Residência Médica no Brasil: entenda o aumento de médicos residentes no Nordeste e Centro-Oeste​

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Nos últimos anos, o cenário da residência médica no Brasil tem passado por muitas transformações. Tradicionalmente, a maior parte das vagas para médicos residentes se concentrava nas regiões Sudeste e Sul, refletindo a centralização histórica da oferta de especialização médica no país.

Porém, segundo o estudo mais recente da Demografia Médica no Brasil, publicado pela Faculdade de Medicina da USP, houve um crescimento expressivo no número de médicos residentes no Nordeste e Centro-Oeste.

Esse fenômeno aponta para uma descentralização gradual da formação especializada no país, um avanço que pode influenciar positivamente o acesso à saúde em diferentes estados.

Mas o que está por trás desse crescimento? Quais os impactos e desafios dessa mudança? Leia nosso artigo e veja as respostas a essas perguntas. Vamos entender melhor os dados e suas implicações.

Panorama atual da residência médica no Brasil

O Brasil tem, atualmente, um total de 47,7 mil médicos cursando residência médica em diversas especialidades. Esse número representa cerca de 8% do total de médicos do país, sendo que 19,5 mil ingressaram na residência médica em 2024 (médicos residentes de primeiro ano, R1).

Apesar desse avanço, a distribuição de médicos residentes ainda é se mostra bastante desigual. De acordo com os dados do estudo:

  • 49,5% dos programas de residência médica estão no Sudeste;
  • 19,4% estão na região Sul;
  • 18,5% no Nordeste;
  • 8,5% no Centro-Oeste;
  • apenas 4,2% no Norte.

Outro dado relevante é que São Paulo concentra quase um terço dos médicos residentes do país. Além disso, 20% das vagas de RM estão ociosas, demonstrando um problema de ocupação e acesso às oportunidades de especialização.

A expansão da residência médica no Brasil também acompanha o aumento das faculdades de Medicina, que cresceram de forma expressiva na última década. Isso gera uma demanda crescente por vagas de especialização, reforçando a necessidade de descentralização.

Expansão nas regiões Centro-Oeste e Nordeste

Mesmo com essa distribuição inconstante, os dados revelam um crescimento elevado na oferta de vagas e programas de residência médica no Nordeste e Centro-Oeste entre 2018 e 2024.

Segundo o estudo, o número de médicos residentes nessas regiões aumentou em torno de 33,4% no Nordeste e 30,9% no Centro-Oeste.

Fatores que impulsionaram essa mudança

Esse crescimento não aconteceu por acaso. Algumas das principais razões para esse avanço incluem:

  • políticas públicas voltadas para a desconcentração da formação médica, como o programa “Mais Acesso a Especialistas”, que incentivou a criação de novas vagas fora do eixo sul-sudeste;
  • investimentos em hospitais e universidades públicas nessas regiões, o que aumentou a capacidade de oferta de RM;
  • abertura de novas escolas médicas, que criaram demanda para mais vagas de especialização;
  • expansão da rede do SUS no interior do país, estimulando a necessidade de especialistas em regiões que sempre apresentaram carência ao longo da história;
  • incentivos financeiros para médicos que escolhem atuar fora dos grandes centros urbanos, atraindo mais profissionais para esses lugares.

Esses fatores levaram a um avanço na presença de médicos residentes além dos grandes centros urbanos, um passo importante para a melhoria da saúde pública em diversas localidades.

Impacto na assistência à saúde

O aumento de médicos residentes nas regiões Nordeste e Centro-Oeste tem um efeito direto na melhoria da assistência médica para a população. Entre os impactos mais relevantes, podemos destacar:

  • ampliação do atendimento à população: a presença de mais médicos residentes nas regiões interioranas aumenta a disponibilidade de consultas e tratamentos especializados;
  • atualização das práticas médicas: a residência médica é um treinamento intensivo que permite aos profissionais aperfeiçoarem técnicas e conhecimentos, melhorando a qualidade dos serviços de saúde;
  • redução da carência de especialistas: estados que antes tinham poucas vagas para determinadas especialidades agora começam a formar seus próprios profissionais, reduzindo a necessidade de importação de médicos de outras regiões;
  • fortalecimento do SUS: como a maioria das residências médicas ocorre em hospitais públicos e universitários, essa descentralização fortalece o Sistema Único de Saúde, promovendo melhor atendimento à população;
  • menor necessidade de deslocamento de pacientes: com a formação de especialistas em diferentes estados, menos pacientes precisarão viajar para capitais ou outras regiões em busca de assistência.

Esse crescimento é um grande avanço, mas persistem desafios a serem enfrentados para garantir que essas mudanças se mantenham no longo prazo.

Desafios e perspectivas futuras

Apesar dessa progressão, a residência médica no Brasil ainda reúne muitos problemas, especialmente na distribuição das vagas.

O estudo aponta que muitos estados do Norte e Nordeste têm menos de 10 médicos residentes por 100.000 habitantes, enquanto no Sudeste essa razão ultrapassa 29 por 100.000. Podemos listar, como principais desafios, os seguintes:

  • baixa adesão em algumas especialidades: algumas áreas, como Cirurgia Oncológica e Radioterapia, tiveram redução no número de vagas;
  • falta de infraestrutura em algumas cidades: nem todos os hospitais e universidades estão preparados para oferecer uma formação de qualidade aos residentes;
  • dificuldades na fixação dos médicos: muitos profissionais preferem retornar às capitais depois da conclusão da RM;
  • desigualdade na oferta de preceptores: algumas localidades carecem de profissionais experientes para supervisionar a formação dos médicos que estão cursando alguma especialidade;
  • dificuldade no financiamento sustentável das bolsas: o valor da bolsa de residência médica no Brasil ainda é considerado baixo para a carga horária ocorrida, e sua manutenção depende de recursos públicos que podem sofrer cortes ou atrasos.

O que esperar para o futuro?

A tendência é que mais políticas públicas incentivem a expansão da residência médica para o interior do Brasil. Programas de incentivo financeiro, melhores condições de trabalho e ampliação da infraestrutura hospitalar são algumas das soluções possíveis para consolidar essa mudança.

A descentralização dos programas de residência médica é um passo importante para a promoção de um sistema de saúde mais equilibrado e acessível para toda a população.

A residência médica no Brasil tem passado por uma transformação importante, com um aumento considerável de médicos residentes nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. Embora a distribuição ainda seja desigual, essa mudança representa um avanço na formação médica e no acesso à saúde em diversas partes do país.Se você está se preparando para a residência médica e quer se destacar nas provas, não perca a oportunidade de testar gratuitamente os Extensivos da Medway! Entre os destaques desses cursos, está a Inteligência Artificial da Medway: o MedBrain. Que tal não perder tempo e conferir?

Adriana Cristina Viesti

Adriana Cristina Viesti

Professora da Medway. Formada pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), com Residência em Pediatria pelo Hospital do Tatuapé e pós-graduação pelo Hospital Albert Einstein (HIAE) - docência e preceptoria médica. Siga no Instagram: @dri.medway