Varíola do macaco (monkeypox): o que já sabemos

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Apesar de estar em evidência nos últimos tempos, a varíola do macaco (monkeypox) já está presente há muitas décadas e ainda gera várias preocupações, principalmente sobre a transmissão.

Se você quer saber tudo sobre a varíola do macaco, basta continuar a leitura. Assim, você fica por dentro das principais manifestações clínicas, sintomas, tratamentos e outras informações importantes.

Como a varíola do macaco surgiu?

Embora faça parte do nome, o macaco não se relaciona ao ciclo de transmissão da doença da varíola do macaco para o ser humano. O animal é hospedeiro incidental no ciclo reprodutivo do vírus.

A varíola do macaco ocorre por causa de um vírus do gênero Orthopoxvirus, o mesmo da varíola e vaccinia. Ele foi descoberto em 1958, em uma colônia de macacos doentes em um laboratório na Dinamarca, recebendo a nomenclatura monkeypox.

Mais tarde, percebeu-se que o vírus havia sido importado de roedores de espécies africanas e o reservatório natural era o prairie-dog (cão-da-pradaria), um tipo de esquilo comum na África Central.

Por mais que você tenha ouvido falar sobre esse assunto, os relatos de infecção em humanos começaram a chamar mais atenção agora. Desde 1970, existem relatos de casos em que o vírus foi isolado em humanos.

Do primeiro caso ocorrido na República do Congo até 1980, foram 59 relatos dessa doença, todos endêmicos na África e contidos longe de países do ocidente devido à ampla vacinação contra a varíola da época.

Vacina da varíola

A vacina da varíola, fabricada por meio do vírus vaccinia, também Orthopoxvirus, foi incentivada na campanha global da OMS de 1958-1977. Infecções por vaccinia são brandas e causam a doença não letal pustular localizada, ao passo que infecções por varíola em não vacinados podem ser sequelantes e, às vezes, letal.

De acordo com a OMS, acredita-se que a existência da vacinação que erradicou a varíola em 1980 protegeu as pessoas de infecção contra monkeypox todos esses anos, poupando a doença nos países ocidentais.

Por conta da erradicação, a campanha de vacina foi tida como um sucesso e interrompida depois da década de 80. Hoje, o silêncio endêmico da infecção na África rompe o continente, e o hiato vacinal é debatido.

Transmissão do animal e transmissão humana

Em 2003, pela primeira vez na história da doença monkeypox, ocorreram casos de infecção em humanos longe do continente africano. As infecções foram identificadas em Illinois, nos Estados Unidos e, posteriormente, em outros estados americanos, onde o contato de humanos com a mordida ou a saliva do roedor de laboratório estava causando infecções semelhantes à varíola.

As rotas de infecção dos surtos foram identificadas como de roedores usados para experimento animal, vindos de Gana, na África. O contato dos funcionários com gaiolas contaminadas ou animais infectados seriam a via de contaminação.

Em geral, a infectividade de pessoa para pessoa com o monkeypox sempre foi considerada baixa. No entanto, desde maio de 2022, autoridades sanitárias reveem esse conceito devido ao cluster de casos vistos em Portugal e Reino Unido com alto risco de transmissão de pessoa para pessoa.

O primeiro caso no Reino Unido aconteceu em 7 de maio de 2022, identificado em uma pessoa com histórico de viagem para a Nigéria. No entanto, uma semana depois, 6 novos casos surgiram sem histórico recente de viagem à região endêmica ou contato íntimo com a pessoa infectada.

Veículos de transmissão

Acredita-se que o principal meio de transmissão da varíola do macaco de pessoa para pessoa seja perdigoto (gotículas respiratórias maiores), contato íntimo com o infectado ou contato com material de lesão de pele.

Para a transmissão por perdigoto, por exemplo, é preciso um contato próximo (até dois metros de distância) e pelo menos três horas sem uso de máscaras (EPI). Apesar de uma prevalência maior em casos novos descobertos em homens que fazem sexo com homens, ainda não se sabe ao certo a real conexão do contato sexual com a via de transmissão.

Acredita-se que a maior prevalência de casos identificados em homens que fazem sexo com homens se dá pelo contato íntimo da pessoa infectada com o indivíduo. Isso tudo chama atenção para a variabilidade de tempo de incubação da doença da varíola do macaco nos diferentes relatos de caso, que pode variar de 5 até 21 dias de incubação.

Esse longo período assintomático é preocupante, pois facilita a circulação de pessoas de um país para o outro sem erigir a suspeita de infecção do vírus até a manifestação dos primeiros sintomas da varíola do macaco, que geralmente ocorre longe da origem.

Manifestações clínicas da varíola do macaco

As principais séries epidemiológicas de manifestações clínicas são africanas, dada a maior prevalência de casos no continente. Em geral, as manifestações clínicas são brandas e incluem:

  • rash maculopapular que evolui para vesículas/pústulas e crostas (97%);
  • febre (85%);
  • linfadenopatia (71%);
  • cefaleia e mialgia (65%).

A típica apresentação clínica se dá por um episódio febril, com aparecimento de lesões de pele de um a três dias após início da febre. As lesões evoluem de máculo-pápulas para vesículas, seguidas de pústulas e convalescença das lesões em crostas.

A duração dos sintomas é de até 14 dias, período vesicular e de maior infectividade. Em geral, após a apresentação crostosa da lesão de pele, a transmissibilidade da doença diminui consideravelmente. Já o pior desfecho, morte, tem a prevalência em casos africanos de 10%.

  • enantema e máculas – de 1 a 2 dias: as primeiras lesões aparecem na língua e na boca, seguidas de rash maculopapular de início em face com evolução para extremidades (distribuição centrífuga);
  • pápulas – de 1 a 2 dias: no 3º dia, a lesão vai de achatada para elevada;
  • vesículas – de 1 a 2 dias: no 4º dia, a lesão se preenche de conteúdo líquido claro;
  • pústulas – de 5 a 7 dias: no 6º ou 7º dia, as lesões de pele se preenchem com um líquido opaco, ficam arredondadas e firmes, evoluindo com uma umbilicação (depressão no centro), durando até 7 dias;
  • crostas – de 7 a 14 dias: na 2ª semana de evolução, as pústulas transformam-se em crostas e tendem a descamar em 7 dias.

Prevenção e tratamento da varíola de macaco

Existem várias etapas para prevenção da doença e do alastramento dos casos. O primeiro é evitar contato próximo com animais em potencial fonte para reservatórios do monkeypox, como roedores silvestres, principalmente oriundos de regiões endêmicas.

Em casos de atendimento à pessoa suspeita, utilização de máscaras (EPI) e lavagem de mãos podem prevenir o contágio por contato ou perdigoto. Atualmente, de acordo com o CDC americano, a investigação de casos segue a classificação:

  • caso possível: vínculo epidemiológico + febre ou rash cutâneo + desenvolvimento de sinais e sintomas em até 21 dias;
  • caso provável: vínculo epidemiológico e rash cutâneo com ou sem febre + desenvolvimento de sinais e sintomas em até 21 dias + IgM para Orthopoxvirus positivo de 4 a 56 dias após o rash;
  • caso confirmado: caso possível com teste PCR-DNA para Orthopoxvirus ou monkeypox positivo.

No momento, não existe evidência clara e robusta para tratamento específico do monkeypox. Vacina da varíola, cidofovir, ST-246 (Tecovirimat) e imunoglobulinas específicas de vaccinia são testados como métodos de tratamento da varíola do macaco.

Varíola do macaco nas provas de residência médica

O isolamento de casos suspeitos dura até a resolução de todas as lesões pustulares para a forma crostosa da pele, processo que, geralmente, leva de 7 a 14 dias. Portanto, o isolamento é um critério que precisa de avaliação clínica, não simplesmente temporal.

Saber a evolução da lesão dermatológica pode ajudar nas questões de prova de residência médica, uma vez que, até o momento de escrita deste artigo, não existem critérios estabelecidos para vacinação de bloqueio de surtos como para outras infecções, como o sarampo.

Esse paralelo entre sarampo e monkeypox pode gerar muitos comparativos e confusão. Para o aluno, vale a pena relembrar os tempos para realização de vacinação de bloqueio do sarampo, além da indicação para aqueles que necessitam de imunoglobulina ou sinal de Koplik.

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YvesFumio Shinzato

Yves Fumio Shinzato

Médico de Família e Comunidade formado pela Faculdade de Medicina do Hospital Israelita Brasileiro Albert Einstein. Paixão pelo Ensino. Adora topar desafios e puzzles.