A traqueostomia é um procedimento cirúrgico, que consiste na criação de uma abertura na parede anterior da traqueia, com o objetivo de estabelecer uma via aérea direta entre o ambiente externo e o pulmão (mais especificamente, a árvore traqueobrônquica).
É uma intervenção comum em unidades de terapia intensiva, cirurgias de cabeça e pescoço, especialmente em pacientes com necessidade prolongada de suporte ventilatório.
Neste texto, vamos abordar os principais aspectos relacionados à traqueostomia, incluindo indicações, técnicas, contraindicações, vantagens, desvantagens e cuidados pós-operatórios. Vamos nessa?
A traqueostomia envolve a incisão da pele cervical anterior, dissecação dos planos cervicais e abertura da traqueia, geralmente entre o segundo e o quarto anel traqueal. Por essa abertura, é inserida uma cânula traqueal que permite ventilação eficiente e segura, desobstrução das vias aéreas ou retirada de secreções traqueobrônquicas.
As principais indicações da traqueostomia podem ser divididas em três grupos:
Aqui, vale pensar em todas as estruturas que estão mais cranialmente que a traqueia. A ideia da traqueostomia, neste tópico, seria fazer uma via aérea “para baixo” do ponto de obstrução de via aérea, para garantir passagem de ar e respiração adequada. Entre as causas:
Aqui a ideia principal é evitar complicações da intubação orotraqueal prolongada, como estenose traqueal ou lesão de pregas vocais.
Pacientes em UTI com necessidade de ventilação >7–10 dias são candidatos ao procedimento.
Aqui o foco são os pacientes que por não conseguirem proteger sozinhos suas vias aéreas entram em um risco aumentado de broncoaspiração de conteúdo alimentar, que pode produzir casos gravíssimos. A presença da traqueostomia diminui bastante esse risco de infecção pulmonar, por proteger as vias aéreas inferiores do conteúdo aspirado.
A traqueostomia pode oferecer diversas vantagens clínicas para pacientes em ventilação mecânica prolongada ou com risco de obstrução das vias aéreas. Além de melhorar a segurança ventilatória, o procedimento pode contribuir significativamente para o conforto e a qualidade de vida, especialmente em internações prolongadas.
Abaixo, listamos os principais benefícios da traqueostomia:
Apesar de seus benefícios, a traqueostomia não é isenta de riscos. As principais complicações incluem:
Não existem contraindicações absolutas para a traqueostomia quando indicada com urgência. Entretanto, algumas condições representam desafios técnicos:
A escolha da técnica utilizada para realizar a traqueostomia depende de fatores como a condição clínica do paciente, a urgência do procedimento, as características anatômicas cervicais e a experiência da equipe.
Existem dois principais métodos: a traqueostomia cirúrgica (aberta) e a traqueostomia percutânea. Cada um com indicações, vantagens e limitações específicas. Abaixo, explicamos as principais características de cada abordagem.
Para garantir a segurança do procedimento e minimizar riscos intraoperatórios e pós-operatórios, é fundamental que a equipe disponha de todos os materiais adequados, em ambiente preparado e com controle rigoroso de assepsia.
A lista a seguir reúne os principais instrumentos e equipamentos necessários para a realização da traqueostomia, seja em ambiente cirúrgico ou à beira do leito:
Os cuidados após a traqueostomia são fundamentais para evitar complicações e garantir a funcionalidade da via aérea:
A retirada da cânula de traqueostomia (decanulação) deve ser considerada quando:
O processo deve ser gradual, com acompanhamento multidisciplinar.
Em pacientes em cuidados paliativos ou com doenças neurológicas progressivas, a indicação de traqueostomia deve considerar a qualidade de vida e a autonomia do paciente. A decisão deve ser compartilhada com familiares e a equipe de saúde, respeitando diretrizes éticas e legais.
A traqueostomia é um procedimento fundamental no manejo de vias aéreas em diversas situações clínicas. Sua realização exige avaliação criteriosa das indicações, da técnica apropriada e dos cuidados pós-operatórios. Quando bem indicada e conduzida, pode melhorar significativamente a segurança ventilatória, o conforto do paciente e a evolução clínica. No entanto, deve ser sempre ponderada frente aos riscos e às condições clínicas individuais.
E aí, o que achou do conteúdo? No blog da Medway, você encontra conteúdos completos e atualizados. Acompanhe nossos artigos e fique por dentro das condutas, protocolos e estratégias que realmente caem na residência e na prática profissional!
Professor da Medway. Formado em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB), com residência em Cirurgia Geral e subespecialização em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).