Traqueostomia: indicações, benefícios, contraindicações, técnicas e mais!

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A traqueostomia é um procedimento cirúrgico, que consiste na criação de uma abertura na parede anterior da traqueia, com o objetivo de estabelecer uma via aérea direta entre o ambiente externo e o pulmão (mais especificamente, a árvore traqueobrônquica). 

É uma intervenção comum em unidades de terapia intensiva, cirurgias de cabeça e pescoço, especialmente em pacientes com necessidade prolongada de suporte ventilatório. 

Neste texto, vamos abordar os principais aspectos relacionados à traqueostomia, incluindo indicações, técnicas, contraindicações, vantagens, desvantagens e cuidados pós-operatórios. Vamos nessa? 

O que é a traqueostomia?

A traqueostomia envolve a incisão da pele cervical anterior, dissecação dos planos cervicais e abertura da traqueia, geralmente entre o segundo e o quarto anel traqueal. Por essa abertura, é inserida uma cânula traqueal que permite ventilação eficiente e segura, desobstrução das vias aéreas ou retirada de secreções traqueobrônquicas.

Indicações

As principais indicações da traqueostomia podem ser divididas em três grupos:

1 – Obstrução de vias aéreas superiores

Aqui, vale pensar em todas as estruturas que estão mais cranialmente que a traqueia. A ideia da traqueostomia, neste tópico, seria fazer uma via aérea “para baixo” do ponto de obstrução de via aérea, para garantir passagem de ar e respiração adequada. Entre as causas:

  • Tumores de orofaringe, hipofaringe ou laringe
  • Estenose subglótica ou laringotraqueal
  • Edema laríngeo grave (anafilaxia, infecção ou trauma)
  • Paralisia bilateral de cordas vocais

2 – Ventilação mecânica prolongada

Aqui a ideia principal é evitar complicações da intubação orotraqueal prolongada, como estenose traqueal ou lesão de pregas vocais.

Pacientes em UTI com necessidade de ventilação >7–10 dias são candidatos ao procedimento.

3 – Facilitação da higiene brônquica e proteção de via aérea

Aqui o foco são os pacientes que por não conseguirem proteger sozinhos suas vias aéreas entram em um risco aumentado de broncoaspiração de conteúdo alimentar, que pode produzir casos gravíssimos. A presença da traqueostomia diminui bastante esse risco de infecção pulmonar, por proteger as vias aéreas inferiores do conteúdo aspirado.

  • Pacientes neurológicos com reflexo de tosse ineficaz
  • Doenças neuromusculares (ex: esclerose lateral amiotrófica)

Vantagens da traqueostomia

A traqueostomia pode oferecer diversas vantagens clínicas para pacientes em ventilação mecânica prolongada ou com risco de obstrução das vias aéreas. Além de melhorar a segurança ventilatória, o procedimento pode contribuir significativamente para o conforto e a qualidade de vida, especialmente em internações prolongadas. 

Abaixo, listamos os principais benefícios da traqueostomia:

  • Redução da resistência das vias aéreas: facilita a ventilação
  • Melhora no conforto do paciente: permite comunicação e deglutição em alguns casos
  • Facilidade de desmame da ventilação mecânica
  • Redução de risco de lesões laringotraqueais comparado à intubação prolongada
  • Melhora na higiene brônquica: facilita aspiração de secreções

Desvantagens e complicações

Apesar de seus benefícios, a traqueostomia não é isenta de riscos. As principais complicações incluem:

  • Sangramento (intraoperatório ou tardio)
  • Infecção local
  • Fístula traqueoesofágica
  • Estenose traqueal
  • Falso trajeto ou deslocamento da cânula
  • Pneumotórax e enfisema subcutâneo
  • Obstrução da cânula por secreções
  • Prejuízo social, especialmente por dificuldade de manejo e ausência de possibilidade de fala (apesar de haver algumas traqueostomias com mecanismos que permitem que o paciente fale).

Contraindicações

Não existem contraindicações absolutas para a traqueostomia quando indicada com urgência. Entretanto, algumas condições representam desafios técnicos:

  • Anomalias anatômicas cervicais
  • Coagulopatias não corrigidas
  • Infecção local extensa
  • Obesidade grave (dificulta identificação de marcos anatômicos)

Técnicas de traqueostomia

A escolha da técnica utilizada para realizar a traqueostomia depende de fatores como a condição clínica do paciente, a urgência do procedimento, as características anatômicas cervicais e a experiência da equipe. 

Existem dois principais métodos: a traqueostomia cirúrgica (aberta) e a traqueostomia percutânea. Cada um com indicações, vantagens e limitações específicas. Abaixo, explicamos as principais características de cada abordagem.

1. Traqueostomia cirúrgica (aberta)

  • Realizada em centro cirúrgico ou leito hospitalar
  • Técnica tradicional: incisão em pele (que pode ser tanto em posição vertical quanto horizontal), dissecção por planos e abertura direta da traqueia
  • Mais segura em casos com anatomia alterada ou necessidade de exposição direta

2. Traqueostomia percutânea

  • Técnica minimamente invasiva, geralmente realizada à beira do leito sob sedação e controle por broncoscopia (ou até mesmo ultrassonografia, apesar de menos usada)
  • Utiliza dilatadores progressivos ou kits específico.
  • Contraindicada em casos de emergência ou anatomia desfavorável

Instrumentos e equipamentos necessários

Para garantir a segurança do procedimento e minimizar riscos intraoperatórios e pós-operatórios, é fundamental que a equipe disponha de todos os materiais adequados, em ambiente preparado e com controle rigoroso de assepsia. 

A lista a seguir reúne os principais instrumentos e equipamentos necessários para a realização da traqueostomia, seja em ambiente cirúrgico ou à beira do leito:

  • Campo estéril e materiais cirúrgicos (pinças, bisturi, afastadores)
  • Aspirador cirúrgico
  • Cânula de traqueostomia (tamanhos variados)
  • Sondas de aspiração
  • Equipamentos de ventilação (ambu ou respirador)
  • Monitorização cardiorrespiratória
  • Broncoscópio (para técnicas percutâneas)

Cuidados pós-operatórios

Os cuidados após a traqueostomia são fundamentais para evitar complicações e garantir a funcionalidade da via aérea:

  • Aspiração regular de secreções
  • Higiene local da ferida para evitar infecções
  • Hidratação adequada do ar inalado
  • Cuidado com o balonete (cuff): pressão adequada evita lesões traqueais
  • Treinamento da equipe de enfermagem e fisioterapia respiratória
  • Monitoramento da possibilidade de decanulação

Decanulação

A retirada da cânula de traqueostomia (decanulação) deve ser considerada quando:

  • O paciente apresenta respiração espontânea adequada
  • Tosse eficaz
  • Ausência de obstrução de vias aéreas superiores
  • Controle de secreções
  • Nível de consciência suficiente

O processo deve ser gradual, com acompanhamento multidisciplinar.

Aspectos éticos e paliativos

Em pacientes em cuidados paliativos ou com doenças neurológicas progressivas, a indicação de traqueostomia deve considerar a qualidade de vida e a autonomia do paciente. A decisão deve ser compartilhada com familiares e a equipe de saúde, respeitando diretrizes éticas e legais.

Conclusão

A traqueostomia é um procedimento fundamental no manejo de vias aéreas em diversas situações clínicas. Sua realização exige avaliação criteriosa das indicações, da técnica apropriada e dos cuidados pós-operatórios. Quando bem indicada e conduzida, pode melhorar significativamente a segurança ventilatória, o conforto do paciente e a evolução clínica. No entanto, deve ser sempre ponderada frente aos riscos e às condições clínicas individuais.

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Arthur Arabi

Arthur Arabi

Professor da Medway. Formado em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB), com residência em Cirurgia Geral e subespecialização em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).