam risco elevado de suicídio, pois a baixa energia e a falta de motivação frequentamente impedem a execução de planos suicidas. 

B) Pacientes que manifestam verbalmente intenções suicidas raramente concretizam esses atos, pois a maioria dos comportamentos suicidas ocorre de forma impulsiva e sem qualquer tipo de comunicação prévia. 

C) O risco de suicídio é significamente maior nos primeiros meses após os início de um episódio depressivo, especialmente em pacientes que apresentam um aumento repentino de energia e agitação psicomotora com pensamentos persistentes de desesperança.

D) O risco de suicídio em pacientes com depressão é geralmente maior durante a fase de remissão dos sintomas, quando eles sentem que estão se recuperando e conseguem planejar seus objetivos de forma mais organizada e racional. 

Alternativa correta: C

Resposta comentada 

Esta questão aborda um dos temas mais críticos da psiquiatria: a avaliação do risco de suicídio em pacientes com transtorno depressivo maior. O raciocínio clínico aqui envolve compreender que o risco suicida não é uniforme ao longo do curso da depressão, mas varia conforme fatores específicos como energia psicomotora, timing do episódio e presença de desesperança. 

A alternativa correta (C) destaca aspectos fundamentais: o período de maior risco nos primeiros meses do episódio depressivo, a importância da agitação psicomotora (que fornece energia para executar planos) e a desesperança como fator preditivo crucial. Este conhecimento é essencial para qualquer médico, pois a identificação precoce desses fatores pode ser literalmente uma questão de vida ou morte.

Vamos conferir as alternativas:

Alternativa A

Esta afirmação contém um erro conceitual perigoso. Embora seja verdade que alguns pacientes com depressão grave apresentam baixa energia, isso NÃO os protege do suicídio. Na verdade, quando há um mínimo de energia psicomotora disponível, o risco pode ser significativo. Além disso, muitos episódios depressivos cursam com agitação psicomotora, não apenas com retardo. Esta alternativa perpetua um mito clínico perigoso que pode levar à subestimação do risco.

Alternativa B  

Completamente incorreta e potencialmente perigosa na prática clínica. Estudos consistentemente mostram que a maioria das pessoas que morrem por suicídio comunicou suas intenções previamente, seja direta ou indiretamente. A regra de ouro é: TODA verbalização de ideação suicida deve ser levada a sério e avaliada adequadamente. Ignorar essas comunicações baseando-se na crença de que “quem fala não faz” é um erro grave que pode ter consequências fatais.

Alternativa C

Esta alternativa captura perfeitamente os principais fatores de risco: 1) O período crítico dos primeiros meses do episódio depressivo, quando o sofrimento está intenso mas ainda há energia suficiente para agir; 2) A agitação psicomotora, que fornece a energia necessária para executar planos suicidas; 3) A desesperança, que é considerada um dos melhores preditores de comportamento suicida, às vezes até mais que a própria severidade da depressão. A combinação desses fatores cria um cenário de alto risco que exige intervenção imediata.

Alternativa D

Esta alternativa confunde dois conceitos importantes. Embora seja verdade que alguns pacientes podem apresentar risco durante a recuperação inicial (quando recuperam energia mas ainda mantêm ideação suicida), caracterizar a remissão como período de maior risco é incorreto. Na verdade, a remissão verdadeira é caracterizada pela resolução tanto dos sintomas quanto da ideação suicida. O período perigoso seria mais precisamente descrito como a recuperação parcial inicial, não a remissão completa.

Visão do aprovado

Aqui vai uma dica valiosa para gravar: lembre-se do conceito de energia suficiente para executar o plano. Muitos estudantes ficam confusos pensando que a depressão sempre causa apatia protetora, mas isso é um equívoco perigoso. O momento mais crítico é quando há sofrimento intenso COMBINADO com energia psicomotora – seja no início do episódio ou quando há melhora parcial com antidepressivos (o famoso “paradoxo dos antidepressivos”, onde a energia retorna antes da melhora do humor). 

Uma armadilha comum neste tipo de questão é subestimar a importância da verbalização suicida – nunca caia nessa! Na prática clínica, sempre investigue ativamente sobre ideação suicida, especialmente em pacientes diagnosticados com os fatores de risco mencionados.

Este tópico conecta-se diretamente com farmacologia (efeitos iniciais dos antidepressivos), emergências médicas (manejo da crise suicida) e até mesmo aspectos legais da medicina (responsabilidade na avaliação de risco). Dominar esses conceitos não é apenas importante para passar na prova – é fundamental para salvar vidas na sua futura prática médica.

SES-RJ (2025) – questão 7

Um paciente de 38 anos, com histórico de transtorno depressivo maior, é avaliado em uma consulta de emergência devido a pensamentos suicidas ativos. Qual dos fatores de risco abaixo representa o maior risco de suicídio em um paciente com transtorno depressivo maior

A) Presença de suporte social cognitivo 

B) Primeiro episódio de depressão sem ideação suicida prévia 

C) Idade jovem com ausência de comorbidades psiquiátricas 

D) História familiar de suicídio 

E) Perda recente de emprego, sem sintomas adicionais 

Alternativa correta: D

Resposta comentada 

Esta questão aborda um tema extremamente relevante para as provas de residência e para a prática clínica: a avaliação do risco de suicídio em pacientes com transtorno depressivo maior. O cenário apresenta um paciente de 38 anos com diagnóstico estabelecido de transtorno depressivo maior que está sendo avaliado em uma consulta de emergência devido a pensamentos suicidas ativos – uma situação que exige avaliação imediata e criteriosa dos fatores de risco.

A questão é fundamental porque a avaliação adequada do risco suicida pode salvar vidas. Segundo o guia, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio no mundo anualmente, e transtornos mentais são encontrados em cerca de 90% dos indivíduos que morreram por suicídio. No Brasil, são aproximadamente 11 mil mortes por suicídio por ano.

O gabarito oficial é a alternativa D – História familiar de suicídio. Este é considerado um dos mais importantes fatores de risco para comportamento suicida, superando fatores situacionais ou demográficos isolados. A história familiar não apenas indica uma predisposição genética, mas também pode refletir padrões familiares de enfrentamento, exposição a trauma e modelagem comportamental.

É crucial entender que estamos procurando o MAIOR fator de risco dentre as opções apresentadas, o que significa comparar o peso relativo de cada fator na literatura científica e na prática clínica.

Vamos analisar as alternativas: 

Alternativa A

Esta alternativa apresenta um fator protetor, não um fator de risco. A presença de suporte social significativo é reconhecidamente um dos principais fatores que reduzem o risco de suicídio. Como menciona o guia, “um dos poucos fatores de proteção para tentativas de suicídio é o suporte sociofamiliar”. Pacientes com bom suporte familiar e social têm menor probabilidade de tentar suicídio e, quando tentam, frequentemente podem ser tratados em regime ambulatorial. Esta alternativa é claramente incorreta pois representa proteção, não risco.

Alternativa B

O primeiro episódio de depressão sem ideação suicida prévia representa um risco relativamente menor quando comparado a outros fatores. Embora qualquer episódio depressivo carregue risco suicida, a ausência de ideação suicida prévia e o fato de ser o primeiro episódio sugerem menor gravidade e menor probabilidade de comportamento suicida imediato. Pacientes com episódios recorrentes, ideação suicida prévia ou tentativas anteriores apresentam risco significativamente maior. Esta não é a alternativa que representa o maior risco.

Alternativa C

Idade jovem com ausência de comorbidades psiquiátricas na verdade representa menor risco relativo. Embora o suicídio possa ocorrer em qualquer faixa etária, a ausência de comorbidades psiquiátricas é um fator protetor importante. Além disso, pacientes jovens sem comorbidades geralmente têm melhor prognóstico e maior capacidade de resposta ao tratamento. A presença de comorbidades (como transtornos de personalidade, uso de substâncias, ou outros transtornos mentais) aumenta significativamente o risco suicida.

Alternativa D

ALTERNATIVA CORRETA. A história familiar de suicídio é reconhecida como um dos mais importantes fatores de risco para comportamento suicida. Estudos mostram que ter um familiar que morreu por suicídio aumenta o risco em 2-8 vezes, dependendo do grau de parentesco. Este fator combina predisposição genética, modelagem comportamental, trauma familiar e frequentemente indica presença de transtornos mentais na família. O guia confirma a importância da história familiar ao mencionar que “parente de um paciente bipolar está sob risco de desenvolver ainda esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo e depressão unipolar recorrente”.

Alternativa E

A perda recente de emprego sem sintomas adicionais representa um estressor agudo que pode aumentar o risco suicida, mas quando isolado e sem sintomas adicionais, tem impacto menor que a história familiar. Estressores situacionais como problemas financeiros ou profissionais são importantes gatilhos, mas seu efeito é geralmente temporário e pode ser mitigado com suporte adequado. A história familiar, por outro lado, representa um fator de risco mais duradouro e com base biológica mais sólida.

Visão do aprovado

Para dominar questões sobre avaliação de risco suicida, é fundamental memorizar a hierarquia dos fatores de risco. A dica principal é lembrar que história familiar de suicídio está sempre no topo da lista de fatores de risco, junto com tentativas prévias de suicídio e presença de transtornos mentais graves.

Uma estratégia importante é distinguir fatores de risco de fatores protetivos. Suporte social, vínculos familiares sólidos, tratamento adequado e ausência de comorbidades são sempre protetivos. Já história familiar, tentativas prévias, comorbidades psiquiátricas e acesso a métodos letais são sempre fatores de risco.

Armadilha comum: não confundir a gravidade de estressores agudos com fatores de risco crônicos. Embora a perda de emprego seja significativa, fatores como história familiar têm peso muito maior na literatura científica.

Para memorização, use o acrônimo “FHIST”: Família (história familiar), História prévia de tentativas, Isolamento social (falta de suporte), Substâncias (uso de drogas/álcool), Transtornos mentais graves.

Conexão importante: este tema se conecta diretamente com o manejo de transtornos depressivos, bipolares e de ansiedade. Sempre que avaliar um paciente com qualquer transtorno mental, inclua a avaliação de risco suicida na anamnese.

Dica prática: em questões que pedem o “MAIOR” fator de risco, procure primeiro por história familiar ou tentativas prévias – estes quase sempre serão a resposta correta quando presentes nas alternativas.

Para aprofundamento, recomendo revisar as diretrizes do Ministério da Saúde sobre prevenção do suicídio e a cartilha do setembro amarelo, que detalham a abordagem sistemática da avaliação de risco. 

SMS – Curitiba (2024) – questão 12

A Organização Mundial de Saúde aponta mais de 800 mil mortes por suicídio ao ano, considerando isso um problema de saúde pública de alta prevalência. Dentre as alternativas abaixo, qual a que apresenta os 2 principais fatores de risco: 

A) Sexo masculino e idade acima de 75 anos. 

B) Desemprego recente e estar divorciado(a).

C) Depressão e aposentadoria. 

D) Tentativa prévia de suicídio e presença de transtorno mental. 

Alternativa correta D

Resposta comentada 

Esta questão aborda um dos temas mais críticos da psiquiatria e saúde pública: a prevenção do suicídio. Com dados alarmantes da OMS indicando mais de 800 mil mortes anuais por suicídio globalmente, entender os principais fatores de risco é essencial não apenas para as provas de residência, mas principalmente para nossa prática clínica futura.

O tema é extremamente cobrado em concursos médicos, especialmente nas especialidades de Psiquiatria, Medicina de Família e Clínica Médica, pois todos os médicos devem saber reconhecer e manejar pacientes em risco suicida. A questão testa nosso conhecimento sobre a hierarquização dos fatores de risco, distinguindo entre fatores importantes e os verdadeiramente principais.

Segundo as evidências científicas mais robustas, existe uma clara hierarquia de fatores de risco para suicídio. Os fatores clínicos (relacionados à saúde mental e histórico médico) superam consistentemente os fatores demográficos (idade, sexo) e sociais (emprego, estado civil) em termos de poder preditivo.

O conceito fundamental aqui é que, embora diversos fatores contribuam para o risco suicida, dois se destacam como os mais importantes: tentativas prévias de suicídio e presença de transtorno mental. Estes são considerados os preditores mais fortes e consistentes na literatura psiquiátrica mundial.

Dá uma olhada nas alternativas:

Alternativa A
Sexo masculino e idade acima de 75 anos representam fatores de risco demográficos importantes, mas não os principais. 

Embora homens tenham taxas de suicídio consumado mais altas (devido ao uso de métodos mais letais) e idosos apresentem risco elevado (especialmente por isolamento social e doenças crônicas), estes são fatores estatísticos que não superam a importância dos fatores clínicos. 

Muitos homens idosos nunca tentarão suicídio, enquanto a presença de transtorno mental ou tentativa prévia confere risco muito mais específico e elevado.

Alternativa B
Desemprego recente e estar divorciado(a) são fatores de risco sociais reconhecidos, mas secundários. Embora eventos estressantes da vida (como perda de emprego ou ruptura conjugal) possam precipitar crises suicidas, especialmente quando há vulnerabilidade prévia, estes funcionam mais como “gatilhos” do que como preditores primários. 

Milhões de pessoas passam por desemprego ou divórcio sem apresentar ideação suicida, demonstrando que são fatores contributivos, não principais.

Alternativa C

Esta alternativa combina um fator de risco principal (depressão) com um secundário (aposentadoria). A depressão é realmente um dos transtornos mentais mais associados ao suicídio, estando presente em cerca de 60% dos casos. 

Porém, a aposentadoria por si só não é considerada um dos principais fatores de risco – pode até ser protetiva em alguns casos, proporcionando alívio do estresse ocupacional. A combinação não representa os dois principais fatores solicitados na questão.

Alternativa D
Esta é a alternativa correta. Tentativa prévia de suicídio é o preditor individual mais forte de suicídio futuro – pessoas que já tentaram têm risco 10-20 vezes maior de nova tentativa e morte por suicídio. 

Presença de transtorno mental está presente em aproximadamente 90% dos suicídios consumados, sendo os transtornos depressivos, bipolares e psicóticos os mais associados. Estes dois fatores representam os preditores mais robustos e consistentes identificados pela pesquisa científica mundial.

Visão do aprovado

Para dominar questões sobre fatores de risco suicida, memorize esta hierarquia: Clínicos > Demográficos > Sociais. Os fatores clínicos (tentativas prévias, transtornos mentais, principalmente depressão e bipolaridade) sempre superam outros em importância preditiva.

Uma dica valiosa é lembrar que tentativa prévia é o melhor preditor de tentativa futura – é como se fosse um “teste de estresse” que demonstra que a pessoa já superou a barreira psicológica para o ato. Combine isso com o fato de que 90% dos suicídios têm transtorno mental associado, e você tem os dois fatores principais.

Armadilha comum: Não confunda fatores “importantes” com “principais”. Sexo masculino, idade avançada, desemprego e divórcio SÃO fatores de risco relevantes, mas são secundários comparados aos clínicos.

Para memorizar: Use o acrônimo “TT” – Tentativa prévia e Transtorno mental são os dois principais.

Conexão com outros tópicos: Este conhecimento se conecta diretamente com o manejo da crise suicida, critérios para internação psiquiátrica involuntária e protocolos de avaliação de risco em emergências médicas.

Dica de prova: Sempre que virem uma questão perguntando sobre os “principais” fatores de risco, procurem por alternativas que incluam tentativas prévias e/ou transtornos mentais. Questões que listam apenas fatores demográficos ou sociais provavelmente não serão as corretas quando se busca os “principais” preditores.

SES-GO (2022) – questão 39

Sobre a abordagem e o tratamento de uma pessoa em comportamento suicida, sabe-se que: 

A) A ineficácia de tratamentos farmacológicos em conseguir prevenir o sucidio torna a psicoterapia o padrão-ouro para a maioria dos pacientes com planejamento suicida, especialmente a terapia cognitivo comportamental. 

B) Em pacientes com transtornos psiquiátricos que apresentem ideação suicida grave, medicamentos com alto risco de toxicidade, tais como antidepressivos tricíclicos, clozapina e lítio, devem ser suspensos. 

C) A prescrição de antidepressivos estará sempre indicada devido à especificidade desse sintoma no diagnóstico da depressão, ainda que o efeito tenda a demorar várias semanas para ocorrer.

D) Além da escuta empática e psicoterapia, a indicação de eletroconvulsoterapia ou de escetamina podem ser realizadas no paciente com transtorno depressivo maior, devido ao rápido efeito antisuicida. 

Alternativa correta: D

Resposta comentada 

A questão aborda um tema extremamente importante na psiquiatria: a abordagem e o tratamento de pessoas com comportamento suicida. O suicídio é um grave problema de saúde pública, sendo a depressão o principal transtorno mental relacionado a este desfecho. 

Conforme dados epidemiológicos, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio anualmente no mundo, e no Brasil são aproximadamente 11 mil mortes por ano.

Estima-se que 90% dos indivíduos que morreram por suicídio apresentavam algum transtorno mental, especialmente transtornos de humor. 

Este tema é recorrente em provas de residência, especialmente por sua relevância clínica e pela necessidade de conhecimento sólido sobre diferentes abordagens terapêuticas disponíveis, seus mecanismos de ação e suas indicações específicas em situações de risco.

Vamos para as alternativas:

Alternativa A 

Esta alternativa está incorreta. Afirmar que há “ineficácia dos tratamentos farmacológicos” na prevenção do suicídio contradiz as evidências científicas. Diversos medicamentos têm efeito anti suicida comprovado, como o lítio, a clozapina e alguns antidepressivos. 

Embora a psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, seja importante no tratamento, não é considerada isoladamente o padrão-ouro para todos os pacientes com planejamento suicida. A abordagem combinada (farmacoterapia + psicoterapia) costuma apresentar resultados superiores em casos graves.

Alternativa B 
Esta alternativa está incorreta. Apesar de antidepressivos tricíclicos, clozapina e lítio apresentarem potencial toxicidade em sobredose, a suspensão destes medicamentos em pacientes com transtornos psiquiátricos e ideação suicida pode piorar o quadro clínico e aumentar o risco de suicídio. 

O lítio, por exemplo, possui efeito anti suicida bem documentado em pacientes com transtorno bipolar. A clozapina tem efeito anti suicida em pacientes com esquizofrenia. A conduta correta seria manter estes medicamentos com monitoramento rigoroso, dispensação controlada e acompanhamento próximo, não sua suspensão.

Alternativa C
Esta alternativa está incorreta. A afirmação de que antidepressivos “estarão sempre indicados” é inadequada. A ideação suicida não é um sintoma específico da depressão e pode ocorrer em diversos transtornos mentais como esquizofrenia, transtorno bipolar, transtornos de personalidade e uso de substâncias. 

Além disso, antidepressivos podem aumentar o risco de comportamento suicida em alguns pacientes, especialmente em jovens nas primeiras semanas de tratamento. O início do efeito terapêutico dos antidepressivos convencionais ocorre após 2-4 semanas, o que não atende à necessidade de intervenção rápida em casos de risco iminente.

Alternativa D
Esta alternativa está correta. A abordagem do paciente com risco de suicídio deve ser multifacetada, incluindo escuta empática e psicoterapia como base do tratamento. Em pacientes com transtorno depressivo maior e risco suicida, a eletroconvulsoterapia (ECT) é uma opção terapêutica com efeito rápido e eficácia comprovada na redução da ideação suicida, sendo muitas vezes considerada quando há risco iminente.

A esketamina intranasal, recentemente aprovada para depressão resistente, também demonstra efeito anti suicida rápido (dentro de 24–48 horas). Ambas as opções terapêuticas proporcionam uma janela de segurança enquanto outras intervenções começam a fazer efeito, representando uma abordagem moderna e baseada em evidências.

Visão do aprovado
Ao abordar questões sobre comportamento suicida, é fundamental ter em mente a avaliação de risco e as diferentes opções terapêuticas disponíveis. Perceba que a banca explorou o conhecimento sobre intervenções com efeito antissuicida rápido versus tratamentos convencionais.

Um ponto crucial para responder corretamente foi entender que o risco de suicídio frequentemente exige intervenções com início de ação rápido, como a ECT e a esketamina, especialmente em casos graves de depressão. Os antidepressivos convencionais demoram semanas para atingir efeito terapêutico pleno, o que pode ser tarde demais em situações de risco iminente.

Fique atento às “armadilhas”:

  • Não confunda comportamento suicida com depressão exclusivamente – ele pode ocorrer em diversos transtornos mentais;
  • Cuidado com afirmações absolutas como “sempre” ou “nunca” em psiquiatria;
  • Lembre-se do balanço risco-benefício ao avaliar medicamentos potencialmente letais em sobredose.

Conecte este tema com o conhecimento sobre o lítio e seu efeito antisuicida em pacientes bipolares – é um dos poucos medicamentos com efeito específico na redução de taxas de suicídio, independente do seu efeito estabilizador de humor.

Para aprofundamento, recomendo estudar as diretrizes da Associação Brasileira de Psiquiatria sobre prevenção de suicídio, além da literatura sobre novos agentes com efeito antisuicida rápido como a escetamina e seus mecanismos de ação.

Unifesp (2022) – questão 99

Homem, 20 anos de idade, é levado ao PS por episódio de agressividade há 1 dia. A mãe refere que ele passou a ficar mais calado e isolado, há meses. Ele abandonou o emprego, pois se sentia desconfortável com os colegas, alegando que comentavam sobre ele e queriam lhe prejudicar frente ao chefe. 

Passou a escutar vozes, que o xingavam em alguns momentos, falava coisas sem sentido e tinha crises de choro. Chegou a relatar a sua mãe que pensava em se jogar na frente do trem para acabar com seu sofrimento. Vem progressivamente piorando. Faz uso regular de maconha há 1 ano, sendo o último consumo há 2 meses. Qual é o diagnóstico mais provável? 

A) Episódio depressivo grave, com sintomas psicóticos. 

B) Transtorno psicótico induzido por drogas (cannabis).

C) Esquizofrenia paranoide. 

D) Transtorno delirante persistente. 

Alternativa correta: C

Vamos lá, turma. Questão aqui de psiquiatria focando em esquizofrenia paranoide.

Vamos começar então falando um pouco sobre patologia. O primeiro episódio psicótico costuma acontecer entre os 15 e 30 anos. E a clínica típica são os sintomas positivos (de produção, como delírio, alucinação, sendo a auditiva a mais comum). Geralmente associados a discurso desorganizado e sintomas negativos (como apatia, e falta de energia).

Para o diagnóstico pelo DSM-V precisamos de prejuízo funcional por pelo menos 6 meses na ausência de outro diagnóstico associado a pelo menos dois dos sintomas abaixo (sendo obrigatório 1 dos 3 primeiros):

  • Delírios
  • Alucinações
  • Discurso desorganizado
  • Comportamento desorganizado
  • Sintomas negativos

Nessa questão temos um homem em idade típica, com alteração do comportamento há mais de 6 meses, prejuízo funcional, alucinações auditivas e delírio persecutório.

Vamos para as alternativas:

Alternativa A

Aqui temos um diagnóstico diferencial importante mas geralmente nos distúrbios de humor os sintomas psicóticos costumam estar presentes apenas na crise de depressão ou mania. Não costuma ser um sintoma sustentado.

Alternativa B
Na psicose induzida por maconha geralmente temos associação com intoxicação em doses elevadas ou por abstinência em retirada abrupta. Nesse caso o paciente está há dois meses sem usar mantendo o padrão. A evolução temporal afasta essa nossa hipótese. Por outro lado, o uso de maconha pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de esquizofrenia.

Alternativa C
Exatamente a resposta para nossa questão. Paciente com sintomas positivos e negativos persistentes há mais de 6 meses com prejuízo funcional.

Alternativa D
O transtorno delirante persistente geralmente acontece em outra faixa etária, geralmente dos 35 aos 45 anos. Aqui o mais importante é o delírio, a alucinação pode estar ausente. E ambos são relacionados a um tópico específico, diferente da esquizofrenia que costuma ter uma conotação mais ampla. Além disso, não costuma haver prejuízo funcional.

Visão do aprovado
Questão de psiquiatria sobre esquizofrenia. Quem lembrou bem dos conceitos e da epidemiologia conseguiu matar essa.

Essas são as questões de saúde mental que já caíram nas provas!  

O suicídio é um dos principais problemas de saúde pública do mundo, e sua prevenção depende diretamente da atuação médica fundamentada em ciência, empatia e responsabilidade. 

Nas provas de residência, o tema da saúde mental aparece com frequência porque está intimamente ligado à prática clínica cotidiana: reconhecer sinais de alerta, avaliar riscos e indicar condutas adequadas pode salvar vidas.

Estudar questões anteriores é uma forma eficaz de consolidar esse conhecimento e se preparar melhor. Mais do que acertar a resposta da prova, trata-se de desenvolver a sensibilidade e a segurança necessárias para lidar com pacientes em situações de grande vulnerabilidade.

Todas essas questões fazem parte do nosso Ultrabanco de Questões, sempre acompanhadas de comentários feitos por professores especialistas. Quer ampliar ainda mais sua preparação e ter acesso a milhares de questões comentadas? Garanta sua vaga nos nossos Extensivos

Djon Machado

Djon Machado

Professor da Medway. Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com Residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Siga no Instagram: @djondamedway