Transtorno de personalidade histriônica: o que todo médico deve saber

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Fala, pessoal! Como anda tudo por aí? Esperamos que tudo vá bem. Hoje vamos falar da melhor especialidade médica: é isso mesmo, a psiquiatria! Todos preparados? Vamos falar sobre o transtorno de personalidade histriônica. Mas vamos ir do começo para não deixar ninguém aqui perdido. 

O que é um transtorno de personalidade?

O DSM-V define transtorno de personalidade como “um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo”. 

O que tiramos dessa definição é que raramente podemos diagnosticar um transtorno de personalidade na infância e que, como (quase) tudo no DSM-V, ele precisa acarretar prejuízo na vida do indivíduo e, para não ficar uma definição tão vaga, existem critérios que diagnosticam a presença de transtorno de personalidade:

  • padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Esse padrão se manifesta em 2 ou mais das seguinte áreas;
    • cognição (ex: formas de perceber e interpretar a si mesmo, outras pessoas e eventos);
    • afetividade (ex: variação, intensidade, labilidade e adequação da resposta emocional);
    • funcionamento pessoal;
    • controle de impulsos.
  • o padrão persistente é inflexível e abrange uma faixa ampla de situações pessoais e sociais;
  • o padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo e prejuízo do funcionamento social, profissional e/ou em outras áreas importante da vida do indivíduo;
  • o padrão é estável e de longa duração e seu surgimento ocorre pelo menos a partir da adolescência ou início da fase adulta;
  • o padrão persistente não é mais bem explicado por outra condição;
  • o padrão persistente não é atribuível aos efeitos fisiológicos do abuso de substância.

Além de definir dessa forma, o DSM-V classifica os transtornos de personalidade em 3 categorias (clusters) com base na semelhança comportamental entre os tipos. 

Cluster A 

Indivíduos que parecem “esquisitos” ou excêntricos:

  • transtorno de personalidade paranóide;
  • transtorno de personalidade esquizóide;
  • transtorno de personalidade esquizotípica.

Cluster B

Indivíduos que parecem dramáticos, emotivos ou erráticos:

  • transtorno de personalidade antissocial;
  • transtorno de personalidade histriônica;
  • transtorno de personalidade borderline;
  • transtorno de personalidade narcisista.

Cluster C

Indivíduos que parecem ansiosos ou medrosos:

  • transtorno de personalidade evitativa;
  • transtorno de personalidade dependente;
  • transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva.

Apesar da divisão apresentada, é frequente o mesmo paciente apresentar características de Clusters diferentes.

Transtorno de personalidade histriônica 

Medway adverte: aqui talvez muitos de vocês reconheçam um amigo, um parente ou até mesmo a si mesmos, mas vamos lembrar sobre o principal a respeito dos transtornos de personalidade. 

Ele deve trazer prejuízo funcional para a vida do indivíduo e, se isso não acontece, não podemos caracterizar como um transtorno de personalidade, talvez, no máximo, como um traço de personalidade, algo comum a todos nós. Isto posto, vamos começar. 

Como já citamos acima, a característica principal dos transtornos desse cluster é a dramaticidade e a emotividade e o histriônico não é diferente. Para entendermos melhor, vamos pensar naquele tipo “rei/rainha da festa”.

O que pensaremos sobre uma pessoa assim? Gosta de ter as atenções voltadas para si, é amigo de todos, está sempre bem arrumado de forma a chamar mais atenção e abraça todo mundo.

Bom, esse breve julgamento não passa muito longe do que temos de critérios do DSM-V para definir o transtorno de personalidade histriônica:

  • desconforto em situações em que não é o centro das atenções;
  • a interação com os outros é frequentemente caracterizada por comportamento sexualmente sedutor inadequado ou provocativo;
  • exibe mudanças rápidas e superficiais das emoções;
  • usa reiteradamente a aparência física para atrair atenção para si;
  • tem um estilo de discurso que é excessivamente impressionista e carente de detalhes;
  • mostra autodramatização, teatralidade e expressão exagerada de emoções;
  • é sugestionável;
  • considera as relações interpessoais mais íntimas do que realmente são.

Um detalhe pertinente na avaliação de um caso de provável transtorno de personalidade histriônica é entender o meio cultural do qual o indivíduo provém. 

Uma vez que, em algumas culturas, alguns gestos ou comportamentos podem ser mais normais ou exagerados do que em outras e o paciente está apenas tendo dificuldades em se encaixar socialmente. Neste caso, não há prejuízo funcional em seu dia a dia. 

O tratamento

O básico do tratamento de qualquer transtorno de personalidade é a psicoterapia, havendo necessidade ou não do uso de medicação.

Em caso de emergência, é importante avaliar o risco de auto ou hetero agressividade e/ou ideações suicidas. Na maioria das vezes, no pronto-socorro, um atendimento bem realizado associado a curto período de observação é suficiente para estabilização do quadro pontualmente, mas com necessidade de encaminhamento ambulatorial após. 

Por hoje é só!

Espero que vocês tenham gostado também da nossa série de posts sobre transtornos depressivos. Caso ainda haja qualquer dúvida, não hesite em perguntar, estaremos sempre abertos! Deixe seu comentário e estaremos por aqui.

Continuem estudando e nos encontramos em breve! Ah, e se quiser conferir mais conteúdos de Medicina de Emergência, dê uma passada na Academia Medway. Por lá, disponibilizamos diversos e-books e minicursos completamente gratuitos. 

Um abraço e até a próxima!

REFERÊNCIAS

  1. American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 (5a ed.; M. I. C. Nascimento, Trad.). Porto Alegre, RS: Artmed. 
  1. PARAVENTI, Felipe; CHAVES, Ana. Manual de psiquiatria clínica. 1. Ed. Rio de Janeiro: Editora Roca, 2019.

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BiancaBolonhezi

Bianca Bolonhezi

Bianca Bolonhezi. Nascida em São Paulo/SP em 1996, formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina do ABC em 2020. Apaixonada pelo comportamento humano e seus desdobramentos. Uma ávida leitora que, no meio de tantos livros, se encantou pela educação.