Tratamento da osteomielite: tudo que você precisa saber

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Fala, pessoal? Tudo bem por aí? Hoje vamos falar um pouco a respeito do tratamento da osteomielite. Tratar essa condição não é nada fácil. Isso se deve, principalmente, ao fato da maioria dos antibióticos ter penetração ruim no tecido ósseo. 

Consequentemente, o tempo de tratamento é bem longo (de meses) que, boa parte das vezes, precisa ser feito endovenoso (mais para frente vamos discutir alguns dados novos sobre isso).

O fato é que muitas vezes o paciente precisa ficar internado por esse tempo todo. Opções como home care e infusão de antibiótico via hospital dia, infelizmente, não estão sempre disponíveis. E isso agrega muito em morbidade para o doente, pois este último acaba ficando sob o risco de novas infecções hospitalares. Outra questão importante é o custo, pois essa internação prolongada acaba onerando muito o sistema de saúde.

A primeira coisa que vocês precisam ter em mente é que o tratamento deve ser, sempre que possível, guiado por cultura, a qual deve ser garantida, seja por biópsia óssea ou pelo crescimento em hemocultura (associado a um quadro clínico e radiológico típico). Ela é imprescindível. Imagine só: tratar uma infecção, manter o paciente internado por 6 meses e descobrir que o antibiótico utilizado não cobria o germe… já deu para ver a importância, né?

Outro fato que é importante saber é que, na maioria das vezes, não é uma urgência iniciar o antibiótico. Nos casos agudos, o paciente pode estar toxemiado e evoluir até para sepse. Se isso acontecer, é preciso tratamento empírico; no entanto, muitas vezes, nos deparamos com um quadro arrastado de semanas a meses. Ter pressa não é necessário, pois é possível aguardar a cultura e direcionar esse tratamento.

Como iniciar o tratamento empírico da osteomielite

Quando indicado, podemos começar com antibiótico guiado para os principais germes. O esquema que sugerimos é o seguinte:

Osteomielite aguda hematogênicaIV: oxacilina 2 g IV 4 em 4 horas + gentamicina 240 mg IV 1 vez ao diaVO: guiado por culturas2 semanas IV, seguido de 4 semanas VO
Osteomielite crônicaClindamicina 600 mg 6 em 6 horas + ciprofloxacino 400 mg 12 em 12 horas por 3 a 6 meses, sendo IV durante a internação e VO após a alta, guiado por cultura
Infecções pós cirurgia ortopédicaTeicoplanina 400 mg IV 12 em 12 horas nos primeiros 2 dias, seguido de 1 vez ao dia + amicacina 500 mg IV 12 em 12 horasPor tempo indefinido, conforme a evolução clínica

Papel da cirurgia no tratamento da osteomielite 

O desbridamento cirúrgico é fundamental! Na maioria dos casos, é feito primeiro o desbridamento cirúrgico, com coleta de material para cultura, seguida da antibioticoterapia. 

Se há prótese, deve sempre ser avaliada com cautela a necessidade de retirá-la. É importante colocar na balança a importância dessa prótese para manter a estabilidade articular e o risco de propagação da infecção caso ela seja mantida. Devemos lembrar, também, que ocorre a formação de biofilme nas próteses.

Existe a possibilidade de tratamento via oral?

Existe, sim! Ao menos, parcialmente. Um estudo de não inferioridade, publicado em 2019, (o OVIVA trial) conseguiu demonstrar que a estratégia de antibioticoterapia endovenosa por 7 dias, seguida de 4 semanas por via oral, não foi inferior ao tratamento exclusivo por via endovenosa. Além disso, foi associado à melhor aderência ao tratamento e menos efeitos colaterais graves. 

Primeira imagem ilustrativa atrelada ao tema da osteomielite. Confira!
A osteomielite pode ser tratada via oral?

Alguns grupos foram excluídos do estudo, como pacientes com outras infecções concomitantes e sinais de sepse, portanto, vale avaliar cada caso com calma e individualizar. Mas fica como uma boa possibilidade iniciar o tratamento endovenoso e, depois disso, guiado por cultura, mantê-lo por via oral.

E aí, curtiram aprender um pouco mais sobre osteomielite? Aqui sugerimos um esquema de tratamento empírico. No entanto, as mensagens que ficam são:

  • Quase sempre é necessário o debridamento cirúrgico;
  • Corra atrás de uma cultura e antibiograma para guiar seu tratamento;
  • Avalie a possibilidade de completá-lo por via oral.

É isso!

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 Referências:

  1. Grupo e Subcomissões de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital das Clínicas – FMUSP. Tratamento de infecções. In: Guia de utilização de anti-infecciosos e recomendações à assistência à saúde. 7ª ed. São Paulo; 2018-2020. p. 71.
  2. Osmon DR, Tande AJ. Nonvertebral osteomyelitis in adults: Treatment. Uptodate; 2021.
  3. Peel T, McDonald M. Vertebral osteomyelitis and discitis in adults. Uptodate; 2021.
  4. Schimitt SK. Osteomyelitis associated with open fractures in adults. Uptodate; 2021.
  5. Bejon PA, et al.. The OVIVA trial. The Lancet; 2019.

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IsabelaCarvalhinho Carlos de Souza

Isabela Carvalhinho Carlos de Souza

Capixaba de Vitória, nascida em 1995. Formada pela Escola de Medicina da Santa Casa de Misericória (EMESCAM) de Vitória em 2018. Formada em Clínica Médica pelo HC FMUSP de São Paulo.