O que é urticária: saiba tudo sobre essa doença

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Você sabe o que é urticária? Esta dermatose imunológica é muito falada, mas pouco conhecida. Por ser tratada como um empolamento na derme que coça e quase sempre está relacionado à anafilaxia, ela é subdiagnosticada e tratada de forma incorreta.

A seguir, para desmistificar a urticária, explicaremos os principais pontos sobre os aspectos imunológicos, as causas, a classificação e o tratamento. Continue a leitura para saber mais!

O que é urticária?

A urticária é uma dermatose imunológica muito comum que acomete todas as faixas etárias e tem incidência entre 15 a 25% da população. A prevalência nas crianças gira em torno de 7%, podendo atingir a marca de 17% quando está atrelada com a dermatite atópica.

Reconhecemos a urticária como uma placa eritematosa de intenso prurido, podendo estar associada, ou não, ao angioedema (raramente ocorre sem a lesão de pele). De acordo com as características, ela pode ser classificada em:

  • urticária aguda: quando presente em menos de seis semanas;
  • urticária crônica: quando presente por seis semanas ou mais.

Utiliza-se a marca de seis semanas, pois esse é o tempo em que uma urticária (das mais diversas naturezas) costuma desaparecer espontaneamente. No geral, mais de ⅔ dos casos se caracterizam como autolimitados.

Causas da urticária

Agora que você já sabe o que é urticária e quais são as classificações, é hora de aprender sobre a base da fisiopatologia da doença. Ela é importante para a compreensão das possíveis reações do organismo.

Essa dermatose é mediada pelos mastócitos cutâneos da superfície da derme (os basófilos também foram encontrados em biópsias de pele). Ambas as células são ativadas e liberam inúmeros mediadores, entre eles, a histamina (que causa a vermelhidão e o prurido) e os mediadores de vasodilatação. 

Os dois processos também estão envolvidos no angioedema. Você sabe o que causa essa ativação celular? As principais causas da urticária estão na tabela a seguir!

1. Infecciosa
Viral, parasitária e bacteriana
2. IgE Mediada
Medicação, inseto, alimento, hemocomponentes, látex, aeroalérgeno e conservantes
3. Ativação direta de Mastócitos
Narcóticos, opiáceos, relaxante muscular, vancomicina e contrastes
4. Estimulação Física
Dermatografismo, solar, frio, aquagênica, vibratória e colinérgica
5. Miscelânea
AINE, doença do soro, progesterona, outras reações transfusionais não IgE Mediada
No quadro: principais causas da urticária
Lesão de anafilaxia, que ocorre quando a urticária atinge outros sistemas.
Na imagem: anafilaxia

Reações da urticária

A urticária aguda se desenvolve durante ou após a infecção viral/bacteriana, principalmente, em crianças, sendo responsável por 80% dos casos agudos. A patogênese ainda é desconhecida e pode acontecer na fase prodrômica de infecção pelo HIV, hepatite A e B.  

As reações de hipersensibilidade imediata ou do tipo 1 são IgE Mediadas e estão muito associadas com o desenvolvimento da urticária. Após a exposição ao alérgeno, elas aparecem de minutos até duas horas. Essas reações podem se limitar à pele ou atingir vários sistemas, caracterizando uma anafilaxia

A lesão é circunscrita, elevada, com placa eritematosa e um centro mais pálido. Ela é transitória, com prurido intenso, surgindo em minutos, desaparecendo em horas e reaparecendo em outros locais. O formato pode ser oval, arredondado e serpiginoso, com tamanhos variados (maiores ou iguais a um centímetro). 

Entre as patologias mais comuns, estão:

  • urticária vasculite;
  • mastocitose;
  • doenças autoimunes (LES, AIJ/AR, síndrome de Sjogren, tireoidite, doença celíaca, etc);
  • vasculite de pequenos vasos;
  • malignidade (paraproteinemia, IgM e IgG).
Lesão de anafilaxia, que ocorre quando a urticária atinge outros sistemas.
Na imagem: anafilaxia

Como o diagnóstico é feito?

Mais que saber o que é urticária, é necessário identificá-la. O diagnóstico é feito com uma história clínica detalhada e um bom exame físico dermatológico. Na história, não esqueça de perguntar se:

  • os episódios são isolados ou associados a manifestações sistêmicas;
  • houve recorrência de anafilaxia;
  • há infecção vigente ou infecção recente;
  • houve ou há uso de medicações e/ou alimentos consumidos recentemente;
  • o paciente apresentou alguma vez urticária no passado e por quanto tempo durou. 

Exames necessários

Para pacientes com novo episódio de urticária na pele, cuja história e exame físico não apontem para desordem sistêmica e/ou causas secundárias, não há necessidade de solicitar outro exame laboratorial. 

A solicitação é necessária quando a urticária dura mais de 24h e está associada a: dor, pouco prurido, edema, púrpura, equimose, artrite, febre, perda de peso, artralgia, dor óssea, linfadenopatia. 

Os exames indicados para urticária crônica ou que apresenta sintomas que indicam desordem sistêmica são:

  • hemograma completo e VHS;
  • dosagem de imunoglobulinas (IgG, IgM, IgA e IgE total) e complemento;
  • FAN;
  • testes para função renal e hepática (TSH, T4 livre, anti-TPO e anti-Tg); 
  • Urina 1 e PPF. 
Citamos muito desordens sistêmicas, mas quando pensar nelas? Quando a urticária durar mais de 24h
Na imagem: desordem sistêmica

Tratamentos para urticária aguda

Entender o que é urticária não é difícil, mas separar os tratamentos é uma tarefa mais complexa. Como a urticária aguda é uma doença autolimitada, o tratamento requer poucos medicamentos, além dos anti-histamínicos. Quando se retira o fator desencadeante, a lesão desaparece. 

Em caso de lesão de pele e/ou angioedema associada à manifestação gastrointestinal, respiratória ou cardiovascular, considere a hipótese de anafilaxia e uso de adrenalina IM imediatamente.

Os anti-histamínicos H1 são os fármacos de eleição para manifestação exclusivamente cutânea. A difenidramina ainda representa o anti-H1 mais eficaz, pois pode ser administrada via oral, IM e endovenosa. 

A hidroxizina também é uma boa alternativa no tratamento dos casos agudos. Ambos são bloqueadores H1 de primeira geração, considerados sedantes. Os bloqueadores H1 de segunda geração, ou não sedantes, devem ser utilizados quando o tratamento for necessário por alguns dias ou meses.

Tratamento para urticária crônica

A base do tratamento consiste na retirada do fator desencadeante, dos fatores provocadores, da inibição da liberação dos mediadores pelos mastócitos e no tratamento da doença de base. 

Se o fator for um fármaco, tente retirá-lo da rotina do paciente ou trocar a classe de medicamento. Se for um processo infeccioso, trate-o. Caso seja uma reação a algum alimento, os causadores devem ser excluídos da dieta. 

Como a maioria dos sintomas de urticária crônica é mediada por H1, a opção terapêutica de escolha são os anti-H1 de segunda geração. Os anti-H2 podem ser associados caso o controle com anti-H1 não seja eficaz. Os anti-histamínicos devem ser utilizados na dose padrão até o controle dos sintomas, mantendo a medicação entre três e seis meses. 

Caso os sintomas não estejam bem controlados, a dose pode ser quadruplicada na segunda tentativa. Caso não surta efeito, outras alternativas são os imunomoduladores (ciclosporina A) ou a terapia anti-IgE.

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GuilhermeGarcia

Guilherme Garcia

Nascido em 1993 na cidade de São Paulo, médico formado pela Universidade São Francisco, em Bragança Paulista, 2018. Residência médica em Pediatria pela Faculdade de Ciências Médicas UNICAMP. Apaixonado por ensinar e descomplicar o complicado. “O conhecimento lhe dará a oportunidade de fazer a diferença.